Segue comentário de Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners

Uma image de notas de 20 reais

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São Paulo, 11 de dezembro de 2024 –

O COPOM subiu os juros para 12,25% a.a. conforme a precificação do mercado

Como amplamente esperado pelo mercado e de certa forma também pelos economistas, o COPOM subiu
os juros em 1,00 p.p.- o dobro da reunião anterior – que passaram de 11,25% a.a. para 12,25% a.a..
Mas, o que certamente causou surpresa geral foi o comprometimento de manter este ritmo de alta, não
apenas na próxima, mas nas duas próximas reuniões. Portanto, já temos contratada uma Selic a
14,25% a.a. no final do 1º trimestre de 2025
Certamente, o principal motivo para um movimento tão forte por parte do COPOM, foi o recente
anúncio do pacote fiscal do governo. Isso fica claro na parte do Comunicado que diz: O Comitê tem
acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política
monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio
fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente
o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos
contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa. (grifo nosso). O texto é alto
explicativo, mas a decisão de fazer um Comunicado tão duro mostra que o BCB vai seguir à risca a
regra de que política fiscal frouxa pede uma política monetária apertada
O resto do Comunicado deriva da análise sobre a questão fiscal. O PIB do 3º trimestre mostrou
um hiato do produto mais aberto, as expectativas de inflação ficaram mais desancoradas e,
consequentemente, a projeção de inflação do modelo do BCB para o 2º trimestre de 20261 acelerou
de 3,6% na reunião de novembro para 4,0% agora, 1 p.p. acima da meta.

Bottom line: A decisão de elevar a Selic em 1,00 p.p. nem pode ser considerada uma grande surpresa,
uma vez que era essa a precificação do mercado e, nos últimos dias, mesmo os economistas já
estavam migrando para esse call. Entretanto, a promessa de manter esse ritmo de alta pelas próximas
duas reuniões, sem dúvida nenhuma foi uma surpresa. No nosso entendimento, esse movimento
agressivo teria dois objetivos: o primeiro seria dar um choque de credibilidade, mostrando que o BCB
vai fazer de tudo para trazer a inflação para a meta, independentemente da postura fiscal do
governo, seria o whatever it takes 2 do nosso BC; o segundo seria dirimir as dúvidas com relação
à postura do BCB quando da mudança da sua diretoria e, principalmente, do seu presidente.
Portanto, já temos contratado uma Selic a no mínimo 14,25% a.a.. Pode subir mais? Pode. Os nossos
cálculos, com o dólar acima de R$ 6,00 e as expectativas de inflação desancoradas como estão,
poderia chegar próximo de 17,00% a.a.. Inclusive o BCB manteve a parte do Comunicado que diz que
persiste a assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a
inflação. Vai chegar? Provavelmente não. Até porque a estratégia do choque só funciona se
tiver impacto sobre as expectativas do mercado, causando um círculo virtuoso, onde o real se
aprecia frente ao dólar e as taxas da parte longa da curva de juros futuros caem. Vai dar certo?
Amanhã começaremos a saber.

1 Para onde o BCB estar mirando levar a inflação para a meta
2 Frase dita pelo presidente do BCE, Mário Draghi, durante a crise do euro de 2012

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