BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os depoimentos do ex-banqueiro Daniel Vorcaro e do ex-presidente do BRB (Banco de Brasília), Paulo Henrique Costa, à Polícia Federal apresentaram divergências que levaram a uma acareação na noite desta terça-feira (30). O diretor de fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, foi dispensado da confrontação de versões.
Vorcaro e Costa estiveram pessoalmente no STF (Supremo Tribunal Federal) para depor no caso Master, cujas apurações estão sob a responsabilidade do ministro Dias Toffoli. Investigados, o ex-banqueiro e o ex-dirigente do BRB foram interrogados por mais de duas horas, cada. A PF e um juiz auxiliar que atua no gabinete do ministro decidiram pela acareação, concluída às 21h35.
Também convocado a dar explicações à polícia, o diretor Ailton de Aquino começou a depor no início da noite, depois de aguardar no tribunal por mais de cinco horas. Toffoli, por meio de seu juiz auxiliar, decidiu por dispensar o representante do BC da acareação.
Instituições financeiras tinham reagido a uma potencial acareação envolvendo Aquino. Em uma nota conjunta, entidades como Febraban (federação dos bancos) e ABBC (associação de bancos), defenderam o BC e afirmaram que “a presença de um regulador técnico e, sobretudo, independente do ponto de vista institucional e operacional, é um dos pilares mais importantes na construção de um sistema financeiro sólido e resiliente”.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o aparente recuo de Dias Toffoli sobre promover uma acareação de Vorcaro, Costa e Aquino poderia não se confirmar.
Apesar da informação repassada na segunda (29) pela assessoria do ministro de que caberia à Polícia Federal avaliar se haverá necessidade de colocar os três depoentes frente a frente, não houve mudança de procedimentos, de acordo com pessoas a par do tema ouvidas pela reportagem.
A estratégia do ministro de passar a responsabilidade da acareação para a PF, mas seguir com o script inicial antes da otiviva da delegada Janaína Palazzo, levantou desconfianças sobre um tentativa de passar a mensagem de que a acareação ocorreu por conta de informações apresentadas durante o depoimento.
A acareação serve para sanar inconsistências em depoimentos com declarações divergentes em um processo penal entre acusados, vítimas e testemunhas, por exemplo. O confronto dos relatos ajuda o juiz a buscar a versão mais fidedigna antes de sua decisão.
Toffoli tinha marcado a acareação antes de serem tomados depoimentos individuais pela polícia e apontadas contradições objetivas entre os personagens do caso.
O processo é sigiloso. Desde o começo de dezembro, diligências e medidas ligadas à investigação sobre o Master e Vorcaro têm que passar pelo crivo de Toffoli, por decisão do próprio magistrado.
A investigação sobre a tentativa de venda do Master apontou que, antes mesmo da formalização do negócio, o banco teria forjado e vendido cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito consignado para o BRB -R$ 6,7 bilhões em contratos falsos e R$ 5,5 bilhões em prêmios, o valor que supostamente a carteira valeria, mais um bônus.
O escândalo do Master levou à liquidação do banco em 18 novembro e à prisão de Daniel Vorcaro, seu controlador, por 12 dias. Ele segue monitorado por tornozeleira eletrônica.
A urgência na determinação de uma audiência com um representante do Banco Central tem levantado outros temores com as investigações sob a responsabilidade de Toffoli.
Pouco antes do Natal, dois oficiais de Justiça estiveram no Master, em São Paulo, à procura do liquidante da instituição, Eduardo Félix Bianchini, o que alimentou a expectativa de que ele seja intimado para prestar esclarecimentos nos próximos dias.
Servidor aposentado do Banco Central e escolhido pelo regulador para cuidar da liquidação do banco de Vorcaro, Bianchini passou o Natal com a família fora de São Paulo e não estava no escritório durante a visita dos oficiais.
O gabinete de Toffoli negou, por meio da sua assessoria, que tenha partido dele o envio de oficiais de Justiça para intimar o liquidante do Master.