SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Donald Trump prometeu aplicar tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras e cumpriu a dívida dois dias antes do prazo. Hoje, não há como escapar: o assunto é tarifaço.
Também aqui: Copom e Fomc mantêm taxas básicas de juros e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (31).
**DIA D (-2)**
Antes de ser presidente de uma das maiores potências econômicas globais, Donald Trump teve uma carreira no mundo do entretenimento. Ele apresentou catorze temporadas do reality show O Aprendiz talvez você já tenha visto a versão brasileira, apresentada por Roberto Justus.
Como o showman que é, Donald Trump nunca deixa de surpreender. Dessa vez, assinou o decreto que impõe as tarifas de 50% sobre exportações do Brasil dois dias antes do combinado, pegando o mercado de sobressalto.
Um detalhe: há quase 700 produtos na lista de exceções à tarifa. Um pouquinho mais do que era esperado, não?
Importante: as medidas entram em vigor sete dias depois da data da ordem, ou seja, no dia 6 de agosto a próxima quarta-feira.
Vamos à lista dos itens que mais chamaram a atenção no elenco de isenções.
A maioria dos itens está ligada ao setor de aviação e petróleo. Isso significa que, notoriamente, a Embraer se safou. O mercado reagiu à notícia e as ações da empresa subiram 10% no pregão de ontem da B3.
A siderurgia também respirou aliviada, com minério de ferro, ferro gusa e alguns tipos de aço isentos.
Na parte dos alimentos, só a polpa e o suco da laranja e a castanha-do-pará escaparam da lista de tarifas.
SAC ABERTO
Há algumas ausências notáveis na lista de exceções. O café, a carne, as frutas e os pescados não foram contemplados pela benevolência do presidente americano.
Esses setores cobram medidas do governo brasileiro, sob a alegação de que o cenário atual inviabiliza as exportações para os EUA.
O problema é que os dois governos estão demorando em negociar, disse Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
A tese do setor cafeeiro é que os americanos não conseguirão substituir o café brasileiro no curto prazo, e, dado o volume das vendas para o consumidor daquele país, isso vai aumentar muito os preços nas prateleiras do mercado.
O pessoal da carne também está de cabelos em pé. Eles pedem negociações e muita calma nessa hora.
A última carta que os produtores querem ver na mesa é a aplicação da reciprocidade, por entender que esta seria a falência de qualquer possibilidade de negociação.
**UM PARÊNTESES NAS TARIFAS**
Quando há reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no Banco Central, em geral, este é o assunto mais importante do dia. Você pode ter reparado que, sempre que isso acontece, o tópico encabeça a edição da FolhaMercado do dia seguinte.
Contudo, o leitor já deve ter percebido que se trata de uma semana extraordinária. Trump roubou os holofotes para si, mas a Selic merece um espaço de destaque afinal, ela afeta diretamente a sua vida.
SEM NOVIDADES
O resultado da reunião de ontem do Copom foi aquele já esperado pelo mercado: sem alterações na taxa básica de juros, que se mantém em 15% ao ano o maior nível em 19 anos.
A decisão marca o fim do ciclo de alta da Selic, que começou ainda na gestão de Roberto Campos Neto, terminada em 31 de dezembro de 2024.
Começou com um incremento de 0,25%, levando a taxa de juros a 10,75% ao ano em setembro de 2024.
OS MOTIVOS
Em resumo, tem a ver com o tarifaço. No comunicado que anuncia o patamar da taxa básica de juros, o colegiado do BC afirma que o ambiente externo está mais adverso e incerto e falou em cautela diante das tarifas comerciais.
Vale lembrar que os juros são uma forma de tentar controlar o aumento do nível dos preços, a tal da inflação. Em um momento em que não se sabe bem o que será da economia brasileira, a decisão do Copom é não incentivar muito movimento na atividade econômica.
Enquanto isso na tarde de ontem, o Fomc (equivalente do Copom no Federal Reserve, Banco Central americano) também manteve a taxa básica de juros inalterada no intervalo de 4,25 a 4,5% ao ano.
Para a infelicidade de Trump, é a quinta vez que isto acontece. O patamar dos juros é considerado alto, levando em conta o histórico americano, e o presidente quer cortes para estimular a atividade econômica.
Desta vez, dois membros do Fomc discordaram da decisão, a primeira vez desde 1993. Os dois votos contrários são de pessoas indicadas por Trump.
Várias vezes, o líder americano já ameaçou tirar Jerome Powell do cargo de chefe do Federal Reserve pela desavença.
**EFEITO BUMERANGUE**
Aqui se faz, aqui se paga. Às vezes, literalmente.
A cerimônia de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos foi a mais cara da história do país. Suntuosa, contou com rostos que compõem o PIB (Produto Interno Bruto) do país quem lembra da foto dos CEOs das big techs enfileirados na cerimônia?
Para conseguir o feito, o líder republicano precisou de doações de muita gente. Entre os contribuintes, unidades americanas de multinacionais com presença no Brasil. Agora, as operações brasileiras desses grupos se preparam para sentir o Efeito Tarifaço.
LISTA DE CHAMADA
Entre as doadoras estão a fabricante de máquinas Caterpillar, as farmacêuticas Abbott e MSD (Merck Sharp & Dohme), General Motors, Toyota, Johnson & Johnson, Pepsico e Bayer.
Vamos aos possíveis impactos para as empresas que mais exportam produções brasileiras para os EUA.
[1] Caterpillar. A empresa doou US$ 100 mil (R$ 559 mil) para o evento. Ela produz mais de 250 modelos de máquinas, escavadeiras, tratores e outros equipamentos em fábricas em Piracicaba (SP), Curitiba (PR), Hortolândia (SP), Sete Lagoas (MG) e Campo Largo (PR).
O impacto nas unidades brasileiras da companhia preocupa até o Governo de São Paulo.
Ela [Caterpillar] pode desligar a chave aqui [SP] e ligar em outro lugar para fazer a exportação, disse Tarcísio de Freitas, governador do estado.
[2] Toyota. A unidade americana da fabricante doou US$ 1 milhão (R$ 5,59 milhões) para a cerimônia. Em nota, ela disse que exporta motores do Corolla do Brasil para os Estados Unidos, mas não deu estimativa de impacto com a sobretaxa de 50%.
[3] JBS. A Pilgrims Pride foi a maior doadora de todo o evento, destinando US$ 5 milhões (R$ 28 milhões). Ela é uma subsidiária americana da brasileira JBS.
Ainda que seja uma grande exportadora, o impacto pode não ser tão grande para ela. O gigante brasileiro também é o maior player do setor de carnes dos EUA e pode abastecer boa parte do mercado americano com suas operações naquele país.
**PINGANDO NA CONTA**
O salário bruto isto é, sem descontos de impostos e outros encargos de um presidente dos Estados Unidos é de cerca de US$ 33 mil (R$ 184,5 mil) mensais, segundo um levantamento da BBC de 2024.
A fortuna de Donald Trump é muito maior do que o salário de quatro anos de mandato oferece e ela continua crescendo. Hoje, vamos explorar como o presidente americano fica mais rico ao mesmo tempo que governa uma nação.
AMANTE DOS ESPORTES (?)
Na última terça-feira (29), Trump inaugurou mais um campo de golfe da sua empresa Trump Golf, desta vez na cidade de Balmedie, na Escócia. Hoje, a companhia tem 18 propriedades ativas.
Lá, o líder passou cinco dias em visitas e foi acompanhado pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, em um passeio pelo terreno esportivo na segunda-feira.
No dia seguinte, recebeu o primeiro-ministro da Escócia, John Swinney, que gerou controvérsia ao conceder subsídios para a realização de um torneio de golfe na propriedade.
A oposição olha com desconfiança para estas interações: apontam que líderes nacionais podem apoiar as empresas de Trump para agradá-lo e obter vantagens políticas como uma tarifa mais branda, quem sabe?
CONTANDO AS MOEDAS
Em janeiro, poucos dias antes de tomar posse como presidente, Trump anunciou o lançamento de uma memecoin, um tipo de criptomoeda, que leva seu nome.
Ela atingiu um pico de valorização de mais de US$ 14,5 bilhões (R$ 81 bilhões) dois dias depois do lançamento. Depois, o valor recuou aos poucos.
O líder é cofundador emérito da World Liberty Financial, uma empresa de criptoativos que recebeu transações de empresas de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Além disso, ele fundou em 2021 a Trump Media, holding por trás da Truth Social, a rede social que criou para seus correligionários.
Com capital aberto na Nasdaq, hoje a empresa é avaliada em US$ 4,92 bilhões (R$ 27,5 bilhões).
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Microbiota lucrativa. Uma bactéria encontrada no Ceará ajuda produtores como seguro contra a seca, protegendo as plantas da perda de água.
Adiós. A Nissan anunciou que fechará sua fábrica no México, a primeira inaugurada fora do Japão. O setor dos automóveis é pressionado pelo tarifaço.
Sem brincadeira. A polícia de Xangai, na China, prendeu oito pessoas em uma operação para desarticular uma organização criminosa que vendia bonecas Labubu falsificadas.
De volta. O Bradesco anunciou o crescimento do lucro para R$ 6,1 bilhões no segundo trimestre. O resultado é 28,6% maior que o registrado no mesmo período de 2024.
Liberou. As bets da Caixa receberam a autorização do Ministério da Fazenda para operar.