SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, visitou nesta quinta-feira (27) marinheiros do navio USS Gerald Ford, estacionado em águas da América Latina no momento em que o governo de Donald Trump realiza a maior mobilização militar em décadas na região para pressionar a Venezuela.
O Pentágono publicou um vídeo no qual Hegseth usa um sistema de alto-falantes da embarcação, o maior e mais poderoso porta-aviões do mundo, para desejar à tripulação um feliz Dia de Ação de Graças e dizer que estava orando pelos dois soldados da Guarda Nacional baleados em Washington na quarta (26).
“Eles são um lembrete, assim como vocês, da bravura e do altruísmo dos americanos que arriscam tudo no auge de suas vidas para realizar feitos perigosos em nome do povo americano, muitos dos quais jamais conhecerão”, afirmou o secretário. “Seja na capital do país, patrulhando a pé, ou em alto-mar, no hemisfério sul, combatendo cartéis e defendendo o povo americano, somos gratos a vocês.”
O tráfico de drogas tem sido o grande bode expiatório para as mobilizações militares dos EUA na América Latina nos últimos meses -justificativa alinhada à retórica anti-imigração de Trump, que associa estrangeiros ao aumento da criminalidade em seu país.
Ao mencionar os cartéis, Hegseth se refere à acusação dos EUA de que o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, lidera uma rede de tráfico de drogas chamada Cartel de los Soles, cuja existência é negada por especialistas.
Sob o pretexto de que a suposta ligação do regime com o tráfico internacional seria uma ameaça aos EUA, o governo Trump ordenou pelo menos 21 ataques contra supostos barcos de drogas no Caribe e na costa do Pacífico da América Latina desde setembro, matando mais de 80 pessoas sem antes interceptá-las ou interrogá-las.
A ofensiva é vista como uma forma de pressionar Maduro, no poder do país sul-americano desde 2013, quando sucedeu Hugo Chávez. Durante seu primeiro mandato, Trump tentou derrubar o ditador, sem sucesso.
Agora, sua segunda passagem na Casa Branca sucede um momento ainda mais delicado na Venezuela: as eleições de 2024, quando Maduro foi reconduzido ao poder pela terceira vez sob denúncias de fraude de diferentes organizações e sem apresentar as provas exigidas pela lei de que venceu o pleito.
A ofensiva americana encontra aliados na região. No final de outubro, por exemplo, Trinidad e Tobago, cuja costa fica a menos de 15 km da Venezuela em alguns pontos, recebeu o destróier USS Gravely de Washington. O navio de guerra ficou parado em águas territoriais da Venezuela durante alguns dias antes de deixar a região.
Mais recentemente, na última terça (25), o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, o general Dan Caine, foi a Trinidad e Tobago para se reunir com a primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar. Segundo o Pentágono, o militar disse a Persad-Bissessar que Washington está comprometido a trabalhar com a nação para “enfrentar ameaças comuns e aprofundar a colaboração em todo o Caribe”.
Nesta quarta, foi a vez de a República Dominicana selar uma aliança com os EUA com uma visita de Hegseth ao país. Durante o encontro, o secretário fechou o primeiro acordo público com uma nação da região para auxiliar nos ataques no Caribe.
Sem entrar em detalhes, o presidente dominicano, Luis Abinader, afirmou ter autorizado Washington a enviar temporariamente tropas americanas à nação.
“Anuncio ao país que autorizamos os EUA, por um prazo limitado, a usar espaços restritos na base aérea de San Isidro e no Aeroporto Internacional Las Américas para a operação logística de aviões de reabastecimento de combustível, transporte de equipamentos e pessoal técnico”, disse o político ao lado do secretário.
“A República Dominicana deu um passo à frente”, afirmou Hegseth na capital, Santo Domingo. “Um modelo que esperamos expandir com outros países que queiram se associar a nós para garantir que os terroristas do narcotráfico (…) recebam a mensagem de que estamos nos associando a mais países, com mais recursos, para detê-los.”
Após o anúncio a jornalistas, durante o qual não foram permitidas perguntas, segundo a agência de notícias Associated Press, o gabinete de Abinader deu mais detalhes em um comunicado.
A colaboração, segundo a nota, “tem como objetivo interromper as operações ilícitas de organizações criminosas transnacionais e organizações terroristas estrangeiras” e contará com aeronaves de reabastecimento KC-135 para auxiliar patrulhas aéreas e aeronaves de carga C-130 para facilitar evacuações aeromédicas.