Risco de quebra na produção de veículos lembra o que ocorreu na pandemia, diz ex-presidente da Anfavea

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Luiz Carlos Moraes está se recordando dos tempos em que presidia a Anfavea (associação das montadoras) em meio à pandemia de Covid-19. O cenário de escassez de componentes se repete agora, com alerta de fabricantes ao governo sobre o risco de parar a produção nacional de carros.

A nova crise dos chips é resultado direto de disputas geopolíticas envolvendo o controle de tecnologias e de minerais críticos, como as terras raras.

Há um entrave na cadeia de suprimentos causado pela disputa entre China e Holanda pela fabricante de chips Nexperia.

No dia 12, sob pressão dos Estados Unidos, o governo holandês assumiu o controle da gigante do setor de semicondutores que atua naquele país. Entretanto, a Nexperia é uma subsidiária do grupo Wingtech, de origem chinesa.

Moraes afirma que o cenário tem semelhanças com o que ocorreu no auge da crise gerada pela pandemia, mas por razões diferentes.

“Naquela época, o setor automotivo reduziu o volume de produção, enquanto outras empresas assumiram a compra desses componentes. Quando a indústria voltou a crescer, houve uma desconexão”, diz o ex-presidente da Anfavea.

Essas empresas que compraram semicondutores em grande volume foram, por exemplo, fabricantes de equipamentos eletrônicos que viram a demanda aumentar com as pessoas trabalhando em regime de home office.

Houve ainda o caos logístico, com falta de navios e de contêineres para exportar os componentes.

Moraes diz que o problema atual ainda está relacionado com a concentração das fábricas em países da Ásia, já que não houve uma expansão relevante da produção de semicondutores em outras regiões. Quando isso ocorreu, o controle de grande parte das empresas permaneceu com grandes grupos chineses.

“Não há novidade, está tudo centralizado na Ásia, e o investimento [para fazer uma fábrica de semicondutores] é muito alto. É um processo industrial que envolve várias etapas”, afirma o ex-presidente da Anfavea.

Na época da pandemia, estimativas mostravam que a construção de uma grande fábrica de semicondutores poderia custar até R$ 20 bilhões.

Moraes, que é diretor de comunicação corporativa e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil, diz que sua empresa ainda não foi afetada pelo problema.

“Estamos monitorando de perto nossa cadeia de fornecedores, não temos impacto no curto prazo”, diz o executivo.

Já a Anfavea vê riscos. Igor Calvet, atual presidente da entidade, disse à reportagem que, em duas semanas, montadoras de todo o país podem interromper suas linhas de produção caso não haja uma solução clara para o impasse entre China e Holanda.

“Estamos diante de uma crise que se desenha global no fornecimento de chips. Começamos a receber notificações sobre uma iminente interrupção de fornecimento de peças. A nossa indústria pode começar a parar nas próximas duas ou três semanas”, afirmou Calvet.

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