PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – A guerra comercial imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impactou o 15º Plano Quinquenal da China, cuja determinação foi de que o desenvolvimento econômico deve permanecer como objetivo central do regime chinês entre 2026 e 2030.
O documento, elaborado a cada cinco anos para determinar as metas de desenvolvimento do país, prega em favor do sistema multilateral de comércio, critica o protecionismo e coloca como objetivo a liderança no desenvolvimento tecnológico e científico mundial.
“Durante o 15º Plano, o ambiente de desenvolvimento do nosso país enfrentará mudanças profundas e complexas, em um período em que coexistem oportunidades estratégicas e riscos e desafios, com aumento de fatores incertos e de difícil previsão. Os fundamentos econômicos do nosso país são estáveis, nossas vantagens são numerosas, a resiliência é forte e o potencial é grande”, diz o documento.
Embora as informações detalhadas do novo plano não tenham sido publicadas, o Partido Comunista da China divulgou um resumo aprofundado da plenária em que as metas foram discutidas. Participam da reunião os membros do Comitê Central, o principal órgão decisório da sigla.
O encontro é o quarto desde o congresso do partido em 2022, quando Xi Jinping foi reeleito secretário-geral. O comitê central usualmente realiza sete plenários entre um congresso e outro e, geralmente, os planos quinquenais são divulgados no quinto encontro. Mas, desta vez, em decorrência de um atraso não explicado para a realização do terceiro plenário, o plano foi construído na quarta reunião.
O resumo divulgado não cita nominalmente os EUA, mas se refere às políticas protecionistas encampadas por Trump, que tornaram a China protagonista da guerra comercial.
Para Logan H. Wright, diretor do China Markets Research do Rhodium Group, é claro que o plano foi feito com os americanos em mente, uma vez que a visão chinesa apresentada no documento enfatiza o desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia sem qualquer dependência de componentes importados, especialmente aqueles vindos dos EUA.
“A contradição, claro, é que, ao mesmo tempo em que busca essa autossuficiência industrial, a China está se tornando quase totalmente dependente das exportações para o resto do mundo para seu crescimento econômico”, afirma Wright.
O incentivo ao consumo interno e a criação de um mercado nacional unificado também são apresentados como instrumentos de crescimento econômico. O documento, porém, segundo o pesquisador, deixa claro que Pequim “pretende dar continuidade a uma estratégia de crescimento orientada pelo investimento”.
“Isso exigirá a expansão contínua da participação da China no mercado global de exportação e provavelmente gerará considerável resistência entre os parceiros comerciais da China”, diz.
Construir um ambiente de forte consumo interno torna-se um desafio, uma vez que o país luta para estimular os gastos de uma população que tem historicamente o costume de poupar devido à instabilidade econômica e social. Segundo o documento, é necessário “impulsionar vigorosamente o consumo, expandir o investimento efetivo e eliminar resolutamente os pontos de estrangulamento que dificultam a construção do mercado nacional unificado”.
O consumo no país segue contido, em parte, porque a população chinesa continua guardando dinheiro por precaução, segundo relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Um pacote de medidas emitido em setembro para estimular o consumo de serviços no país tentou mirar nesse problema. Uma das ações previstas pelas medidas era o fortalecimento da campanha “Compre na China”, lançada em abril deste ano para expandir o consumo no país com foco em moda, entretenimento, turismo e esporte, entre outros.
“Mudar o motor do crescimento econômico da China em direção ao consumo exige uma reestruturação completa do sistema fiscal, e não há discussão real de mudanças fundamentais no modelo de crescimento no comunicado”, declara Wright.