SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As forças de segurança do Irã prenderam “de forma violenta” a ativista Narges Mohammadi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2023, durante uma cerimônia em memória de um advogado na cidade de Mashhad, no leste do país, disseram seus apoiadores nesta sexta-feira (12).
A vencedora do Nobel, que havia obtido em dezembro de 2024 uma permissão temporária para deixar a prisão, foi detida ao lado de outros ativistas no evento realizado em homenagem a Khosrow Alikordi, encontrado morto em seu escritório na semana passada, de acordo com a Fundação Narges Mohammadi.
O marido da ativista, Taghi Rahmani, que vive em Paris, também escreveu no X que Mohammadi foi presa. O regime iraniano não se pronunciou sobre o assunto, e o paradeiro dela é desconhecido.
Em resposta ao incidente, o Comitê do Nobel em Oslo, na Noruega, condenou a “prisão brutal” de Mohammadi e exigiu sua soltura imediata. “O Comitê Norueguês do Nobel pede que as autoridades iranianas esclareçam imediatamente qual o paradeiro de Mohammadi, bem como garantam sua segurança e integridade física e a libertem incondicionalmente”, afirmou o órgão.
Após passar grande parte da última década presa por sua luta a favor dos direitos humanos no país persa, Mohammadi estava em liberdade provisória por razões médicas. Depois de solta, ela ficou em uma residência privada, segundo o Comitê Nobel. Na época, a organização afirmou que a libertação temporária era insuficiente e lembrou que a ativista sofre de “numerosas patologias pulmonares e cardíacas”.
“Depois de uma década de encarceramento, Narges precisa de atenção médica especializada em um ambiente seguro”, escreveu, em nota, o comitê.
Mohammadi é perseguida há décadas pelo regime iraniano por seu ativismo, iniciado quando ela ingressou na universidade, e por artigos escritos em favor dos direitos das mulheres no país. Em julho, o Comitê do Nobel informou que ela vinha recebendo ameaças de morte.
A vencedora do Nobel já foi presa mais de dez vezes pelas forças estatais e condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas. Mesmo detida, foi uma ativa apoiadora das manifestações “Mulheres, Vida, Liberdade”, de 2022 e 2023, lideradas por mulheres em reação à morte de Mahsa Amini, que estava sob custódia da polícia moral iraniana depois de ter sido detida por suposto uso incorreto do véu islâmico.
A ativista ficou detida na penitenciária de Evin, em Teerã, e seus advogados já tinham manifestado o temor de que ela pudesse ser capturada novamente e enviada de volta à prisão um dos locais atacados por Israel na guerra de 12 dias contra o Irã.
Em 2023, ela venceu o Nobel “por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e a promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos”. Seus filhos receberam o prêmio em seu nome, já que na época ela também estava presa.
Em março, ela voltou a questionar o Irã e disse que as mulheres derrubarão o regime islâmico estabelecido após a revolução de 1979. “As mulheres se levantaram contra a República Islâmica de tal maneira que o regime já não tem poder para reprimi-las”, afirmou em mensagem de vídeo, em farsi, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
A ativista é vice-chefe do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, uma organização não governamental liderada por sua conterrânea Shirin Ebadi, advogada, ex-juíza e também vencedora de um Nobel da Paz.
Alikordi, o advogado homenageado na cerimônia desta sexta, ganhou notoriedade ao defender clientes em casos delicados, incluindo pessoas presas na repressão aos protestos nacionais que eclodiram em 2022.