SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Quase 60% do valor importado pelos Estados Unidos em produtos do Brasil ficou de fora da lista de exceções do governo americano e será taxado em 50% daqui uma semana, mostra levantamento feito pela Folha de S.Paulo.
O número foi estimado com base no comércio bilateral dos dois países em 2024 a partir de dados da plataforma Dataweb, da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos.
No ano passado, as compras americanas de produtos brasileiros que entraram na lista de isentos da sobretaxa americana somaram US$ 18,4 bilhões, o equivalente a 43% do total, enquanto que os produtos não isentos representaram 57%.
Sem levar em conta o valor, e analisando cada item que o Brasil vende aos EUA, a conclusão é a de que 10% dos produtos que foram comprados em 2024 estão na lista de isenção.
Os dados mostram ainda que, dos 15 itens que lideram as importações americanas do Brasil, 10 ficaram isentos.
A análise considerou itens únicos de cada categoria, seguindo a classificação HTSUS, tabela oficial dos Estados Unidos utilizada para identificar as mercadorias. Assim, não agrupou os diferentes tipos de combustível ou de sucos de frutas, por exemplo, considerando o peso de cada produto na importação.
A BMJ Consultoria, especializada em comércio exterior, tem uma estimativa parecida, de que a lista de exceções ao tarifaço de Donald Trump abarca cerca de 40% das exportações brasileiras aos EUA. A Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) calcula um número similar: para a instituição, a lista de exceções abrange 43,4% do total exportado pelo Brasil.
“A Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor”, afirma.
Nesta quarta (30), Trump, assinou um decreto que implementa uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o valor total da tarifa para 50%. As taxas entrarão em vigor em sete dias, mas há uma lista de exceções que inclui determinados alimentos, minérios e produtos de energia e aviação civil, entre outros.
O impacto total das tarifas de Trump sobre o Brasil vai além do anúncio desta quarta (30), uma vez que produtos importantes da pauta exportadora, como o aço, já são alvo de sobretaxas setoriais, no caso de 50%. No ano passado, por exemplo, o Brasil vendeu US$ 3,5 bilhões aos EUA em produtos semi-acabados de ferro ou aço.
“Apesar de setores muito importantes terem sido excluídos da medida, temos que lembrar que vários setores menores do Brasil, como é o caso de mangas, [outras] frutas e sal, acabaram sendo afetados. E isso, infelizmente, impacta muitas empresas pequenas do Brasil”, afirma Welber Barral, conselheiro e sócio-fundador da BMJ.
As tarifas de Trump haviam sido anunciadas por Trump no dia 9 de julho, e são as maiores entre as anunciadas para países que exportam aos EUA.
A medida visa “lidar com as políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”, diz o comunicado sobre a assinatura do decreto, que cita o nome de Jair Bolsonaro (PL) e diz que ele sofre perseguição do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Ainda nesta quarta, o governo Trump anunciou sanções financeiras contra Moraes, num movimento que, para o governo Lula, reforça que a sobretaxa de 50% tem um forte componente político.