SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A concorrência entre os marketplaces no Brasil se acirrou nos últimos três anos e a asiática Shopee, de Singapura, é a prova disso. De 2022 até agora, saiu das máscaras descartáveis e balas de goma para dar espaço aos smartphones e projetores como produtos líderes de vendas. No período, passou de 1.500 funcionários diretos para 25 mil, entre diretos e indiretos (a empresa já não faz distinção entre ambos).
A plataforma partiu de um único CD “cross docking” (centro de distribuição que recebe mercadorias de um fornecedor e as redistribui em poucas horas para o cliente final), em Barueri (SP), para 14 CDs em quatro das cinco regiões do país, sendo dois deles “fulfillment” (quando o marketplace fica responsável pelo estoque e gerencia todo o pedido até a entrega ao cliente). Com isso, consegue chegar a cerca de 75 cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais até o dia seguinte.
Ao inaugurar, no início deste mês, o seu CD em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, com infraestrutura para processar 3,8 milhões de pedidos por dia, a Shopee dobrou a sua capacidade logística no país.
“Hoje nós temos 70 milhões de usuários ativos mensais, é um terço da população brasileira”, diz à Folha Felipe Piringer, diretor de marketing da Shopee no Brasil. O impacto da varejista online pode ser medido também pela concorrência: rivais como o Mercado Livre passaram a adotar uma das marcas registradas da asiática, as promoções em datas dobradas.
A próxima delas, 11/11, data já próxima da Black Friday que a empresa usa para dar a largada nas promoções, terá campanha estrelada pelo ator americano Terry Crews. A ação vai representar a maior aposta da plataforma em seus cinco anos de Brasil, com a distribuição de R$ 20 milhões em cupons, o dobro do valor investido na data no ano passado. “A gente vende mais no 11/11 do que na Black Friday, é a nossa principal data no ano”, diz Piringer.
Em relação à última sexta-feira de novembro, a data mais esperada do ano para marketplaces em geral e varejistas de eletrônicos e eletrodomésticos, a Shopee vai distribuir R$ 16 milhões em cupons, também o dobro do valor distribuído na data em 2024.
Isso significa que o cliente que quiser comprar um celular por R$ 900, por exemplo, pode encontrar um cupom de R$ 50 de desconto no carrinho de compras virtual. O benefício é negociado entre a Shopee e os vendedores na plataforma (chamados de “sellers”), que hoje somam 3 milhões, contra 2 milhões de três anos atrás. A Shopee cobra 20% e mais R$ 4 de comissão sobre a venda desses parceiros.
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OS PRODUTOS MAIS VENDIDOS DA SHOPEE BRASIL EM 2025
1 – Smartphone
2 – Projetor
3 – Bicicleta ergométrica
4 – Console de videogame
5 – Jogo de lençol
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De acordo com profissionais do mercado de eletrônicos, que preferem manter anonimato, a Shopee ainda não tem o peso do Mercado Livre ou da Amazon em venda de smartphones, mas vem se mostrando agressiva. Em categorias onde querem avançar mais depressa, como a de celulares, negocia comissões menores com os vendedores para conquistar um preço mais atrativo que o da concorrência.
Piringer não revela faturamento. De acordo com estimativas da consultoria BRT Varese, em 2024, a Shopee ficou em terceiro lugar nas vendas online no Brasil, com um GMV (vendas brutas, sem contar devoluções e cancelamentos) de R$ 40 bilhões, à frente da Amazon (R$ 39 bilhões). O ranking nacional é puxado por Mercado Livre (R$ 138,9 bilhões) e por Magalu (R$ 46,1 bilhões), segundo a consultoria.
Em entrevista à Folha em maio, o CEO do Mercado Livre no Brasil, Fernando Yunes, disse que respeitava a Shopee e estava disposto até a adotar algumas ferramentas de players asiáticos, como a gamificação. Mas criticou a falta de controle sobre produtos piratas e vendidos sem nota fiscal na rival.
“Temos regras bem rígidas para os vendedores e contamos com uma checagem automática da listagem de produtos, além de uma equipe interna grande para acompanhar essa checagem”, diz Piringer, sem revelar quantas pessoas têm essa função.
“São mais de 3 milhões de indústrias brasileiras renovando uma base de mais de 100 milhões de SKUs [códigos de produtos] quase diariamente. É um trabalho grande, mas eu sinto que temos evoluído muito.”
Em junho, o argentino Mercado Livre adotou o frete grátis a partir de compras de R$ 19 até então, o mesmo patamar exigido pela Shopee para não cobrar a entrega. A partir de julho, a Shopee passou a adotar frete grátis a partir de compras de R$ 10.
“As vendas online no Brasil representam 14% do varejo total, tem muito espaço para todo mundo crescer”, diz Piringer, que vê o setor de moda como uma categoria promissora, assim como o de autopeças. “Hoje mais de 90% das nossas vendas são de sellers brasileiros, a ‘taxa das blusinhas’ teve pouco impacto”, afirma, a respeito do início da cobrança de imposto sobre produtos importados no valor de até US$ 50 (R$ 269), adotada desde agosto do ano passado.
Criada em 2015 em Singapura, a Shopee está presente hoje em oito países do sudeste asiático e veio para o Brasil em 2020. Na sequência, abriu operações na Colômbia, no Chile e no México. “O Brasil é uma das prioridades do grupo como um todo”, afirma o executivo.
O controlador da Shopee é o grupo Sea, que em 2024 faturou US$ 16,8 bilhões (R$ 90,3 bilhões). Além do comércio eletrônico, o Sea atua no mercado financeiro (com a fintech Monee) e no entretenimento (com a Garena, dona do jogo mobile Free Fire). No balanço do segundo trimestre deste ano, o grupo afirmou que a Shopee é o marketplace líder em número de pedidos no Brasil sem revelar quantos são.