BAURU, SP (FOLHAPRESS) – A taxação de 50% às exportações brasileiras definida pelo presidente dos Estados Unidos, Donaldo Trump, fez com que produtores e processadores de macadâmias tivessem seus contratos de compra cancelados.
Somente Dois Córregos, no interior paulista, é responsável pela exportação de metade de tudo que é produzido no Brasil. No município conhecido como a “capital nacional da macadâmia”, a QueenNut Macadâmia, uma das maiores produtoras e processadoras da noz do país, viu um contrato ser cancelado após o comprador norte-americano se recusar a pagar mais pelo recebimento do produto.
Um contrato de 15 toneladas de macadâmias cruas, que seriam enviadas a um único cliente dos Estados Unidos, foi desfeito. A negociação encerrada estava avaliada em US$ 225 mil (R$ 1,26 milhão).
“Trabalhamos com dois tipos de acordo, um deles nós somos responsáveis por entregar a mercadoria no estoque do cliente ‘CIF’ e todas as taxas são por nossa conta. Quando o contrato foi fechado, em 2024, a taxa era de 10%, porém, a produção estará pronta só no final de agosto. Esse comprador já sinalizou que quer receber o produto, ou seja, vamos ter que arcar com o novo valor da taxa. Já no outro formato de contrato, nós fazemos a entrega ‘FOB Porto’ e as taxas de internacionalização são de responsabilidade do cliente. Foi um desses contratos que tivemos o pedido de cancelamento, pois a empresa sinalizou que não pagará esse custo adicional”, disse Pedro Toledo Piza, diretor da empresa.
Ele, que também é diretor da ABM (Associação Brasileira de Noz Macadâmia), afirmou que, além dos cancelamentos, há pedidos de suspensão temporária de contratos.
“Outras 200 toneladas de macadâmia brasileira, que seriam exportadas para os Estados Unidos, estão com os acordos suspensos. Essas negociações podem ser canceladas a qualquer momento ou renegociadas com valores mais baixos.”
Ao todo, essas 215 toneladas com envios interrompidos, que seguiriam para clientes norte-americanos, representam um total de US$ 3,5 milhões (cerca de R$ 20 milhões).
A safra brasileira da noz macadâmia se encerra em setembro, prazo final para que toda a produção seja escoada e direcionada aos mercados consumidores.
Na tentativa de minimizar os impactos, a empresa de Dois Córregos tem adotado estratégias de mercado e feito manobras para realocar os produtos, segundo o diretor.
“O prejuízo só não vai ser maior porque 60% do que produzimos já foi comercializado e, devido à seca, tivemos uma safra com produção abaixo do esperado, sendo assim, exportaríamos, neste ano, somente 30 toneladas para os Estados Unidos. O que vamos tentar fazer é acomodar a produção atual no mercado interno, já que o consumo da noz macadâmia no Brasil está em ascensão”, disse.
Porém, Piza afirmou que, com essa taxação de 50%, a indústria de macadâmia brasileira precisará buscar novos parceiros comerciais. “Os nossos produtos se tornam menos competitivos no mercado norte-americano e teremos que arcar com os prejuízos dessa taxa até conseguirmos direcionar a produção para outras regiões consumidoras.”
Em Dois Córregos, são 400 hectares de pomares com 100 mil árvores plantadas, e uma produção anual estimada em 1.500 toneladas. Do total, 30% é direcionado ao mercado interno e o restante é enviado ao exterior, sendo 50% para os Estados Unidos, 40% para a China e 10% para países de Europa e América Latina.