RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Há um mês, a indústria de máquinas agrícolas previa rever a projeção de crescimento no ano, após ter em maio alta de 30% nas vendas em relação ao mesmo mês de 2024. Junho confirmou o cenário, com aumento de 20,7% na receita, mas surgiu o “efeito tarifaço” que deixou o panorama imprevisível.
Impulsionado pelo desempenho de feiras agrícolas no primeiro semestre, como Agrishow e Tecnoshow, o setor de máquinas e implementos agrícolas tinha crescido 22,8% de janeiro a maio, e previa ter um acumulado no ano de 9% de alta, acima dos 8% projetados inicialmente pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). A entidade já previa um segundo semestre de dificuldades econômicas para o setor, antes mesmo do anúncio dos Estados Unidos.
Com a tarifa aplicada pelo governo norte-americano, porém, a entidade informou nesta quarta-feira (30) minutos antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinar decreto que implementa uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, não ter como prever o desempenho do setor devido às incertezas sobre quais segmentos e como serão atingidos pela tarifa.
“Na última reunião falei, ‘olha, nós vamos ter que rever isso aí, porque agora se passaram seis meses, está com mais de 20% [de alta]’. Então a gente estava se preparando para olhar o ano com um número maior […] Com o tarifaço do Trump, as coisas ficaram nebulosas, porque você acrescentou um fator comportamental, econômico e comportamental, econômico nas culturas que serão afetadas diretamente, café, laranja e bovinos, no nosso caso. A gente tem uma estimativa que essas culturas representam 17% do mercado de máquinas agrícolas, não sabemos o que vai acontecer”, disse Pedro Estevão, presidente da Câmara de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq.
O suco de laranja está entre as 694 exceções da decisão de Trump, ao lado de produtos do segmento de aeronaves e petróleo, entre outros. A lista não especifica tratores e colheitadeiras, base do setor de máquinas.
Após o anúncio do governo norte-americano, a Abimaq não informou sobre eventuais exceções.
Nos seis primeiros meses do ano, a indústria de máquinas vendeu R$ 33,19 bilhões, com 27.415 tratores e colheitadeiras, 15,4% acima do acumulado no primeiro semestre de 2024 (23.756 unidades) e com peso maior no mercado interno.
Só em junho, as vendas atingiram R$ 6,3 bilhões, 12,2% acima do mesmo mês no ano passado.
Enquanto o comércio local teve alta de 19,1%, as exportações caíram 13,5%, em boa parte devido à redução de compras pelos Estados Unidos. O país, principal mercado das exportações do setor (26,6%), reduziu os embarques em 12,1% de janeiro a junho, puxados pelo menor consumo de máquinas brasileiras para o agro e para a construção.
Por outro lado, as vendas para três países sul-americanos cresceram muito em 2025: Argentina (+55,3%), Peru (+18,5%) e Chile (+12,1%).
Estevão afirmou que, além do pessimismo ligado às culturas potencialmente afetadas pela tarifa extra, outras atividades agrícolas passam a demonstrar insegurança.
“A gente vinha num ano de recuperação muito bom. Apesar do juro alto, a gente estava otimista, ou seja, a gente ainda acha que todo recurso do Plano Safra vai ser consumido pelos agricultores e agora, com esse negócio do Trump, vou ter que esperar o mês que vem para ver o que aconteceu, para avaliarmos melhor o cenário e falar [os rumos do setor]”, disse.
Embora o crescimento de 20,7% em relação a 2024 seja robusto, ele ocorreu sobre uma base baixa do ano passado, prejudicado devido à seca muito forte, que derrubou a produtividade do agricultor e, consequentemente, a rentabilidade, de acordo com ele.