Rússia tem de parar bombardeios antes de sentar à mesa, dizem embaixadores

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em paralelo às primeiras reações ao plano de paz costurado por Estados Unidos e Rússia para encerrar a Guerra da Ucrânia, membros da Otan reforçam apoio a Kiev e insistem que qualquer solução negociada precisa considerar a perspectiva ucraniana e partir de um cessar-fogo.

Os embaixadores da França e do Canadá no Brasil, integrantes da aliança militar ocidental, afirmam que muitas das propostas ainda são especulativas e debatidas apenas nos bastidores —que parecem, até o momento, escantear europeus e outros membros da Otan.

“O primeiro passo é um cessar-fogo, e cabe à Rússia parar. Não se pode negociar com uma arma na cabeça. Zelenski tem sido muito claro e corajoso ao dizer que aceita, apesar de tudo, um cessar-fogo incondicional”, afirmou à Folha de S.Paulo o embaixador francês, Emmanuel Lenain, nesta sexta-feira (21).

O presidente ucraniano está sob forte pressão de Washington para assinar até a próxima quinta (27) o pacto para o fim do conflito. Nesta sexta, Zelenski afirmou que terá de escolher entre a dignidade e o apoio dos EUA, deixando evidente como o plano é deletério para Kiev.

“Agora é um dos momentos mais difíceis da nossa história. Agora a pressão sobre a Ucrânia é uma das mais intensas. Agora a Ucrânia pode ter de encarar uma escolha muito difícil: perder a dignidade ou arriscar perder um grande aliado”, afirmou o ucraniano em pronunciamento.

O presidente russo, Vladimir Putin, por sua vez, quebrou o silêncio do Kremlin em relação ao assunto. Até então, ele afirmava não haver recebido nenhuma proposta oficial. “A Rússia está pronta para negociações de paz e uma resolução pacífica dos problemas, mas isso requer uma discussão substancial de todos os detalhes do plano proposto”, afirmou.

O documento vazado para a imprensa internacional contém 28 pontos que, de maneira geral, reproduzem demandas russas e dão poucos detalhes sobre as garantias de segurança a Kiev.

A Ucrânia perderia parte de seu território, incluindo a Crimeia, invadida em 2014, e as regiões de Lugansk e Donetsk inteiras, e teria de reduzir seu Exército do efetivo atual de quase 1 milhão para 600 mil. Caças da Otan ficariam posicionados na Polônia, segundo o plano.

Este último ponto torna incertas as vendas recentes de 150 caças suecos Gripen e 100 franceses Rafale a Kiev. Segundo Lenain, a política francesa de apoio militar à Ucrânia, por enquanto, não muda. “Vamos continuar a encontrar formas de apoiar o esforço de guerra da Ucrânia”, disse ele, sem, contudo, elaborar sobre a venda dos caças.

Além disso, o plano de Trump afirma que a Ucrânia precisaria se comprometer com eleições dentro de cem dias e com mudanças na Constituição para proibir um futuro ingresso na Otan.

Apesar deste cenário, Lenain e o embaixador canadense, Emmanuel Kamarianakis, afirmam que apoiam a iniciativa americana de buscar uma solução para o conflito.

“Queremos assegurar, como aliados da Otan e parceiros do G7, no caso de Canadá, França e EUA, que continuemos a apoiar uma forma de os ucranianos encerrarem essa guerra de um modo que eles também sejam parte do processo de negociação”, disse Kamarianakis.

Uma das propostas do plano sugere que a Rússia seja reintegrada ao G7, que deixou de ser G8 em 2014, justamente quando Moscou foi expulsa do grupo após invadir a Crimeia. A península, cuja devolução até pouco tempo era uma demanda inegociável de Kiev, deve ser reconhecida como russa, de acordo com a proposta em discussão.

“[A volta da Rússia ao G7] é algo que precisa ser discutido com os países do G7. Sabemos por que a Rússia foi expulsa do G8. Caberia ao G7 avaliar se as condições são diferentes agora”, disse Lenain.

Quando perguntados sobre a posição brasileira a respeito do conflito, de pedir diálogo e buscar um meio-termo entre as partes, os embaixadores afirmaram que o Brasil é uma voz relevante na ONU, mas que o diálogo não pode partir do pressuposto de que há duas partes erradas na guerra que ocorre no Leste Europeu.

“Não pode haver um meio-termo. Quando você tem um agressor e um país que é agredido sem qualquer razão ou provocação e você diz: ‘Bem, eles têm só de parar’, você está tomando um lado, o lado da Rússia”, afirmou o francês.

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