População 50+ já representa 18% do mercado formal. "Não é mais escolha das empresas, é uma realidade"

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De 46,3 milhões de pessoas com carteira assinada, 8,3 milhões têm pelo menos 50 anos
(Freepik)
  • Enquanto o estoque total da Rais cresce 17% em dez anos, o do público acima de 50 salta 58%. São mais de 8 milhões de pessoas
  • Profissionais de RH afirmam que preconceito ainda é barreira, mas destacam ganhos corporativos e econômicos com "mistura" de gerações
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Se ainda há resistência ou dúvida sobre a contratação nas pessoas acima de 50 ou 60 anos por parte do empregador, o mercado formal de trabalho mostra que não se trata de uma possibilidade, mas de um fato. Em 2024, os empregados com mais de 50 anos com carteira assinada representavam 17,9% do estoque total de trabalhadores, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) compilados pelo Ministério do Trabalho e Emprego a pedido da AGÊNCIA DC NEWS. A presença do público 50+ cresce continuamente. Dez anos antes, em 2014, a participação era de 13,2%. No período 2014/2024, o estoque geral Rais cresceu 16,8%, para 46,3 milhões, enquanto o contigente 50+ aumentou 58,5%, e já somam 8,3 milhões.

“O envelhecimento populacional é um fator que inevitavelmente vai mudar a forma como o mercado vê esses profissionais”, disse o CEO da Maturi, Mórris Litvak. “Não se trata mais de uma escolha das empresas, mas de uma realidade demográfica e econômica.” Até 2040, afirmou, praticamente metade da força de trabalho terá 50 anos ou mais. Criada há dez anos, a Maturi faz intermediação entre empresas e pessoas que procuram trabalho. Desde então, segundo ele, foram feitas mais de 6 mil recolocações diretas “e centenas de iniciativas com mais de 750 empresas, incluindo grandes marcas que acreditam no poder da diversidade etária”. Ainda de acordo com a Maturi, foram capacitadas 88,1 mil pessoas 50+. O cadastro tem 815 empresas parceiras e aproximadamente 260 mil pessoas. “Profissionais maduros trazem experiência prática, estabilidade emocional, visão sistêmica e disposição para aprender e contribuir”, afirmou Mórris.

Apesar dos avanços, ele avalia que o mercado de trabalho ainda discrimina profissionais mais velhos. “Isso não se limita ao mercado. Ainda somos um país etarista”, disse. De acordo com Litvak, um dos preconceitos mais comuns é a ideia de que profissionais +50 são caros às empresas. “Na prática, isso não se sustenta.” Para ele, o que aumenta custos é a falta de políticas adequadas de gestão intergeracional. “Quando essas políticas existem, os custos são equilibrados. E os benefícios, muito maiores.”

Escolhas do Editor

VIVÊNCIAS Para a diretora de RH do Carrefour e do Sam´s Club, Natália Mauad, o chamado etarismo “ainda é uma barreira significativa” no mercado. Segundo ela, promover a diversidade etária não é apenas questão de responsabilidade social, “mas uma forma de enriquecer os times com vivências, escuta ativa e colaboração entre gerações”. Atualmente, 13% do quadro do Grupo Carrefour Brasil (total de 125 mil) é formado por pessoas de 50 anos ou mais. Não é apenas uma questão técnica, disse a diretora. Elas trazem “uma bagagem de vida, maturidade interpessoal e visão estratégica que contribuem para um ambiente de trabalho mais equilibrado”.

O Carrefour abriu recentemente campanha para contratar 2,5 mil pessoas. “Queremos ampliar a presença de profissionais seniores no grupo e, sobretudo, valorizar a experiência como um diferencial”, afirmou Natália. As vagas estão abertas nas principais bandeiras do grupo, incluindo Atacadão, Carrefour Varejo e Sam´s Club – as inscrições podem ser feitas nos sites ou nas lojas. São oportunidades em funções administrativas e operacionais, em lojas, centros de distribuição e sedes corporativas. Segundo a diretora de RH, não há necessidade de experiência prévia. “Isso permite maior acessibilidade e inclusão de diferentes perfis, inclusive aposentados interessados em reingressar no mercado de trabalho.”

A gerente de RH do Assaí Atacadista, Tamaly Amorim, vê no etarismo um “desafio cultural a ser superado”. Os profissionais seniores, segundo ele, “demonstram alto comprometimento, compartilham boas práticas e apresentam menor taxa de turnover”. O grupo criou em 2022 o Programa 50+. No ano passado, o Assaí estava com aproximadamente 8 mil funcionários nessa faixa, 32% a mais na comparação com 2023. Os 60+ representam 1,6%. De 2022 para 2024, os cargos de liderança cresceram 22,3% e os de especialistas, 16,1%. Apenas em 2024, foram mais de 3 mil contratações, sendo 17,4% com mais de 60 anos.

Torna-se uma questão, também, de mostrar a diversidade que existe na própria população. Segundo o Censo 2022 do IBGE, 12,6% dos homens e 15,1% das mulheres tinham 50 anos ou mais. No universo masculino, 6 milhões tinham de 50 a 54 anos, 5,4 milhões tinham de 55 a 59 e 4,6 milhões, de 60 a 64. Entre as mulheres, são 6,6 milhões, 6,1 milhões e 5,3 milhões, respectivamente. Só esses grupos somam 34 milhões de pessoas. “A presença de diferentes gerações nos times fortalece a troca de experiências”, disse Tamaly. “Fortalece nosso negócio e permite que nossos clientes se vejam refletidos em nossas lojas.”

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