[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
A reestruturação do Grupo Carrefour após a saída da B3, em maio, deu ao Sam’s Club um papel ainda mais estratégico no novo arranjo decisório da multinacional francesa. O clube de compras, que completou 30 anos em outubro, respondeu por 7% das vendas do grupo em 2024, com expansão de 16,8% no ano – desempenho que reforça o plano de levar a bandeira a 100 lojas até 2030. À AGÊNCIA DC NEWS, o CMO do Carrefour e Sam’s Club, Júlio Alves, afirmou que fechar o capital foi decisivo para acelerar os processos internos: “Com a saída da bolsa, ganhamos velocidade na tomada de decisão”, disse. No terceiro trimestre de 2025, o Sam’s Club cresceu 0,8%, um ritmo superior ao da operação de supermercados Carrefour (que avançou 0,1%) e abaixo do Atacadão, com alta de 1,3%. Com 58 unidades e 3,9 milhões de sócios, o formato, segundo Alves, se consolida como uma das frentes mais relevantes do ecossistema operado pelo grupo no país.
Hoje o Sam’s Club é uma rede com 870 unidades em todo o mundo, majoritariamente administradas pelo Walmart. Ao todo são mais de 100 milhões de sócios do clube. O Brasil é o terceiro maior mercado em número de unidades, atrás dos Estados Unidos (599), México (168 lojas) e à frente da China, que tem 45 operações. Criada em 1983 em Oklahoma, a marca construiu sua proposta na combinação de sortimento reduzido, importados e marca própria voltada a sócios que buscam experiência e produtos diferenciados. No Brasil, a primeira unidade foi inaugurada em maio de 1995, em São Caetano do Sul (SP), marcando a entrada oficial do modelo no país. A diretriz da multinacional francesa, segundo Alves, é investir na atratividade de cada formato, o que envolve, no caso do Sam’s, a forma como o cliente se relaciona com a marca desde sua chegada ao Brasil. “O Sam’s gera muita percepção de valor”. De acordo com o executivo, o foco da varejista é um só. “Continuar crescendo e ganhando mercado.”
No balanço de 2024, o Sam’s Club registrou faturamento de R$ 7,3 bilhões, com avanço anual de 16,8% — desempenho que contrasta com o ritmo mais moderado do Grupo Carrefour Brasil, que cresceu 4,4% no período e faturou R$ 120,6 bilhões. Apesar do plano de chegar a cem lojas até 2030, o clube não inaugurou unidades neste ano. Segundo Alves, as decisões de abertura dependem de “uma centena de fatores”, entre eles o ambiente de consumo, os juros elevados e a reorganização administrativa após a saída da B3. Para o executivo, a expansão deve ocorrer “com responsabilidade e aderência ao mercado”. No terceiro trimestre de 2025, o faturamento do Grupo Carrefour no Brasil foi de 4,7 bilhões de euros (cerca de R$ 28,9 bilhões, na cotação atual). O país segue como o maior negócio da companhia, que globalmente faturou 22,6 bilhões de euros (aproximadamente R$ 139 bilhões) no período.
PERCEPÇÃO DIFERENCIADA – A força do Sam’s Club no Brasil também vem da marca própria Member’s Mark, considerada um dos pilares do modelo. São cerca de 800 SKUs, muitos deles importados — parte de um portfólio total de 5,5 mil itens, número significativamente menor que o de um supermercado tradicional, como o Carrefour, cuja média é de 30 mil SKUs. Segundo a diretora-executiva de Marcas Próprias, Pricing e Sorting do Carrefour Brasil, Ana Laura Tambasco, esse é um desenho deliberado. “A variedade de produtos é menor, então a ‘riqueza’ desses produtos precisa ser maior”, disse. Para ela, a diferenciação não significa ser premium, mas oferecer itens exclusivos, sazonais ou que despertem curiosidade no consumidor.
O clube aposta em produtos que reforçam essa percepção: cafés especiais, cervejas em barris, lançamentos internacionais e itens que chegam ao Brasil via uma cadeia de abastecimento que envolve cerca de dez países. “Trazemos coisas especiais para os sócios, com muitos importados”, afirmou Tambasco. Segundo Alves, o formato ajuda a sustentar o tíquete médio do clube, que varia entre R$ 600 a R$ 800, e atende a um público tradicionalmente das classes A e B — embora algumas unidades, como a do Jabaquara em São Paulo, tenham registrado predominância de consumidores da classe C e crescimento de 35% nas vendas no último ano. “É um dos clubes que, em pouco tempo, já está chegando na maturidade”, disse o CMO. Para manter o equilíbrio entre exclusividade e proposta de atacarejo, disse ele, o Sam’s também aposta em políticas comerciais como o Club Size, que enfatiza embalagens maiores e ofertas do tipo “leve mais por menos”. Segundo Tambasco, esse desenho reforça o posicionamento da marca: entregar percepção de valor por meio de sortimento curto, itens diferenciados e preços competitivos.
NOVO ARRANJO DECISÓRIO – A maior flexibilidade decisória citada por Alves como importante para o desenvolvimento do Sam’s se deu após a saída do Carrefour Brasil da B3, anunciada em maio deste ano e ainda determinante para a reorganização interna do grupo. Com o fechamento de capital, a matriz francesa passou a assumir diretamente as responsabilidades administrativas, reduzindo camadas de governança em busca de mais eficiência e agilidade operacional. As ações CRFB3, que chegaram a valer R$ 23,17 no pico de 2022, haviam recuado para R$ 8,45 no mês da decisão. Segundo Alves, a mudança acelerou processos internos. A matriz também acompanha de perto a amortização da dívida nos ativos da filial brasileira. Segundo o CEO global da companhia, Alexandre Bompard, “no Brasil, o Carrefour continua ganhando market share em um ambiente marcado por queda de volumes”. O grupo refinanciou uma dívida de 1,4 bilhão de euros no país neste ano, e a recompra dos 100 milhões de euros restantes “está em curso”, afirma o relatório trimestral. No mesmo documento, o Carrefour reportou crescimento de 0,7% na França, 1% na Europa e 5,5% na América Latina — uma média global de 2,1%.
Júlio Alves, Grupo Carrefour Brasil