Pane na Amazon gera transtornos em restaurantes e atrasos para entregas de iFood e Mercado Livre

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O empresário Daniel Damasceno, 49, dono da Frutifica, uma fábrica de marmitas congeladas na zona oeste de São Paulo, não conhece ninguém da AWS (Amazon Web Services), a plataforma de serviços de computação em nuvem controlada pelo grupo do bilionário americano Jeff Bezos.

Mas a AWS é fornecedora de soluções da plataforma de ecommerce Loja Integrada e do sistema de gestão Bling, ambos fornecedores da Frutifica, que viu seus negócios serem impactados nesta segunda-feira (20) graças a uma pane global no serviço de nuvem.

“Vamos ter muitos problemas nesta terça-feira por conta dessa interrupção”, diz Damasceno, que depende fundamentalmente da internet para vender 170 e 200 marmitas por dia.

O dano poderia ter sido ainda pior se o diretor de marketing da Frutifica, Gustavo Crivelari, não tivesse tomado a iniciativa de imprimir a lista de pedidos desta segunda-feira. “Por volta das 10h30, percebemos uma instabilidade no sistema, que achamos que seria momentânea. Por via das dúvidas resolvemos imprimir os pedidos que já estavam previstos para hoje”, afirma Crivelari.

Se ele não tivesse a lista, teria que amargar um prejuízo por volta de R$ 80 mil, valor das marmitas vendidas no dia. Por volta das 20h da segunda, o sistema se estabilizou e Crivelari contabilizava 200 pedidos a serem entregues na terça. “Vamos entrar em contato um por um para saber quem já pagou ou quem vai pagar na hora, já que muitos usam vale-refeição e vale-alimentação”, afirma.

A empresa passou o dia sem as ferramentas de gerenciador de tarefas, de rastreio de pedidos e de ERP (software que integra áreas como finanças, estoque e vendas) e ficou ‘no escuro’ sem saber quem tinha feito o pedido, qual foi a encomenda e a data da entrega, além de não conseguir visualizar as encomendas pedidas para terça.

Com faturamento anual em torno de R$ 12 milhões, a Frutifica foi criada em 2020 e trabalha com entregas próprias e pelo iFood, que também apresentou instabilidade, diz Crivelari. “Já colocamos um aviso nas redes sociais e vou ser obrigado a enviar um email para toda a nossa base, avisando do problema”, afirma.

O susto foi igual para Wellington Ferreira Lucas, 38, dono do Aro26 Burger, na zona norte da capital. O caos iniciou às 11h30, quando o iFood aceitou o primeiro pedido para o seu restaurante, mesmo ele abrindo apenas ao meio-dia.

“Nós temos entregadores próprios para atender um raio de cinco quilômetros do restaurante. Recebi pedidos para a rua atrás do nosso endereço e o iFood mandou entregador próprio. Depois ficou pior. Deu bug no aplicativo também dos motoboys. Eu recebia pedidos e não era liberado para mandar para os clientes”, afirma ele.

Quando as reclamações começaram a chegar, ele foi às redes sociais explicar aos clientes o que estava acontecendo.

“Estávamos operando normalmente, quando começamos a ter problemas de conexão com motoqueiros e clientes. A plataforma parou. Estamos com problemas para acessar e fazer pagamentos pela conta digital do iFood Pago. Tudo é feito por validação online e simplesmente parou de funcionar”, disse Danilo Ramos, dono do PIRY cozinha nordestina, em Goiânia.

O aplicativo do iFood foi um dos que enfrentou instabilidade nesta segunda-feira (20), segundo relatos de clientes, entregadores e proprietários nas redes sociais, em meio a uma pane global na AWS. Mas o problema afetou também serviços de marketplace, como os do Mercado Livre.

Em um ponto de coleta do Mercado Livre na região central de São Paulo por volta das 14h30, as esteiras usadas para devolução de produtos estavam paradas e o local, vazio. Um funcionário informou à reportagem que o sistema estava fora do ar e que, por isso, não seria possível realizar devoluções, já que os caminhões não tinham condições de retirar nem de entregar produtos.

Nos pontos de coleta do Mercado Livre, vendedores deixam produtos para serem distribuídos aos consumidores e os clientes também podem devolver mercadorias após desistência ou por falhas, além de retirar compras se optarem por essa modalide de entrega.

Dois outros pontos de coleta consultados pela reportagem, e que pediram para não terem os nomes dos estabelecimentos divulgados, disseram que o sistema foi normalizado durante a tarde. Um deles, às 15h. O outro, às 17h.

Clientes da plataforma também relataram atrasos em entregas previstas para esta segunda, possivelmente associados à falha na AWS que afetou a operação da empresa.

O Mercado Livre e o Mercado Pago reconheceram que houve instabilidade em seus aplicativos e operações, provocada por uma falha generalizada no sistema da AWS. “Nossas equipes estão trabalhando rapidamente para restabelecer o sistema”, diz comunicado enviado à imprensa.

No caso do iFood, além de consumidores e proprietários de restaurantes, entregadores também comentaram nas redes sociais sobre dificuldades para coletar pedidos.

Além de alimentos, há queixas de usuários que compraram remédios pelo aplicativo e não receberam as entregas, além de pessoas que dizem que fizeram pedidos em mercados e que registraram atrasos de até quatro horas nas entregas.

O iFood informou que está retomando, de forma gradual, o funcionamento completo da operação, após falhas causadas por uma instabilidade global em um dos seus fornecedores de tecnologia. O aplicativo está operando em todas as localidades e o chat de atendimento está em processo de estabilização, afirma a empresa. Como parte dessa retomada, alguns usuários ainda podem encontrar instabilidades.

Segundo a empresa, clientes que tiveram problemas com algum pedido ao longo do dia podem abrir um chamado na Central de Atendimento do app. A empresa analisará a situação e, se estiver dentro de suas políticas, seguirá com com o reembolso total ou parcial do pedido.

A pane também afetou sites de apostas. Segundo relatos coletados pela reportagem, as taxas de probabilidade pararam de ser atualizadas e clientes não conseguiram fazer saques.

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