RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O percentual de trabalhadores sindicalizados subiu na passagem de 2023 para 2024 e interrompeu uma sequência em queda no Brasil, mas continuou distante do patamar do início da década passada, antes da reforma trabalhista.
É o que indicam dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgados nesta quarta (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Do total de 101,3 milhões de pessoas de 14 anos ou mais ocupadas com trabalho formal ou informal em 2024, quase 9,1 milhões eram associadas a sindicatos, o equivalente a 8,9%.
Isso significa um aumento de 0,5 ponto percentual ante 2023, quando a proporção havia atingido a mínima de 8,4%.
O avanço em 2024 foi o primeiro da série histórica iniciada em 2012. A taxa de sindicalização vinha de seis anos consecutivos em queda na Pnad (2016, 2017, 2018, 2019, 2022 e 2023).
Não houve coleta de informações em 2020 e 2021 devido à pandemia de Covid-19, e o IBGE contabilizou apenas um ano de estabilidade (2015).
Mesmo com a subida em 2024, o patamar de 8,9% é o segundo menor da série. Em 2012, ano inicial da pesquisa, a proporção estava em 16,1% a maior já registrada.
Na visão de William Kratochwill, analista do IBGE, é possível que uma parcela dos trabalhadores tenha percebido a necessidade de se filiar novamente a entidades para buscar seus direitos no ano passado.
Os dados sinalizam que a redução do sindicalismo havia se intensificado depois da reforma trabalhista, em vigor desde novembro de 2017.
A mudança na legislação acabou com a contribuição obrigatória para os sindicatos, chamada de imposto sindical. O desconto passou a depender de autorização do profissional.
A reforma também deu aos empregados a possibilidade de negociar banco de horas, jornada e outros itens individualmente.
“A associação a sindicatos já vinha perdendo espaço naturalmente. Diversos fatores podem explicar a redução [na série], mas, quando chega 2017, há uma queda brusca”, afirmou William.
“Houve a mudança de legislação com relação a cobrança sindical e tudo mais. Naturalmente, isso pode ter causado a forte queda”, completou.
Na comparação mais recente, o número de trabalhadores sindicalizados aumentou de cerca de 8,3 milhões em 2023 para quase 9,1 milhões em 2024.
O contingente do ano passado, mesmo em alta, é o terceiro menor da série histórica. Supera apenas a mínima de 2023 e o contingente de 2022 (9 milhões). A máxima da pesquisa foi registrada em 2013 (14,5 milhões).
SINDICALIZAÇÃO É MENOR ENTRE MAIS JOVENS
De 2023 para 2024, o acréscimo no número de sindicalizados foi de 812 mil. Desse contingente, uma parcela de 67,4% tinha 40 anos ou mais, conforme o IBGE.
Para William, o resultado deixa claro que não houve ainda uma “grande renovação” nos quadros dos sindicatos.
As faixas mais jovens de trabalhadores ocupados, de 14 a 19 anos e de 20 a 29 anos, tinham as menores taxas de sindicalização em 2024. Os percentuais eram de apenas 1,6% e 5,1%.
Já os grupos de 40 a 49 anos e de 50 a 59 anos apresentavam as maiores proporções (11,2% e 12,1%).
“Talvez esteja faltando investimento nos mais jovens. O sindicalismo estar perdendo tantas pessoas [ao longo da série] é porque não tem atendido às necessidades, às demandas, ao que o trabalhador almeja”, disse William.
“Pode ser que agora, dado um tempo muito grande sem um sindicato bem organizado, as pessoas estejam identificando a necessidade de se reorganizar, de voltar a lutar pelos direitos”, acrescentou.
Conforme o técnico do IBGE, a recente abertura de vagas no setor público e a criação de empregos formais no setor privado também são “fatores importantes” para entender o aumento na taxa de sindicalização de 2023 para 2024. As duas categorias têm os maiores percentuais de associação a entidades.
Em 2024, a proporção de sindicalizados era de 18,9% entre os empregados no setor público e de 11,2% entre os empregados com carteira assinada no setor privado.
A taxa recua a apenas 2,6% entre os trabalhadores domésticos, a 3,8% entre os empregados do setor privado sem carteira (informais) e a 5,1% entre os profissionais por conta própria.
Para o sociólogo Clemente Ganz Lucio, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, as entidades começam a se estruturar após a “porrada” de 2017, ano da reforma trabalhista.
Ele também atribui o avanço em 2024 a fatores como a abertura de vagas no setor público e a geração de empregos formais, além de citar a política de estímulos do governo para a indústria, que tem uma das maiores taxas de sindicalização.
“O pêndulo começa a sair do ataque extremo para um reposicionamento”, afirma.
“Se o movimento sindical conseguir ter força para fazer um trabalho de base e se apresentar novamente aos trabalhadores, com novas propostas e novas ideias, acho que volta a crescer, sabendo dos nossos limites”, completa.
PERCENTUAL SOBE NO SUDESTE E NO SUL EM 2024
A Pnad fornece um panorama das regiões. De 2023 para 2024, a proporção de sindicalizados aumentou no Sudeste (de 7,9% para 9,2%) e no Sul (de 9,3% para 9,8%).
O indicador teve uma leve variação positiva no Norte (de 6,9% para 7%), enquanto oscilou para baixo no Nordeste (de 9,5% para 9,3%) e no Centro-Oeste (de 7,2% para 6,9%).
O percentual de sindicalizados está abaixo do registrado no início da série nas cinco grandes regiões.
Em três, a cobertura sindical encolheu a menos da metade na comparação de 2012 com 2024. Foram os casos do Sul (de 20,3% para 9,8%), do Norte (de 14,8% para 7%) e do Centro-Oeste (de 14% para 6,9%).
COOPERATIVAS CHEGAM A 4,3%
Outra questão investigada na Pnad é a adesão a cooperativas de trabalho ou produção. Do total de 29,8 milhões de empregadores e trabalhadores por conta própria em 2024, uma parcela de quase 1,3 milhão era associada a essas instituições, o equivalente a 4,3%.
A proporção ficou ligeiramente abaixo da encontrada em 2023 (4,5%) e ainda mais distante do patamar de 2012 (6,3%), no início da série. Conforme o IBGE, o resultado mostra a baixa adesão a cooperativas no país.
O percentual de associação a essas instituições diminuiu nas cinco grandes regiões na comparação de 2012 com 2024. O Sul seguiu com a maior adesão (8,2%), enquanto o Sudeste mostrou a menor proporção (3,1%).
A Pnad ainda traz um recorte sobre a formalização de empregadores e trabalhadores por conta própria.
Entre os empregadores, a proporção com registro de CNPJ foi estimada em 80% em 2024 8 em cada 10. O percentual recuou se comparado a 2023 (80,9%), mas aumentou em relação a 2012 (75,6%).
Entre os trabalhadores por conta própria, a cobertura de CNPJ era de 25,7% em 2024. O patamar cresceu ante 2023 (24,9%) e 2012 (15%). O grupo inclui os MEIs (microempreendedores individuais), que ganharam força no país.
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TRABALHADORES SINDICALIZADOS NO BRASIL (%)
(Parcela da população ocupada de 14 anos ou mais associada a entidades)
2012 16,1
2013 16
2014 15,7
2015 15,7
2016 14,8
2017 14,2
2018 12,4
2019 11
2020 sem pesquisa
2021 sem pesquisa
2022 9,2
2023 8,4
2024 8,9
Obs.: Reforma trabalhista entra em vigor em 2017.
Fonte: IBGE.
TRABALHADORES SINDICALIZADOS NO BRASIL (em milhões)
(Ocupados de 14 anos ou mais associados a entidades)
2012 14,4
2013 14,5
2014 14,4
2015 14,4
2016 13,3
2017 12,8
2018 11,3
2019 10,3
2020 sem pesquisa
2021 sem pesquisa
2022 9
2023 8,3
2024 9,1
Obs.: Reforma trabalhista entra em vigor em 2017.
Fonte: IBGE.
TRABALHADORES SINDICALIZADOS NO BRASIL, POR FAIXA DE IDADE
Parcela da população ocupada associada a entidades em 2024, em %
14 a 19 anos 1,6
20 a 29 anos 5,1
30 a 39 anos 8,8
40 a 49 anos 11,2
50 a 59 anos 12,1
60 anos ou mais 10,8
Fonte: IBGE.