ESPECIAL: 25 de Março – 160 anos. Salles, subprefeito da Sé: “É possível aliar o comércio à legislação e manter o foco popular”

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"Revistalização do Terminal Dom Pedro eleverá fluxo de consumidores na região da 25 de Março"
(Kaique Guimarães/Agência DC News)
  • No cargo pela segunda vez, subprefeito reforça atuação no combate aos protudos falsificados e fecha o cerco para os trabalhadores informais
  • Coronel da Reserva, Salles ampliou programa de segurança na região central, e diz que redução das ocorrências policiais bate os 63%
Por Nathalia Lino

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
A 25 de Março pulsa como uma cidade inteira comprimida em 17 ruas – um mercado onde nenhum espaço permanece vazio por muito tempo. Em 2024, 291 lojas foram abertas e, em um universo de quase 5 mil lojas, pouco mais de 30 pontos ainda estão disponíveis atualmente, segundo dados da subprefeitura da Sé. Entre disputas de calçada, ambulantes que buscam regularização e um fluxo diário de 200 mil pessoas, o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles, atua como mediador de um ecossistema tão popular quanto competitivo. Para ele, a convivência só funciona quando todos jogam com as mesmas regras: “Sendo formal, não há problema. Esse é o objetivo.” O político, no cargo desde março de 2025, vive sua segunda gestão à frente da região (a primeira foi entre 2021 e 2023). Natural de São Paulo, ele é coronel da Reserva da Polícia Militar e possui graduação, mestrado e doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Sob sua tutela estão os distritos Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Santa Cecília e Sé, em um território de 26,2 km² com uma população residente de 500 mil habitantes.

Para explicar a complexa e única relação de ecossistemas dentro da região, Salles é o entrevistado de hoje do Especial 25 de Março – 160 anos. Segundo o político, a convivência entre ambulantes e lojistas é um dos pontos mais sensíveis da rua – um conflito que atravessa décadas e ganhou escala nos anos 2000, pressionando calçadas e criando um desequilíbrio estrutural que ainda hoje organiza a disputa por espaço. E isso envolve todos os seus desdobramentos, como descarte inadequado de embalagens, restos de mercadorias e resíduos alimentares deixados em pontos de grande circulação, o que aumenta custos de limpeza e interfere no funcionamento das lojas. Parte dos vendedores de rua, ainda de acordo com ele, tenta se formalizar pelo programa Tô Legal, que ampliou permissões regulares e redefiniu limites de atuação. Para ele, a rua só funciona quando cada um sabe exatamente onde pode atuar. “É possível aliar comércio popular à legislação, sem perder o apelo de preço baixo e variedade.”

A tensão em torno da informalidade ganhou uma camada adicional em 9 de julho de 2025, quando Donald Trump divulgou uma análise de potenciais riscos mundiais à economia livre, e citou a 25 de Março. O texto foi divulgado após o anúncio da ampliação das tarifas sobre exportações brasileiras. A menção, inclusive, não foi a primeira. Em 2024 o tema já estava presente no Review of Notorious Markets for Counterfeiting and Piracy. Em sinal de combate ao comércio ilegal, até agosto deste ano, operações conjuntas da prefeitura, Receita Federal, Polícia Civil e Fazenda Estadual realizaram 35.879 apreensões, ante 28.727 no mesmo período em 2024. O cenário se soma à queda dos indicadores criminais na área central, em que houve, segundo Salles, redução de 63% após a ampliação das ações da Guarda Civil, da Operação Delegada e do programa Smart Sampa, que já prendeu mais de 2 mil infratores. Para o subprefeito, segurança e ordenamento caminham juntos e sustentam a capacidade de funcionamento diário da rua.

Escolhas do Editor

Para o futuro da 25 de Março, Salles disse que as discussões se concentram na melhoria da circulação e na reorganização dos fluxos que chegam diariamente ao comércio. Ele cita que há, entre os lojistas, o “sonho antigo de transformar a região em um grande boulevard”, projeto atualmente em estudo na SP Urbanismo e que permitiria acomodar melhor os ônibus de excursão vindos do interior e de outros estados. A intervenção concreta, porém, está no Parque Dom Pedro, que passa por requalificação com a mudança do terminal e a implantação do BRT – obra que, segundo ele, deve alterar a lógica de acesso ao Centro e refletir positivamente no funcionamento da 25. Para o subprefeito, qualquer avanço passa por redesenhar a forma como as pessoas chegam e circulam pelo maior polo de comércio popular do país. Confira a entrevista.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual a principal demanda que vocês recebem dos lojistas?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Comércio irregular e, por vezes, o descarte irregular de lixo. É um problema que exige consciência das pessoas, porque há um fluxo muito grande de vendedores ambulantes irregulares que vendem, por vezes, materiais que são vendidos nas lojas.

AGÊNCIA DC NEWS – Como você vê a questão dos camelôs?
MARCELO VIEIRA SALLES –
O camelô, existe um programa da prefeitura chamado Tô Legal, para que possamos colocar na formalidade todos e, eventualmente, aqueles que querem burlar a lei, utilizando áreas que não estão previstas para o comércio ambulante. Por vezes, sua mercadoria é apreendida e devolvida com pagamento de algum tipo de multa. Regularizar não é punir; é dar condições iguais de trabalho para quem quer fazer certo

AGÊNCIA DC NEWS – Sendo formal, não é mais um problema?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Sendo formal, não. Esse é o grande objetivo.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual o perfil desse ambulante?
MARCELO VIEIRA SALLES –
De toda a ordem. Às vezes, aqueles que têm tipos de paraquedas ou mesas. Quando você tem um comércio irregular, não é só o não cumprimento da norma municipal; há também problemas sanitários. De onde vem aquele material eventualmente comestível que ele comercializa? Está no prazo de validade? Como foi preparado? Como é conservado? Será que a parte da geladeira está adequada? Isso pode expor as pessoas a riscos sanitários, então temos essas preocupações.

AGÊNCIA DC NEWS – Quantos turnos de limpeza são realizados?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Ao lado de uma atenção diária com relação à limpeza urbana, nós temos, pelo número de pessoas que circulam ali, quatro turnos de limpeza. Ou seja, 24 horas por dia, nós estamos na região da 25 de Março, que reúne hoje, nas 17 ruas que compõem aquele complexo de lojas, 3.800 lojas. Para que você tenha uma ideia, hoje o maior shopping center que nós temos na cidade de São Paulo, o Shopping Aricanduva, tem 500 lojas, ou seja, você tem cinco vezes mais lojas do que o maior shopping da cidade de São Paulo.

AGÊNCIA DC NEWS – Não faz muito tempo, Donald Trump escreveu uma carta falando da 25, que teria muita pirataria. Como receberam isso?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Qualquer menção à estrutura da subprefeitura chama atenção. Comércio irregular exige também presença da Receita Federal, das polícias com relação a descaminho e contrabando; vai além da fiscalização de uso e ocupação do solo, que é prerrogativa da subprefeitura.

AGÊNCIA DC NEWS – No combate à pirataria, qual é a diretriz?
MARCELO VIEIRA SALLES –
A apreensão de tudo que não tem nota ou origem, que possa burlar o fisco ou descumprir normas, evitando problemas gravíssimos à saúde do consumidor.

AGÊNCIA DC NEWS – A Receita Federal atua com a Prefeitura?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Sim, realizamos operações conjuntas com a Receita Federal, Delegacia Antipirataria da Polícia Civil e Fazenda Estadual.

AGÊNCIA DC NEWS – Tem esses números? Quanto é apreendido por mês ?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Neste ano, tivemos 35.879 apreensões; em 2024, foram 28.727.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual o canal de comunicação dos trabalhadores da 25ª com a subprefeitura?
MARCELO VIEIRA SALLES –
É a Univinco e outras associações, incluindo ambulantes, moradores e Consec. Também há o 156, portal da Prefeitura. Qualquer pessoa que pedir audiência será recebida, seja por mim, seja pelo governo local.

AGÊNCIA DC NEWS – Em termos de planejamento, existe viabilidade para mais pessoas trabalharem na região?
MARCELO VIEIRA SALLES –
No último ano, 291 lojas foram abertas, segundo a Associação Comercial. Desde que observada a legislação e obtidas todas as licenças, estamos de braços abertos para novos investimentos.

AGÊNCIA DC NEWS – E há espaço para esses investimentos?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Há. Hoje, na região da 25 de Março, há cerca de 30 lojas disponíveis. O comércio é dinâmico: uma loja fecha, logo abre outra.

AGÊNCIA DC NEWS – Quantas pessoas circulam pela 25?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Em dias normais, 200 mil pessoas circulam na 25 de Março. O maior estádio do Brasil, Maracanã, comporta 78 mil pessoas; estamos falando de dois Maracanãs e meio diariamente, gerando emprego, renda e impostos.

AGÊNCIA DC NEWS – A 25 é um símbolo para a cidade. Qual sua visão pessoal e institucional?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Vejo como patrimônio de 160 anos, democrático, diverso e acolhedor. Quem visita consegue comprar e aproveitar o comércio centenário, que gera emprego e renda.

AGÊNCIA DC NEWS – Como valorizar a rua sem perder sua característica popular?
MARCELO VIEIRA SALLES –
É possível aliar o comércio popular à legislação. Todos devem recolher impostos e alvarás de forma harmônica, sem perder o apelo de preço baixo e variedade.

AGÊNCIA DC NEWS – Hoje existe equilíbrio entre moderno e tradicional?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Existe equilíbrio. A 25 recebe diferentes correntes migratórias – árabes, chineses, japoneses, venezuelanos, chilenos, peruanos – e alia comércio físico com e-commerce, mantendo a tradição do balcão e do contato direto.

AGÊNCIA DC NEWS – Com o aniversário e o fim de ano, a 25 vai movimentar a economia mais ainda?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Sim. No ápice do Natal, a previsão é mais de 1 milhão de pessoas circulando em 17 ruas, Ladeira Porto Geral e adjacências. Estamos aumentando lixeiras, fiscalização, operação delegada e o Smart Sampa.

AGÊNCIA DC NEWS – Tem algum projeto específico para a 25 que ainda deve ser implementado?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Todo dia nós recebemos. Tem um sonho dos comerciantes de fazer um grande boulevard, que ainda está em estudo na SP Urbanismo. É um grande sonho para que a gente consiga acomodar ônibus, que venham de cidades do interior. Mas ao lado, no Parque Dom Pedro, nós teremos um grande projeto que já está em curso com a mudança do terminal, a colocação do BRT, que não tenho dúvidas que irá refletir positivamente na 25 de março.

AGÊNCIA DC NEWS – Vocês pretendem fazer algum evento comemorativo para os 160 anos da 25 de Março?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Temos todo o apoio e iniciativas que possam trazer luz e trazer mais atratividade a 25 de Março.

AGÊNCIA DC NEWS – A Univinco está lançando um roteiro turístico envolvendo a 25 de Março. Como você enxerga essa iniciativa?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Eu enxergo de maneira muito positiva. Eu tenho certeza que evoluíremos mais.

“Seguimos em busca da cidade que a gente sonha e que São Paulo merece”
(Kaique Guimarães/Agência DC News)

AGÊNCIA DC NEWS – Na questão de segurança pública, o que está resolvido e o que vai exigir cuidado nos próximos anos?
MARCELO VIEIRA SALLES –
A Prefeitura de São Paulo tem um trabalho muito detido com a Operação Delegada. O que é Operação Delegada? São os policiais militares de folga que trabalham com poder delegado da prefeitura para atuar. No comércio ambulante, na não observância das posturas municipais, o efeito maior é que, como policiais militares fardados e armados, eles também auxiliam na prevenção criminal. Assim, além de colaborar com as posturas municipais, proporcionam mais segurança pública.

AGÊNCIA DC NEWS – Mas são todos os dias?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Todos os dias, inclusive à noite. E não só policiais militares. Temos a DEAC (Diária Especial por Ações Complementares) da Guarda Civil, policiamento ordinário da Guarda Civil e a maior inovação dos últimos 50 anos na capital sobre prevenção criminal: o programa Smart Sampa, com câmeras de reconhecimento facial, que já prendeu mais de 2 mil infratores, incluindo pedófilos, estupradores, roubadores e procurados da Justiça.

AGÊNCIA DC NEWS – Como estão os índices na 25 com relação às outras regiões?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Na área central, os indicadores caíram muito. Hoje há uma queda de 60% dos indicadores criminais na área central, que inclui a 25 de Março. Além disso, no mesmo período, houve redução de 40% nos chamados para remoção de lixo.

AGÊNCIA DC NEWS – Considerando não só a 25, mas toda a região, o que você comemora em 2025?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Um avanço gigantesco na diminuição de ocorrências de lixo, requalificação da Duque de Caxias e mais de 30 praças, incluindo a Praça Júlio Prestes, antes com cerca de 4 mil usuários em situação de vulnerabilidade, agora totalmente requalificada com paisagismo e atividades. Um furo para vocês é que este ano receberá a árvore de Natal da Subprefeitura Sé, simbolizando a transformação do espaço.

AGÊNCIA DC NEWS – E quantas pessoas trabalham na subprefeitura?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Na subprefeitura, temos hoje 3 mil servidores — concursados, terceirizados e comissionados — atendendo uma população flutuante diária de 2 milhões de pessoas e 500 mil residentes.

AGÊNCIA DC NEWS – Faltam recursos ou vocês conseguem fazer tudo?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Hoje a Prefeitura consegue, claro, o “cobertor é curto”, porque é preciso discernimento sobre onde investir. Mas conseguimos o orçamento da Subprefeitura Sé, o maior entre todas, com R$ 177 milhões. Os recursos são essenciais para a poda de árvores, requalificação de praças, corredores, jardinagem, limpeza pública e pagamentos, além das medidas de combate à pirataria, fiscalização e segurança pública. Com isso, o Centro hoje é outro.

AGÊNCIA DC NEWS – O Centro é outro por quê?
MARCELO VIEIRA SALLES –
Existia a máxima de que o Centro só teria força e vigor com movimento. Hoje, ele tem força, está sendo requalificado, houve aumento das vendas. Seguimos em busca da cidade que a gente sonha e que São Paulo merece.

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