BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Na primeira viagem internacional de seu pontificado, Leão 14 desembarcou nesta quinta (27) na Turquia, onde fez apelo à paz e afirmou que dinâmicas destrutivas de poder econômico e militar estão permitindo uma “Terceira Guerra Mundial travada aos poucos”, replicando declaração de seu antecessor, Francisco.
Em encontro com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, e outras autoridades, o pontífice americano-peruano disse ainda que o mundo está sendo desestabilizado por “ambições e escolhas que atropelam a justiça e a paz”. “Nós não podemos ceder de forma alguma. O futuro da humanidade está em jogo”, disse.
Erdogan, crítico ferrenho de Israel e considerado por Tel Aviv um líder próximo do grupo terrorista Hamas, elogiou a “postura astuta” de Leão 14 sobre a questão palestina. Em setembro, o papa se encontrou com o presidente israelense, Isaac Herzog, e criticou o que chamou de “situação trágica” na Faixa de Gaza.
Leão 14 agradeceu as boas-vindas de Erdogan e afirmou que a Turquia é uma terra “inseparavelmente ligada às origens do cristianismo” e, ao mesmo tempo, lugar em que se encontram as três grandes religiões abraâmicas: o islã, o cristianismo e o judaísmo.
O pontífice também recorreu à metáfora histórica da Turquia como ponte entre mundos para criticar a polarização e as posições extremistas em um cenário global com “risco de fragmentação”.
Ele mencionou o antecessor, o papa Francisco, que em várias ocasiões alertou para o avanço do populismo e foi crítico dos vários conflitos regionais simultâneos no mundo.
“Depois da época da construção das grandes organizações internacionais, que se seguiu às tragédias das duas guerras mundiais, estamos atravessando uma fase de grande conflito a nível global, em que prevalecem estratégias de poder econômico e militar, alimentando o que o papa Francisco chamou de ‘terceira guerra mundial travada aos poucos””, disse Leão 14, sem mencionar países.
Leão 14 lembrou ainda que seu antecessor se contrapôs à “globalização da indiferença”. Segundo ele, entre os grandes desafios contemporâneos estão a construção da paz, o combate à fome e à miséria, além de questões relacionadas à saúde, educação e preservação ambiental.
O papa fica até domingo (30) na Turquia e depois vai ao Líbano. Na primeira etapa da viagem, um dos momentos mais importantes deverá ser sua visita à cidade onde aconteceu, há 1.700 anos, o primeiro concílio ecumênico cristão.
A viagem para a celebração do Concílio de Niceia é uma continuação do programa de Francisco, que manifestou vontade de ir à Turquia neste ano. O pontífice argentino morreu em abril, aos 88 anos.
Ocorrido na cidade que hoje se chama Iznik, a cerca de 140 km de Istambul, o concílio aconteceu no ano 325. Ele reuniu cerca de 300 bispos e foi convocado pelo imperador Constantino, de Roma, 12 anos após ele ter liberado a fé religiosa, o que desautorizou a perseguição aos cristãos.
A tarefa principal do concílio era encontrar fórmulas dogmáticas que resolvessem divergências entre religiosos que tinham vindo à tona após a liberdade de culto e o maior confronto entre os grupos. O temor de Constantino era que as fraturas entre os cristãos pudessem ameaçar a união do império.
A programação de Leão 14 na Turquia prevê uma oração ecumênica em Iznik, perto dos restos arqueológicos de uma basílica construída no século 4, após o primeiro concílio, e ao menos dois encontros com o patriarca Bartolomeu, representante da Igreja Ortodoxa.
Se a ida à Turquia é um legado do antecessor, a escolha do Líbano tem sido entendida como parte dos esforços de Robert Prevost pela paz no Oriente Médio. As menções aos conflitos na região são frequentes e, logo no início da sua primeira fala como papa, ele exaltou uma “paz desarmada e desarmante”.
Além de autoridades, está previsto na agenda um encontro ecumênico e interreligioso na praça dos Mártires, em Beirute. No país existem 18 comunidades religiosas ativas, uma referência de convivência plural na região. A visita ocorre dias após ataques de Israel contra um campo de refugiados palestinos no sul do país, no qual ao menos 13 pessoas foram mortas, segundo o Ministério da Saúde de Beirute.
VIAGEM DO PAPA LEÃO 14 À TURQUIA E AO LÍBANO
**Quinta-feira (27/11)**
– Partida de Roma para Ancara, com chegada prevista às 12h30 locais (6h30 de Brasília)
– Visita ao mausoléu de Ataturk, fundador da República da Turquia
– Visita ao presidente Recep Tayyip Erdogan
– Encontro com autoridades e corpo diplomático
**Sexta-feira (28/11)**
– Em Istambul, oração com religiosos católicos na catedral do Espírito Santo
– Em Iznik, antiga Niceia, oração ecumênica perto das ruínas da antiga basílica de São Neófito
**Sábado (29/11)**
– Em Istambul, visita à mesquita Sultan Ahmet
– Encontro com líderes cristãos na igreja ortodoxa siríaca de Mor Ephrem
– Oração na igreja patriarcal de São Jorge
– Encontro com o patriarca Bartolomeu
– Missa na Volkswagen Arena
**Domingo (30/11)**
– Em Istambul, visita à catedral Armênia Apostólica
– Discurso na igreja patriarcal de São Jorge
– Almoço com o patriarca Bartolomeu
– Em Beirute, visita ao presidente Joseph Aoun
– Encontro com outras autoridades do Líbano
**Segunda-feira (1º/12)**
– Em Annaya, visita ao monastério de São Maroun
– Em Harissa, encontro com religiosos católicos
– Em Beirute, encontro ecumêmico e interreligioso
– Em Bkerké, encontro com jovens em frente ao Patriarcado Maronita de Antioquia
**Terça (2/12)**
– Em Jal ed Dib, visita ao hospital De la Croix
– Em Beirute, oração no lugar da megaexplosão ocorrida em 2020 na região portuária
– Missa no Beirut Waterfront