Empresas devem participar da gestão do país, diz Gerdau na ACSP. "Nunca acreditei em crítica de arquibancada"
Parar não é opção: empresário afirma que continuará participando do debate nacional
(Andre Lessa/Agência DC News)
Empresário, que recebe o Prêmio Antônio Proost Rodovalho, diz que as empresas "não existem isoladas" e não prosperam se o país fracassa
Gerdau afirma que o Brasil ainda tem dois pontos críticos: educação básica e investimentos (em relação ao PIB)
Por Vitor NuzziCompartilhe:
[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS] Jorge Gerdau Johannpeter completará 89 anos segunda-feira (8), apenas um dia depois do aniversário de 131 anos da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Empresário e entidade têm “absoluta identificação”, disse Gerdau ao receber o Prêmio Antônio Proost Rodovalho, empreendedor pioneiro e fundador da ACSP. O presidente da associação, Roberto Mateus Ordine, disse que Gerdau é a própria representação da livre iniciativa. “A resposta viva das nossas bandeiras está na sua atividade”, afirmou Ordine na cerimônia em homenagem ao criador da Gerdau, gigante da indústria do aço – com vendas de 8,8 milhões de toneladas, receita líquida de R$ 52,9 bilhões de janeiro a setembro e 30 mil postos de trabalho diretos e indiretos.O secretário especial de Projetos Estratégicos, Guilherme Afif Domingos, que representou o governador Tarcísio de Freitas, disse que se deve a Gerdau, entre outros, o fato de “termos hoje um arcabouço dentro da Constituição em termos de livre iniciativa, da defesa da propriedade privada”. O secretário estadual de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab, também participou do evento.
O prêmio é concedido pela ACSP desde 1992. O coronel Rodovalho foi um dos fundadores da Associação Comercial – em 7 de dezembro de 1894, na rua da Quitanda, região central de São Paulo – e seu primeiro presidente. Bem antes disso, em 1877, construiu dois fornos em sua fazenda para produzir cal – e depois a região passaria a se chamar Caieiras, na Grande São Paulo. Sua visão o levou a investir, mais tarde, na Companhia Melhoramentos, que acaba de completar 135 anos. O CEO da Melhoramentos, Rafael Gibini, chamou Rodovalho de “empreendedor nato, serial” – e Gerdau de “ícone”.
“Nada que realizei foi feito sozinho”, disse Gerdau ao receber o prêmio. “As empresas não existem isoladas do país. São os alicerces de um país.” E a participação nas questões nacionais deve ser, também, papel do setor produtivo. “Nunca acreditei em crítica de arquibancada”, afirmou o empresário, que acrescentaria pouco depois: “Nenhuma empresa prospera em um país que fracassa”. Ao se dirigir aos mais jovens, pediu que não se acomodem, mas lembrou que continuará dando a sua contribuição enquanto tiver energia. “Parar não é uma opção”, disse Gerdau.
Afif, Cotait, Ordine, Gerdau, Kassab e Gibini: as mesmas bandeiras (Andre Lessa/Agência DC News)
Antes dele, o presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alfredo Cotait Neto, havia destacado justamente a presença de Gerdau no processo político nacional. Processo que, para Cotait, necessita de “governança” para mudar. “Precisamos nos unir para o bem do futuro do nosso país”, afirmou, dizendo estar à busca de um líder empresarial que aglutine as demandas do setor produtivo. “Os empresários se afastaram da política”, disse Cotait. “Valores, ética, transparência, voto distrital. Tem muitas coisas que precisamos trabalhar juntos.” O uso do verbo buscar foi referência a livro lançado por Gerdau em 2024: A Busca – Os Aprendizados de uma Jornada de Inquietações e Realizações.
Criador e líder do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Gerdau disse à AGÊNCIA DC NEWS que o país conseguiu avanços em algumas áreas, mas tem “dois pontos críticos”: educação básica e investimento. Países grandes que têm prosperidade, segundo ele, têm taxas de investimento acima de 25% e próximas a 30% do PIB. A do Brasil ficou em 17,3% no terceiro trimestre, segundo informou o IBGE – e abaixo de 2024 (17,4%). E precisam crescer, continuamente, algo em torno de 6% a 8% ao ano (o país patina na casa dos 2%). “Não temos debatido esse tema em termos de macropolítica”, disse o empresário. Uma das consequências, observou, está na produtividade estagnada. Por outro lado, o fato de o país ter se tornado um exportador de alimentos “prova que é possível fazer”. Sobre o “momento de transição complicada” que o Brasil vive – expressão que usou no seu pronunciamento –, disse que se referia ao desafio e à dificuldade de se tornar um país moderno.
Ainda durante sua fala no evento, ele também falou sobre educação, “talvez o ponto mais importante a ser trabalhado”. Isso vale para o país e para os empregadores: “Uma empresa só cresce de verdade quando as pessoas crescem”. Como já disse algumas vezes, o empresário deve ter conhecimento total de seu negócio (core business) e priorizar a gestão de recursos humanos. Ao seu referir ao livro, disse que a busca sempre foi por excelência. Listou 23 palavras que sustentam esse processo, e destacou duas. Uma é respeito: “Em todas as nossa relações com o próximo”. A outra é amor: “Define a dimensão da nossa ação”. E retribuiu a homenagem à Associação Comercial: “Nesta casa, cada tijolo é um símbolo de respeito e amor”.