Varejo têxtil: crédito controlado, aumento de canais digitais, clima e reposicionamento de marcas

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Mudança de modelo na Hering: "Vender antes para depois comprar e produzir"
(Divulgação)
  • Na divulgação dos resultados do terceiro trimestre, empresas relatam efeito do clima (inverno mais prolongado) sobre as vendas
  • Desempenho da Hering tem impacto negativo sobre resultados da Azzas. Com novo CEO, marca passará por reestruturação
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Algumas das principais empresas de varejo e vestuário reportaram resultados trimestrais com efeitos do clima – inverno mais prolongado – e impacto de reposicionamento de marcas. Nesse último item, o caso da Hering se destaca. A margem Ebitda, por exemplo, foi de 16,1%, mas sem a unidade de negócios Basic teria sido de 18,4%. Desde outubro, a Hering tem novo CEO. Na apresentação de resultados, David Python (ex-Arezzo) anunciou “ajustes estruturais” na marca pioneira, criada em 1880 em Blumenau (SC). Ele estará ao lado de Fernando Porto (CCO) e Gustavo Rudge (COO).

Assim, segundo a companhia, sai um ciclo operacional com “perfil crescente” de risco, baseado em modelo de produção antes da venda, e entra um modelo vinculado à demanda: “Vender antes para então comprar e produzir”. Segundo o CEO da Azzas 2154 – que reúne todas as unidades –, Alexandre Birman, após um período de “aprendizado e correção”, as grandes mudanças já foram feitas. “Vamos entrar numa trajetória de crescimento e alavancagem operacional”, afirmou. Ele considerou o desempenho do terceiro trimestre “ok, satisfatório, mas sólido”. De acordo com o balanço divulgado pelo grupo, “a pressão de curto prazo está concentrada em uma única marca que passa por ciclo de transformação”. O que levará a um reposicionamento do mix: “Menos moda superficial e mais básico profundo”. A linha feminina foi o principal destaque positivo.

A empresa registrou lucro líquido de R$ 201,3 milhões no terceiro trimestre (+22,9% sobre igual período de 2024) e de R$ 602,7 milhões de janeiro a setembro (+42,9%). A receita líquida somou R$ 2,97 bilhões no trimestre (-2,3%) e R$ 8,6 bilhões no ano (+4,8%). O e-commerce representa 20% da receita bruta.

Escolhas do Editor

RENNER – Na Lojas Renner, os canais digitais representam 15,9% das vendas no acumulado do ano, (um ano antes era 15,7%), segundo o CEO da companhia, Fabio Faccio. “E o seu crescimento, a partir de agora, também é uma alavanca de rentabilidade da companhia”, disse o executivo. Na divulgação dos resultados, ele destacou a “dinâmica distinta” do clima em relação ao ano passado, que afetou os resultados. “Tivemos um outono normalizado em 2025, que favoreceu as vendas de itens de inverno no segundo trimestre”, afirmou. “Mas, por outro lado, limitou a disponibilidade desses mesmos itens no início do terceiro trimestre.” Naquele momento, a empresa optou por não aumentar o número de pedidos de produtos de inverno, temendo possível excesso de estoque. Mas as temperaturas mais frias persistiram, resultando em uma “perda de oportunidade de vendas” que ele estima em 2 a 3 pontos percentuais. As vendas no varejo cresceram 4,2% no trimestre (4,7% no vestuário).

Neste ano, foram inauguradas 18 lojas, sendo duas da Camicado, quatro da Renner e 12 da YouCom, voltado ao público jovem. “E cumpriremos nossa expectativa de abertura”, disse Faccio. A empresa prevê abrir de 30 a 37 lojas neste ano. A receita líquida do varejo somou R$ 2,9 bilhões no trimestre (+4,2%) e R$ 9,5 bilhões no ano (+11,6%). Também de janeiro a setembro, a Renner respondeu por R$ 7,8 bilhões (+11,8%), enquanto a maior alta percentual foi da YouCom: 17,3%, para R$ 368,3 milhões. A Camicado cresceu 3,6%, para R$ 396 milhões. Já a receita líquida de vestuário somou R$ 2,7 bilhões no trimestre (+4,7%) e R$ 8,4 bilhões no ano (+12,8%). O lucro líquido, de R$ 279,4 milhões no trimestre (+9,4%), soma R$ 904,9 milhões no ano (+27,5%).

A Realize, plataforma de crédito da Renner, teve resultado de R$ 79,8 milhões no trimestre (+36,9%). Resultado, segundo a empresa, de uma política conservadora. “Enquanto persistir um contexto macro incerto, seguiremos com uma oferta de crédito cautelosa, focada em perfis menos arriscados”, afirmou o CFO da empresa, Daniel Santos. O tíquete médio no ano está em R$ 209,2 (+4,4%), enquanto o dos Cartões Renner fica em R$ 281,1 (-0,5%).

Para os analistas da XP, a Renner teve resultados trimestrais mais fracos, com desaceleração das vendas mesmas lojas (3,1% no varejo, ante 11,5% no 3T24, 3,3% no vestuário, ante 11,9%) e Ebitda abaixo do esperado (R$ 514,1 milhões no varejo, -0,8%). “Embora reconheçamos que o clima teve um papel importante para conter o crescimento das vendas, os resultados devem aumentar as preocupações dos investidores”, afirmaram a CFA Daniella Eiger e os analistas Pedro Caravina e Laryssa Summer. “Especialmente considerando que a empresa já possui a maior produtividade entre os pares.”

RIACHUELO – No caso da Riachuelo, o CEO André Farber também citou os “desafios oriundos do clima, com inverno muito mais prolongado”. Segundo ele, a empresa foi conservadora nas compras. “Se o inverno tivesse sido mais curto, nossos resultados teriam sido melhores”, afirmou. O lucro líquido cresceu 63% em relação ao terceiro trimestre de 2024, para R$ 73,6 milhões. De janeiro a setembro, R$ 190,1 milhões (-R$ 15 milhões no ano passado). A receita líquida consolidada foi a R$ 2,4 bilhões no trimestre (+6,6%) e a R$ 7,3 bilhões no ano (+10,4%). E o Ebitda ajustado do terceiro trimestre foi recorde para o período: R$ 402,1 milhões (+14,8%), com margem de 16,4% (+1,2 ponto).

Na visão da XP, foi um trimestre sólido. A Guararapes compensou a desaceleração da receita, “amplamente esperada, com uma forte expansão da margem bruta”. O CEO da companhia, André Farber, destacou o nono crescimento em base anual do segmento financeiro (Midway). A carteira de crédito somou R$ 6,2 bilhões (R$ 5,7 bilhões até um ano). A inadimplência acima de 90 dias, nos cartões, está em 14,9% (15,6% há um ano). Para empréstimo pessoal, 25,1% (24%). A empresa diz manter “estratégia de evolução gradual da concessão de crédito, sem aumentar o risco da carteira”. Com 439 lojas (+4,5%), o tíquete médio é de R$ 197 (-1%).

Serviços financeiros são o segundo core da empresa, segundo Farber, atrás do segmento de moda. Na apresentação, ele ressaltou o relançamento da marca Pool, também voltada para o público jovem. “Mais do que um lançamento, [a linha] Pool Loop é a prova de que a economia circular é viável industrialmente”, afirmou a companhia.

C&A – A empresa teve receita líquida consolidada de R$ 1,8 bilhão no trimestre (+2,3% sobre 2024) e R$ 5,5 bilhões no acumulado do ano (+8,4%). No vestuário, esses valores foram de R$ 1,6 bilhão (+8,9%) e de R$ 4,8 bilhões (+13,8%), respectivamente. O lucro líquido ajustado foi de R$ 73,6 milhões no trimestre (+41,7%) e de R$ 200,9 milhões de janeiro a setembro (+312,3%). “O terceiro trimestre é tradicionalmente marcado pela transição da coleção de inverno para verão”, disse a empresa, em comunicado. Esse período “exige uma estratégia precisa no planejamento comercial para capturar as vendas residuais do inverno” e receber os novos produtos. A receita líquida de vestuário cresceu 8,9% no trimestre e somou R$ 1,6 bilhão. No ano, a alta chega a 13,8%, para R$ 4,8 bilhões. No segmento de eletrônicos&beleza, queda de 26,1% no trimestre e de 10,8% no acumulado de 2025. A C&A deixou de vender telefones celulares, fechando mais de 300 quiosques em um ano e meio.

Assim como relataram outras empresas do setor, a C&A manteve política conservadora no crédito: “Com foco na experiência do varejo e com disciplina na concessão de crédito”. A carteira ativa do C&A Pay (operação de crédito próprio da empresa), de 360 dias, fechou o trimestre em R$ 855,7 milhões (-3,5%), com base de clientes de 8,5 milhões. A participação nas vendas do varejo foi de 28,8% (+3,5 pontos percentuais). No segundo trimestre, a empresa encerrou parceria com o Bradescard.

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