ESPECIAL: 25 DE MARÇO - 160 ANOS. Como o lojista da 25 pode entrar no ambiente digital sem perder a potência do balcão

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Movimento físico x movimento digital: é possível seguir os dois caminhos sem prejuízo
(Rovena Rosa/Agência Brasil)
  • Planejamento, logística e segurança são pontos críticos para evitar prejuízos. Escolha do canal, logística e mix definem sucesso da operação
  • Vendas pela internet já representam 18,7% do comércio, segundo FGV IBRE. Segurança digital e automação evitam perdas de até R$ 35 bilhões
Por Anna Scudeller

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O comércio eletrônico deixou de ser tendência e passou a influenciar até os corredores mais tradicionais da 25 de Março. À medida que o e-commerce avança no Brasil, os lojistas da região começam a enxergar o digital como complemento estratégico ao balcão físico. E a estratégia está correta. Segundo a Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce (Abiacom, antiga Abcomm) as vendas online este ano devem somar R$ 234,9 bilhões e chegar a R$ 343,9 bilhões em 2029. Para quem vende no maior centro comercial popular da América Latina, abrir seu canal online não é só acompanhar o mercado, mas proteger o negócio no setor cada vez mais competitivo. Ao dar sequência ao Especial 25 de Março – 160 anos, a reportagem traz um guia direto, com especialistas, para quem empreende na maior rua de comércio popular da América Latina e quer dar os primeiros passos no ambiente digital.

A construção de uma 25 de Março mais digital está mais presente do que nunca. O pesquisador Lineu Oliveira, por exemplo, fala sobre o local se tornar um polo híbrido, com uma capacidade de atuação ampliada pela queda das barreiras físicas nos próximos anos. Entre os lojistas, donos de redes como Rei do Armarinho, Depósito de Meias São Jorge e Armarinho Ambar também dão seus passos em direção ao e-commerce – mas sem perder o seu DNA e vocação do bom e velho balcão. Segundo a Sondagem do Comércio do FGV Ibre, atualmente as vendas online representam 18,7% do total do comércio, o maior resultado desde o início da série histórica, iniciada em 2020. Para ajudar quem quer entrar nesse mercado, a reportagem consultou os especialistas Cláudio Felisoni, professor da FIA e presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) e o professor de varejo da ESPM Ricardo Pastore, que compartilham o caminho das pedras.

Confira as principais dicas para dar os primeiros passos no e-commerce com segurança.

Escolhas do Editor

ESTUDAR O MERCADO
“Sem planejamento não se chega a lugar nenhum”, disse Felisoni. Para começar, ele recomenda estudar sobre as plataformas de marketplace para compreender qual encaixa melhor com seu negócio, assim como entender se não seria o caso de um e-commerce próprio. “Mas varia do investimento disponível”, afirmou. “O pequeno comerciante pode se aproveitar da estrutura já existente dos marketplaces em exercício no Brasil.”

Pastore indica procurar um representante do Sebrae para auxiliar no processo de entrada no universo digital. “É preciso entender que é como se uma nova unidade fosse aberta”, disse. “O e-commerce não é a extensão da loja física.” Isso porque se trata de um novo CNPJ, o que exige um novo modelo de negócio voltado às necessidades do comércio online. “O maior erro é pensar que é só adaptar para o digital. É montar um novo modelo”, afirmou.

INVESTIR EM LOGÍSTICA
Hoje, uma das principais questões do e-commerce é o frete de produtos e como o varejista deve assumir e lidar com esse gasto, seja na forma de assimilá-lo ou retrabalhar o preço dos produtos para suprir essa despesa. O professor Pastore lembra que há a possibilidade de parcerias com transportadoras tradicionais e o envio por Correios, além de que há modelos de operação como o do Mercado Livre, em que o próprio marketplace assume as responsabilidades e custos da entrega. “A questão é definir o que vale mais a pena considerando o modelo de negócios dele”, disse. Felisoni reforça que cada caso é uma realidade diferente, e que é preciso analisar as necessidades do negócio. “O quanto o varejista está disposto a investir.”

Sem contar a importância de investir em segurança e automação. Conforme a Associação Brasileira de Proteção de Perdas (Abrappe), falhas administrativas representam em torno de 15% do total de perdas. No ano passado, as perdas ligadas à falta de automação somaram cerca de R$ 35 bilhões, destes, R$ 5 bilhões são fruto de perdas administrativas, conforme relatório da Abrappe em parceria com a KPMG. Pastore diz que o varejista ainda vê a questão como “mais um gasto”, e não como um investimento de fato. “É algo importante de se investir, porque não são apenas os dados dele, mas também os do cliente.”

OLHAR PARA A EXPERIÊNCIA DE COMPRA
Os especialistas apontam que o investimento inicial em tráfego pago pode ser diferencial, mas têm visões diferentes quanto à urgência disso. Pastore recomenda que o comerciante que adentra o mercado digital invista nisso desde o princípio, em especial se o objetivo é expandir a base de clientes. Felisoni, porém, diz que é necessário analisar o contexto do varejista e se o tráfego pago é algo primordial, principalmente nos casos em que os recursos são escassos. 

O professor da ESPM diz que é interessante também estudar estratégias complementares, como a parceria com influenciadores e o uso de canais emergentes, com destaque para as redes sociais com marketplace na mesma plataforma – como é o caso do Instagram, TikTok, Kwai e, futuramente, o YouTube. Ele também destaca que é essencial integrar os canais de comunicação para facilitar a jornada do cliente. “O que, claro, tem um custo alto, mas ajuda a fidelizar no longo prazo”, disse Pastore.

SER ASSERTIVO NO MIX
Os profissionais afirmam que é essencial ajustar o mix de produtos conforme o comportamento dos clientes e performance no digital. “É o mesmo princípio de que algumas coisas vendem mais em uma unidade do que em outra”, afirmou Pastore. “O contexto local influencia nas vendas da loja física, no online, cada plataforma se comporta diferente.” Felisoni complementa a ideia ao dizer que o online não deve ser uma extensão do estoque da loja física, uma vez que cada negócio tem necessidades distintas e, consequentemente, demandas diferentes por parte dos consumidores. Por isso, Pastore aponta a possibilidade de explorar novas categorias que não são vendidas com frequência na loja física, mas que podem encontrar demanda no virtual.

Uma forma de definir o mix de produtos é analisar os indicadores do e-commerce. Pastore recomenda analisar o custo de aquisição do cliente (CAC) e lifetime value (LTV) para medir aquisição e fidelidade de clientes, que também é relevante para ajustes administrativos. “Mas é superimportante medir se as pessoas estão voltando.”

SABER QUEM É SEU CLIENTE
É preciso definir uma estratégia clara para a atuação nesses canais conforme o perfil do comerciante. Ambos profissionais destacam que não existe plataforma única melhor para todos, a escolha depende do segmento e objetivos do empreendedor, assim como do valor disponível para o investimento. A principal dica, segundo Pastore, é identificar se busca estender o atendimento aos clientes atuais ou atrair novos públicos, o que impacta diretamente o nível de investimento e estrutura necessária. 

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