'Sentimento de frustração', diz executivo do açúcar que foi aos EUA negociar tarifa

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA
Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – As dificuldades de se aproximar de qualquer autoridade americana para, ao menos, discutir a imposição da sobretaxa de 50% criada pelo presidente Donald Trump foram sentidas na pele por um executivo brasileiro que atua há décadas no setor de açúcar, que acabou incluído entre aqueles que terão de pagar preço.

Renato Cunha, presidente da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), instituição que representa 38 usinas do setor, esteve nos EUA nesta semana e acompanhou o périplo que senadores brasileiros fizeram em território americano, para tentar discutir os efeitos danosos da medida em ambos os países.

A comitiva do Congresso, em raro momento, reuniu integrantes da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lá estavam Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS), Nelsinho Trad (PSD-MS), Rogério Carvalho (PT-SE), Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL) e Esperidião Amin (PP-SC), além do astronauta Marcos Pontes (PL-SP).

O resultado, porém, segundo Cunha, foi de total frustração. Quase 60% do valor importado pelos Estados Unidos em produtos do Brasil ficou de fora da lista de exceções do governo americano e será taxado em 50% a partir do dia 1º de agosto, mostra levantamento feito pela Folha de S.Paulo.

“Os senadores fizeram um trabalho providencial com seus pares nos Estados Unidos, mostrando as relações com o Brasil, mas foi difícil. O fato é que não teve agenda técnica. O governo americano não abriu as portas para receber a gente. O assunto ficou concentrado na Presidência”, disse à reportagem.

Renato Cunha, que também comanda o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), diz que teme demissões, embora ainda não tenha estimado o impacto.

Seu setor gera 270 mil empregos formais na indústria da cana-de-açúcar, em 250 municípios na região Nordeste, onde há mais de 20 mil plantadores de cana. O Brasil produz cerca de 44 milhões de toneladas de açúcar por ano. Desse total, a região Nordeste responde por 3,7 milhões toneladas.

Pelas regras de comércio com os EUA que vigoravam até março, o Brasil podia vender até 150 mil toneladas de açúcar por ano com taxa zero. Se passasse desse volume, o que geralmente ocorria, passava a valer uma taxa de até 80%.

Desde abril, porém, essa tarifa zero acabou, quando entrou em vigor a taxa de 10%. Esta, agora, saltou para 50%.

“Vai diminuir muito o atrativo. O que estamos vendo é uma desconsideração enorme por uma relação comercial que já dura mais de 60 anos. Foi uma situação desrespeitosa, porque foi uma decisão política, não de mercado”, comentou Cunha, pouco antes de embarcar de volta ao Brasil.

Apesar da frustração, ele diz que o setor vai seguir em busca de negociação. “Não adianta ficar chorando. Vamos negociar com altivez e segurança. A relação comercial com as tradings é construtiva. Acreditamos que isso vai ser revisto.”

O agronegócio foi um dos setores menos poupados por Trump. Carnes, café, pescados e frutas estão entre aqueles que mais sofrerão com a sobretaxa. A investida dos senadores também teve um custo político no Brasil.

A presença de nomes bolsonaristas como Tereza Cristina (PP-MS), ao lado de lideranças petistas como Jaques Wagner (PT-BA), Rogério Carvalho (PT-SE), desagradou boa parte do agro, apoiador do ex-presidente.

“Não ficou bem, tenho que admitir. Converso com os produtores e todos estão me dizendo isso. A verdade é que não pegou bem. Foram lá sofrer desgaste à toa, como vimos acontecer com o governador Tarcísio de Freitas. Essa decisão tem que ser coisa de presidente com presidente”, disse o ex-secretário especial de Assuntos Fundiários do então governo Bolsonaro, o produtor Nabhan Garcia, que hoje preside a União Democrática Ruralista (UDR Nacional).

As taxas entrarão em vigor em sete dias. O decreto (leia a íntegra) isenta determinados alimentos, minérios e produtos de energia e aviação civil, entre centenas de outros. As tarifas haviam sido anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 9 de julho, e são as maiores entre as anunciadas para países que exportam aos EUA.

A medida visa “lidar com as políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”, diz o comunicado sobre a assinatura do decreto, que cita o nome de Jair Bolsonaro (PL) e diz que ele sofre perseguição do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Voltar ao topo