[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Com o impulso das vendas de fim de ano, os supermercados paulistas devem encerrar 2025 com crescimento real acima de 3,5%, impulsionados por um cenário de estabilidade: itens sazonais com reajuste previsto abaixo de 1%, desemprego baixo e dólar e clima sem grandes oscilações. No ano passado, o setor cresceu 3% e faturou R$ 328 bilhões. A expectativa é de Erlon Ortega, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Apesar das projeções favoráveis para o acumulado do ano, o setor enfrenta um obstáculo que tem limitado o ritmo de expansão: a dificuldade de contratar. Hoje, 35 mil vagas seguem abertas nos supermercados do estado – o equivalente a 4% da força de trabalho do setor. “Não podemos mais chamar de vaga temporária. Todas as vagas abertas são permanentes”, afirma Ortega. A escassez de mão de obra qualificada, segundo ele, é o principal gargalo para sustentar o ciclo de crescimento.
A última análise de preços da APAS mostra que os preços nos supermercados paulistas voltaram a recuar: o Índice de Preços dos Supermercados (IPS) registrou queda de 0,49% em setembro de 2025, em grande parte puxada pela deflação em alimentos in natura – queda de até 5,16% em produtos como tubérculos, verduras e ovos – e por retração nos artigos de limpeza.Segundo o presidente da associação, o movimento sinaliza que “o consumidor está sentindo no bolso o reflexo da safra favorável e da normalização dos custos”, o que, na avaliação dele, ajuda a reforçar o otimismo do setor. “Hoje há uma regularidade geral. Não tem nenhum item em franco aumento”, afirma Ortega.
O comportamento do consumidor também reforça o quadro positivo esperado para o final de 2025. Depois da crise do metanol, a entidade reportou aumento nas vendas de bebidas alcoólicas, já que o consumidor passou a priorizar canais de confiança — tanto no físico quanto no digital operado pelas próprias redes. “Isso trouxe o consumidor de volta ao supermercado”, afirma Ortega. Ele destaca ainda que, com a inflação mais comportada e a gôndola sem itens em “franco aumento”, a tendência é de menor troca de marcas e de uma cesta mais estável, sem precisar abrir mão de itens sazonais. Tudo isso vem atrelado a outro fator decisivo nas compras: a duração ampliada das festas, já que o Natal cairá em uma quinta-feira, tornando o feriadão prolongado oportunidade para visitas adicionais às lojas e reposições de última hora. Confira a entrevista.
AGÊNCIA DC NEWS – O senhor pode descrever brevemente o ano de 2025 para o setor?
ERLON ORTEGA – Terminamos o ano passado com pico inflacionário, que entrou em desaceleração mais ou menos na segunda quinzena de janeiro. Veio um pouco de deflação, uma certa estabilidade, que marcou o ano inteiro. Acredito que o setor está carregado de otimismo para os próximos períodos.
AGÊNCIA DC NEWS – E como esse otimismo se reflete nos números?
ERLON ORTEGA – Nós estamos prevendo um aumento real nas vendas superior a 3,5% em relação ao ano passado. Isso se deve a alguns fatores, como desemprego, que está num número muito baixo, o menor de todos os tempos. Outra notícia positiva é que teremos um Natal praticamente sem aumento de preços, principalmente dos produtos natalinos. Os alimentos sazonais estão com um aumento previsto abaixo de 1%, quer dizer, praticamente não teremos aumento.
AGÊNCIA DC NEWS – Esses dados são resultado de quais aspectos dos últimos meses?
ERLON ORTEGA – Ao contrário do ano passado, vivemos um período de estabilidade climática que já dura meses, e isso ajuda muito principalmente para a produção de frutas da época. Também estamos com uma certa estabilidade no valor do dólar. Passamos esse período do tarifaço como um susto inicial que, na prática, na prateleira mesmo, não teve grandes efeitos. Então eu acredito que esses fatores fazem com que a expectativa para o final do ano seja bastante positiva.
AGÊNCIA DC NEWS – O senhor citou o número de desemprego. O que mais pode influenciar o aumento do consumo das famílias neste ano?
ERLON ORTEGA – O Natal de 2025 vai cair em uma quinta-feira, então vira um feriadão. Isso sempre traz um almoço a mais, um churrasco na casa de parente. Isso acaba tendo um reflexo expressivo no consumo e nas festas de quem vai receber a família.
AGÊNCIA DC NEWS – No primeiro semestre, vocês divulgaram um estudo apresentado no Apas Show 2025. Essa pesquisa aborda muito as adaptações feitas pelo consumidor para não cortar itens da lista de compras, como a troca entre proteínas, de marcas e até locais de compra. Essa tendência vale para o final do ano?
ERLON ORTEGA – Eu diria que hoje há uma regularidade geral. Não tem nenhum item em franco aumento na gôndola, na verdade os preços de muitos produtos que sofreram aumento nos últimos anos vêm caindo, como o azeite e o arroz. Então, de maneira geral, estamos com uma cesta natalina no mesmo preço do ano passado. Se continuar nesse formato, eu acredito que não haverá essa migração para outras proteínas e produtos.
AGÊNCIA DC NEWS – E sobre mudar o local de compra e dar preferência para marcas mais populares?
ERLON ORTEGA – Por causa dessa estabilidade e até certa deflação, eu acredito que o consumidor troque menos de marca, que procure menos logotipos de primeiro preço. É o momento que o poder de compra o permite escolher as marcas que prefere.
AGÊNCIA DC NEWS – No mesmo estudo, foi divulgado que 54% dos consumidores preferem comprar em mercados menores, de bairro. Isso também vale para o final do ano ou essa época pede uma compra mais completa, em uma grande rede de supermercados?
ERLON ORTEGA – O que está por trás desse número é a questão da conveniência. Se os consumidores preferem mercados de bairro e dividir a compra em mais de um estabelecimento, é porque é mais conveniente para ele. Isso continua no final do ano. O ponto que eu quero destacar é que, com essa questão do metanol, vai haver um reforço na credibilidade dos supermercados.
AGÊNCIA DC NEWS – Pode explicar melhor?
ERLON ORTEGA – Percebemos um movimento dos consumidores voltando a comprar mais bebidas de supermercados. Ou até digitalmente, mas do canal de um estabelecimento de confiança, onde o próprio supermercado realiza a entrega. Onde, se o consumidor tiver algum tipo de problema, ele sabe onde reclamar fisicamente. Quando se compra pela internet, em outra plataforma, o produto é entregue por um terceiro que você não sabe quem é. Nem de onde, fisicamente, veio aquele produto. Eu acho que essa situação reforça a credibilidade de comprar alimento e bebida em supermercado. Essa percepção nunca deveria ter diminuído.
AGÊNCIA DC NEWS – Aproveitando o seu gancho, como as redes supermercadistas estão se preparando para a demanda do e-commerce no fim do ano? Essa tendência vale para os supermercados?
ERLON ORTEGA – Para o nosso setor, o e-commerce teve um boom na pandemia, quando todos tiveram que aprender a lidar com esse modelo. Depois, com a abertura das lojas, a procura por esse serviço teve uma redução e hoje acaba ficando estável. O único pico que temos no ano acontece geralmente na Black Friday. O que acontece também são os mercados menores que estabelecem uma relação digital bem próxima com o cliente, usando o WhatsApp Business, por exemplo.
AGÊNCIA DC NEWS – Passando agora para uma das principais dores do varejo atual: a mão de obra. Como essa questão tem se colocado no final do ano, quando tantas vagas temporárias são abertas?
ERLON ORTEGA – No estado de São Paulo, o setor emprega cerca de 700 mil pessoas e tem 35 mil vagas abertas, desocupadas. Essas 35 mil representam mais ou menos 4% das vagas necessárias. E essa dificuldade em preencher as vagas tem atrapalhado um pouquinho o crescimento do setor. Então não podemos mais chamar de vaga temporária, já que todas as vagas abertas na verdade são permanentes.
AGÊNCIA DC NEWS – E nessa época do ano existe alguma diferença entre o desempenho do setor no interior e na região metropolitana?
ERLON ORTEGA – Não, pelo contrário. Estamos acompanhando uma globalização de qualidade, de preço e de concorrência. Com redes do interior invadindo a capital. Redes de Bauru, por exemplo, abrindo unidades em áreas nobres, áreas periféricas e áreas centrais de São Paulo. Então, nós temos hoje uma mescla muito grande de redes do interior na capital. O movimento de redes da capital e grandes redes que tivemos há 15 anos atrás invadindo o interior, hoje está tendo um efeito contrário.
AGÊNCIA DC NEWS – Essas redes de interior também me remetem aos atacarejos. Essa modalidade cresceu neste ano? Terá um papel importante no final do ano também?
ERLON ORTEGA – Na verdade nós reparamos que o crescimento dos supermercados voltou a ser maior do que dos atacarejos. E hoje temos várias bandeiras com os dois formatos. Temos redes de supermercado médias e até minimercados que também operam como atacarejo. Então existe essa mescla, o cliente que quer menos serviço, mas mais produto para transformação, acaba buscando o atacarejo, e o cliente que quer mais serviço, um pãozinho moreninho, produto fatiado, a carne bifada, procura o supermercado.
AGÊNCIA DC NEWS – Passando um pouco a época das festas, em 2026 começa a valer o período de testes da reforma tributária. Pode me resumir como ela vai afetar o setor e como vocês têm se preparado?
ERLON ORTEGA – A APAS tem um comitê que trata a reforma tributária e fazemos vários cursos e seminários com os associados. Neste primeiro momento, nesse passo inicial de 2026, o consumidor provavelmente não perceberá nenhuma mudança. A partir de 2027, o setor como um todo precisará reaprender a fazer os cálculos de preço. Então, é um arranjo na formação de preços. Esperamos que o resultado final seja uma simplificação tributária sem aumento de custo ao consumidor final.