Para produzir combustível limpo de avião, Brasil terá de apostar em óleos e etanol, diz estudo; veja infográfico

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O caminho do Brasil para a produção de SAF (combustível sustentável de aviação) em larga escala terá de mirar, inicialmente, o uso de óleos e gorduras residuais como matéria-prima. No entanto, a grande aposta a longo prazo é uma tecnologia que produz o combustível a partir de etanol e outros álcoois, combinada a outras rotas.

Essa é a conclusão de um estudo elaborado pelo Instituto E+ Transição Energética, think tank brasileiro independente que promove debates sobre transição energética e transformação verde da indústria.

Uma das saídas para a descarbonização do setor, o SAF polui até 80% menos do que o querosene tradicionalmente usado pelas companhias aéreas. No entanto, ainda é caro e possui volumes insuficientes para dar conta de toda a demanda.

Segundo o estudo, com base na produção agrícola do país em 2021, o Brasil teria potencial para a instalação de 934 plantas de SAF, número quase oito vezes maior do que a capacidade do México e 33 vezes maior do que o potencial da Colômbia.

Essas plantas serviriam a duas tecnologias: a HEFA (querosene parafínico sintetizado por ácidos graxos e ésteres hidroprocessados) e a ATJ (Alcohol-to-Jet, querosene parafínico sintetizado por álcool).

A HEFA é atualmente a tecnologia mais madura nesse segmento. Numa escala de prontidão tecnológica elaborada pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e enumerada de 1 a 10, alcançou o patamar 9, sendo que o número aumenta proporcionalmente à maturidade do projeto.

A produção do SAF por meio da HEFA se dá a partir do uso de óleos e gorduras residuais. Antes da obtenção do biocombustível, as matérias-primas passam por processos químicos para remoção de insaturações, oxigênio e compostos indesejáveis e encurtamento e ramificação das cadeias de hidrocarbonetos (compostos orgânicos formados por átomos de carbono e hidrogênio).

De acordo com o Instituto E+, a HEFA é uma tecnologia madura e compatível com a infraestrutura de refino existente e permite o processamento em refinarias convencionais e requer menos investimentos.

A Petrobras já investe na tecnologia. Segundo a estatal, a Reduc (Refinaria Duque de Caxias), no Rio de Janeiro, é a primeira refinaria no Brasil certificada para produzir e comercializar SAF pela rota HEFA.

Ainda de acordo com a empresa, a Reduc possui autorização da ANP para incorporar até 1,2% de matéria-prima renovável na produção de SAF por essa rota. A previsão da Petrobras é de que a refinaria inicie nos próximos meses a produção para comercializar até 50 mil metros cúbicos do combustível por mês.

Apesar da maturidade da rota HEFA, o Instituto E+ Transição Energética aponta a rota ATJ (Alcohol to Jet), que produz SAF a partir do etanol ou outros álcoois, como a tecnologia mais consistente para ampliar a produção do combustível no Brasil.

“Diferentemente do HEFA, o AtJ se baseia na indústria nacional de etanol, que já opera em larga escala e utiliza uma matéria-prima com uma das menores emissões de ciclo de vida do mundo. À medida que a eletrificação dos veículos transforma o mercado do etanol, o Brasil tem uma oportunidade estratégica de antecipar essa transição e direcionar parte de sua produção de etanol para produtos de maior valor agregado, como o SAF”, diz o estudo.

A Raízen recebeu, em 2023, a certificação ISCC Corsia Plus, que comprova que o etanol produzido pela empresa na planta de Costa Pinto, em Piracicaba (SP), cumpre os requisitos internacionais para a produção de SAF.

“Com um potencial estimado de produção de mais de 6,5 bilhões de litros por ano, o AtJ é viável. Resta saber se o país o adotará como estratégia nacional ou se o deixará se tornar uma oportunidade industrial perdida”, escreve o Instituto E+ Transição Energética.

Na visão de Pedro Guedes, analista de transição energética para biocombustíveis do Instituto E+ Transição Energética, no futuro, as duas tecnologias terão de estar associadas a outras rotas de produção do combustível.

Uma delas é a Fischer-Tropsch, um processo chamado de “gas-to-liquid” (“gás para líquido”, na tradução), por meio do qual há a conversão do gás de síntese (hidrogênio e monóxido de carbono) em hidrocarbonetos, que, após o refino, viram combustível. Matérias-primas incluem eucalipto e cana-de-açúcar.

De acordo com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), essa rota já tem um bom nível de prontidão tecnológica, mas ainda aquém da HEFA.

O estudo cita ainda uma última alternativa para o futuro: o PtL (“Power-to-Liquid”), que utiliza eletricidade para converter água e gás carbônico em biocombustível. A tecnologia, porém, é cara e não é produzida em grande escala.

“O PtL se alinha bem às vantagens estruturais do Brasil: mais de 80% de sua eletricidade já vem de fontes renováveis, e o país possui um vasto e ainda inexplorado potencial para a produção eletrolítica de hidrogênio de baixo carbono. Essas condições fazem do Brasil um candidato natural para projetos-piloto de PtL, especialmente em zonas industriais e portuárias”, conclui o estudo.

Voltar ao topo