SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, conversaram por telefone na semana passada, de acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira (28) pelo jornal americano The New York Times.
A ligação ocorreu após o governo americano determinar a maior mobilização militar na América Latina em décadas -um acúmulo de tropas, aviões e navios de guerra com o objetivo declarado de combater o tráfico de drogas e, de forma implícita, pressionar Maduro a deixar o poder.
A reportagem do New York Times diz que o telefonema ocorreu em algum momento no final da semana passada, de acordo com autoridades americanas que falaram sob condição de anonimato.
Os dois líderes teriam conversado sobre uma possível visita de Maduro aos EUA e um encontro com Trump -o ditador é oficialmente procurado pelas agências antidrogas americanas como suposto líder de uma facção de narcotraficantes, o que ele nega.
Pessoas próximas ao regime disseram ao jornal que não há nenhuma visita programada. Desde que assumiu o poder na Venezuela, Maduro só esteve nos EUA em três ocasiões: 2014, 2015 e 2018, sempre para discursar na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York.
A última vez em que um líder venezuelano visitou os EUA para uma reunião bilateral com um presidente americano foi em 1999, quando o recém-eleito Hugo Chávez encontrou Bill Clinton.
O secretário de Estado, Marco Rubio, também teria participado da ligação entre Trump e Maduro. Rubio está à frente da linha dura da Casa Branca que apoia uma intervenção militar dos EUA na Venezuela a fim de derrubar o regime -filho de cubanos exilados, o chefe da diplomacia americana defende há anos que Washington trabalhe ativamente para remover do poder os regimes de esquerda na América Latina.
Em outubro, a imprensa americana publicou que Maduro teria oferecido ao governo americano uma participação significativa nos campos petrolíferos do país como parte de um acordo para evitar uma invasão e permanecer no poder. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo.
Entretanto, influenciado por Rubio, Trump teria recusado a proposta, insistindo ao ditador que ele deveria abandonar o cargo. Nenhum dos dois governos confirmou as conversas, mas Maduro tem feito apelos públicos à paz em discursos recentes.
No último dia 16, o líder autoritário cantou a música “Imagine”, de John Lennon, e disse que é preciso “fazer tudo pela paz”.
Em paralelo às movimentações diplomáticas nos bastidores, os EUA vêm aumentando a presença militar próxima da Venezuela, e o número de mortos em ataques no Caribe e no Pacífico não para de crescer. Desde setembro, as forças americanas atacaram mais de 20 embarcações que afirmam pertencer a narcotraficantes, resultando em pelo menos 83 mortes.
Até aqui, o Pentágono não apresentou evidências para embasar a acusação, e pelo menos um homem que sobreviveu a um ataque e foi deportado ao Equador acabou solto pelas autoridades por falta de provas.
Também nesta sexta, o jornal Washington Post publicou que o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, ordenou para “matar todos” os homens suspeitos de traficar drogas no primeiro ataque americano contra uma embarcação no Caribe este ano.
Na quinta (27), Dia de Ação de Graças nos EUA, Hegseth visitou o porta-aviões USS Gerald Ford, o maior navio de guerra do mundo que está estacionado nas águas da América Latina como parte da campanha militar contra a Venezuela.
No mesmo dia, Trump disse a jornalistas que os EUA farão “muito em breve” ações em terra contra o tráfico de drogas na Venezuela.
“Quase paramos [o narcotráfico], 85% dele foi interrompido por via marítima”, disse Trump em uma videoconferência de seu resort, Mar-a-Lago, na Flórida. “E também começaremos a detê-los em terra. É mais fácil em terra, mas isso começará muito em breve”, acrescentou.