[AGÊNCIA DC NEWS]. As vendas no comércio varejista fecharam o primeiro semestre com crescimento de 1,8%, mostrando menos dinamismo em relação a igual período de 2024, quando a alta foi de 4,7%. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, aponta estabilidade nos três últimos meses, com resultados no campo negativo. Uma estabilidade “com viés de baixa”, segundo o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. Em relação ao último mês de alta (março), a atividade cai 0,8%. “Março foi justamente o fim de um período que levou ao patamar recorde da série histórica”, afirmou. “Portanto, um dos fatores para essa queda combinada dos últimos três meses é a base alta de comparação.” Ele fala ainda em retração do crédito e “resiliência” da inflação, no primeiro semestre, em itens como a alimentação no domicílio. Os dados da inflação divulgados nesta semana, também pelo IBGE, mostram queda nos preços de alimentos no domicílio – e aumento fora (lanche e refeição).
De acordo com a pesquisa, as vendas no varejo variaram -0,1% de maio para junho, após -0,4% e -0,3% nos dois meses anteriores. Além da alta de 1,8% no semestre, o IBGE apura crescimento de 2,7% em 12 meses. No varejo ampliado (que inclui veículos&peças, material de construção e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo), houve queda de 2,5% no mês. Com isso, o setor fechou o semestre com +0,5%, além de +2% em 12 meses.
Segundo o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (IEGV-ACSP), os resultados surpreenderam negativamente, principalmente no ampliado. “O varejo mais atrelado ao crédito é o que está sofrendo mais, desacelerando”, afirmou, citando veículos&peças (-6,7% de maio para junho) e material de construção (-3,6%). Isso acontece mesmo com a renda em crescimento, pelo menos até agora. “Os juros estão altos, as famílias estão endividadas, a inadimplência também está alta.”
Mesmo o leve crescimento ante junho de 2024 (0,3%) se deve a um fator que Ruiz de Gamboa chama de “episódico”, relacionado ao clima. “O frio ajudou as vendas de vestuário”, disse o economista. Esse segmento cresceu 6,4% na comparação interanual. Para o segundo semestre, a expectativa é de que “a desaceleração continue e talvez se intensifique”. Ele mantém a projeção de crescimento em torno de 2% nas vendas deste ano.
SETORES – Entre os segmentos que mais cresceram de janeiro a junho, ante igual período de 2024, estão tecidos/vestuário/calçados (+5,5%), móveis&eletrodomésticos (4%), artigos farmacêuticos&perfumaria (3,4%), hiper&supermercados, que inclui produtos alimentícios&bebidas (+1,3%) e material de construção (+2,7%). As quedas foram do atacado de alimentos (-6,5%), livros/jornais/papelaria (-2,7%) e equipamentos de informática&material de escritório (-0,7%).
Na comparação de junho com igual mês de 2024 (+0,3%), a PMC mostra equilíbrio entre resultados positivos e negativos. Tecidos&vestuário, por exemplo, cresce 6,4%, somando 5,5% no semestre. Segundo o IBGE, o segmento se mantém em linha com balanços de grandes empresas do setor, “que indicam crescimento impulsionado por ações de preço, lançamento de coleções e eficiência operacional”. As vendas de hiper&supermercados têm retração de 0,5% ante junho do ano passado. Em 12 meses, mostra desaceleração: crescia 4,6% em dezembro e agora sobe 2,3% – exatamente a metade. Equipamentos de informática&material de escritório, que cai (-0,7%) no semestre, tem alta de 0,6% na comparação com junho de 2024. O gerente da PMC observa que o setor tem apresentado volatilidade. “Esse movimento acontece desde novembro de 2024 e é explicado pelas constantes oscilações do dólar”, disse. “Isso faz com que as companhias combinem estratégias de elevação dos estoques em momento de apreciação do real com posteriores ondas de promoção.”
No varejo ampliado, também em relação a junho de 2024, as três atividades tiveram queda: material de construção (-3,6%), veículos&peças (-6,7%) e atacado especializado em produtos alimentícios (-11%). No caso de veículos, segundo Cristiano Santos, uma das explicações está na base de comparação. “Houve forte expansão no primeiro trimestre de 2024” afirmou. No caso de material de construção, “há também um fator de redução no ritmo de obras de pequeno porte, também sentida no interanual”. E a queda no atacado de alimentos “tem a ver com a diminuição, constante ao longo de 2025, do volume de vendas e do escoamento da produção de grãos nas unidades do Ceasa”.
Os números da PMC mostram ainda desaceleração quando comparados com igual mês do ano passado. Em abril, o volume de vendas crescia 5,3% ante 2024; em maio, 1,7%; e agora, 0,3%. No varejo ampliado, +1,1% em abril, +1,65% em maio e -3% em junho.