Sob pressão, tradicional Collège de France cancela seminário sobre Palestina

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PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O Collège de France, na França, uma das instituições de ensino mais tradicionais do mundo, cancelou um seminário sobre a Palestina para “evitar risco à ordem pública”, em mais uma polêmica relacionada à guerra na Faixa de Gaza no país europeu.

O colóquio “Palestina e Europa: peso do passado e dinâmicas contemporâneas” ocorreria na quinta (13) e na sexta (14) na sede do Collège, no Quartier Latin, histórico bairro universitário de Paris.

Em post na rede social X, o ministro francês do Ensino Superior, Philippe Baptiste, afirmou ter tido “conversas recentes” com a administração do Collège e qualificou a decisão de anular o evento como responsável. O colóquio, segundo ele, “tinha grande risco” de não apresentar um “debate livre, respeitoso e plural”.

Entidades da comunidade judaica denunciaram o colóquio por um suposto viés anti-Israel. A Liga Internacional contra o Racismo e o Antissemitismo (Licra) definiu o evento como uma “feira antissionista”.

Militantes pró-Palestina, por sua vez, acusam o governo de violar a autonomia universitária e de ter pressionado a instituição a cancelar o evento. A deputada europeia Rima Hassan, de ultraesquerda, chamou Baptiste de “ministro da censura acadêmica”.

Entre os palestrantes estavam a relatora das Nações Unidas para os territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, e o ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin, ambos fortemente críticos do premiê israelense, Binyamin Netanyahu. O evento era apoiado pela filial parisiense do Centro Árabe de Pesquisas e Estudos Políticos, centro de pesquisa com sede no Qatar.

O colóquio havia sido organizado pelo professor Henry Laurens, 71, titular desde 2003 da cadeira de História Contemporânea do Mundo Árabe no Collège de France. Acadêmico respeitado, Laurens não tem histórico de posicionamentos políticos. “Famoso depois dos 70 anos”, brincou o professor ao ser questionado pela Folha. Ele disse que um novo local para o evento está sendo procurado.

O cancelamento é mais um de uma série de incidentes na França relacionados a eventos envolvendo israelenses e palestinos. Na semana passada, uma apresentação da Orquestra Filarmônica de Israel foi interrompida por quatro manifestantes pró-Palestina, que acabaram presos.

Na quinta (13), dia em que começaria o seminário, uma série de eventos relembrará os dez anos de uma noite de atentados que mataram 130 pessoas em Paris, cometidos por terroristas vinculados ao Estado Islâmico –os piores da história do país.

O Collège de France foi criado em 1530. É famoso por uma característica inusitada: seus cursos são gratuitos, abertos ao público e não concedem diplomas. Entre seus professores estiveram nomes como o sociólogo Pierre Bourdieu, o filósofo Michel Foucault e o antropólogo Claude Lévi-Strauss.

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