[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
À frente de uma operação que reúne 460 farmácias espalhadas por todas as regiões do Brasil, sendo 57 inauguradas este ano, e planos de abrir 130 novas operações em 2026, o Grupo AMR, rede de franquias fundada em Varginha (MG) há 20 anos, passa por um processo de transformação das unidades em hubs de saúde, com serviços que vão desde a triagem de doenças até exames e procedimentos mais complexos. O movimento acompanha a tendência do setor farmacêutico brasileiro, que desde a pandemia tem elevado atenção para os serviços dentro da drogaria. “É o negócio que vai virar nos próximos anos”, afirmou o coordenador de operações da franqueadora, Lucas Félix, em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS. Este ano, a empresa espera faturar R$ 1,5 bilhão, 7,7% mais que o ano passado. Em 2026, a expectativa é de incremento na casa dos 14,2%, totalizando R$ 1,6 bilhão.
Segundo o executivo, por ser um mercado de forte concorrência, o segmento de farmácias e drogarias precisa se reinventar constantemente para se diferenciar. As farmácias, que antigamente se resumiam ao varejo de medicamentos, agora se veem num momento de aperfeiçoar os serviços, ampliar mix de produtos de estética, bem-estar e saúde e reforçar atenção online para atender às novas exigências do consumidor ou obter margens de lucro maiores. A AMR, que opera por meio de franquias com as bandeiras Americana, Farma Justa e Poupe Já, aposta na inserção de prestação de serviços de consultas, vacinação, aplicação de remédios injetáveis e aferição de glicose, pressão e batimentos cardíacos para se destacar. “Eles [franqueados] não precisam entrar nessa guerra de preço se forem pautados na estrutura de hub de saúde.”
Tudo isso se soma à oferta de serviços de telemedicina dentro das farmácias, um assunto ainda em debate na esfera judiciária, já que há uma queda de braço entre o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Federal de Farmácia (CFF). Enquanto a organização dos médicos entende o método como passível de conflito de interesse, os farmacêuticos enxergam uma oportunidade de ser mais assertivo na dosimetria medicamentosa se houver uma interface com médicos dentro da farmácia. Dentro da AMR, hoje é oferecido o tratamento de doenças como hepatite, HIV, influenza, zika vírus e respiratórias. “É um divisor de águas, tanto para desafogar a saúde pública quanto para ganhar escala no negócio”, disse o executivo, que também acompanha de perto as demandas pelos serviços de entrega a domicílio, por meio de aplicativos como o iFood, que entrou no ramo farmacêutico em 2022. O e-commerce, segundo ele, responde hoje por 20% das vendas da AMR, após um pico de 28% na pandemia. Confira a seguir a entrevista completa:
AGÊNCIA DC NEWS – Como tem sido o processo de transformação das farmácias da AMR em hubs de saúde?
LUCAS FÉLIX – Antigamente, a farmácia era só a ponta da lança dessa estrutura do hub de saúde, um lugar para a dispensação de medicamentos. Se a gente voltar três, quatro anos atrás, por causa da covid foi quando se iniciou um processo que abriu muitas portas para o ramo farmacêutico.
AGÊNCIA DC NEWS – Havia uma mudança do que era oferecido e também pelo lado do consumidor?
LUCAS FÉLIX – E aí observamos que havia uma oportunidade muito grande para ficar mais próximo do cliente na ponta. A pergunta que muitos se têm feito hoje é: onde está a farmácia do futuro?
AGÊNCIA DC NEWS – E onde está?
LUCAS FÉLIX – Será um processo de prestação de serviços e cuidados. Desde entender toda a posologia do medicamento até de fato entrar na linha do atendimento. O hub de saúde vem muito nessa linha, de prevenção e tratamento contínuo que as pessoas fazem, em vez de só vender os remédios dentro da farmácia.
AGÊNCIA DC NEWS – Quais são os principais serviços entre as novidades?
LUCAS FÉLIX – Hoje temos um projeto chamado Capacita Farma. É uma feira somente para farmacêuticos, em que vamos tratar todo o processo de atendimento na prática, aplicações, testes e as novidades do mercado farmacêutico como um todo. E aí existem alguns processos que a gente precisa entender. A estrutura dos exames, por exemplo, é um mundo muito grande. Vai desde a triagem, passando pelos testes, como de covid, dengue, hepatite B, HIV, influenza.
AGÊNCIA DC NEWS – Quais outras vantagens de incluir esses serviços?
LUCAS FÉLIX – Em todo esse processo, podemos desafogar os hospitais e UBS, pois o número de farmácias que temos dentro do Brasil é praticamente três vezes maior do que o número de UBS.
AGÊNCIA DC NEWS – E a telemedicina?
LUCAS FÉLIX – Na telemedicina a gente vem desenvolvendo o processo da triagem, especificações, vacinações e tratamentos. São cuidados maiores com o cliente. Muito mais do que entregar um medicamento e não dar a atenção de que a pessoa precisa.
AGÊNCIA DC NEWS – Essas mudanças pedem muitos investimentos?
LUCAS FÉLIX – Alguns fluxos, querendo ou não, vão esbarrar na parte de investimentos. Hoje, para uma farmácia fazer todo esse processo de infraestrutura, ela tem um custo bem elevado em cima disso. Porque a gente precisa ter sala de triagem, que também seria a sala para fazer o atendimento clínico, sala de dispnesação. Estamos falando de um processo que vai comprometer de 20% a 30% do faturamento – tem que investir para poder oferecer esse serviço.
AGÊNCIA DC NEWS – No caso da AMR, quais foram as principais mudanças nos últimos anos?
LUCAS FÉLIX – Nós temos como diferencial no mercado tanto a prestação de serviço do farmacêutico quanto do grupo da franquia – a franqueadora tem uma farmacêutica especializada na prestação de serviços para o nosso público-alvo. No ramo como um todo, a AMR tem investido principalmente em telemedicina. É um divisor de águas, tanto para desafogar a saúde pública, quanto para ganhar escala na empresa. Além disso, estamos fazendo parcerias com laboratórios, UBS e até grandes hospitais no intuito de prestar serviços mais avançados.
AGÊNCIA DC NEWS – Como quais?
LUCAS FÉLIX – Por exemplo, cirurgias. Já direcionamos da própria farmácia para as especificações necessárias.
AGÊNCIA DC NEWS – Qual é a diferença entre as três marcas da rede, e o que evoluiu em cada uma delas durante esse processo?
LUCAS FÉLIX – A Americana é um modelo mais convencional, focado na estrutura de prestação de serviços, atendimento farmacêutico e um sortimento maior do mix de produtos. É um ambiente melhor porque o cliente chega e fica à vontade, numa loja maior. Farma Justa e Poupe Já falamos em bandeiras populares. O modelo de negócio busca atingir um público diferente, de classe social mais baixa. Mas esse processo que estamos buscando, de hub de saúde, está presente em todas as bandeiras.
AGÊNCIA DC NEWS – O e-commerce é uma tendência – quanto já representa das vendas?
LUCAS FÉLIX – Hoje, não tem como o e-commerce ficar fora do jogo. Desde a parte de grandes plataformas como WhatsApp, sites, iFood e o Mercado Livre, que também está entrando no ramo farmacêutico. Está representando pelo menos 20% da receita. Tivemos um pico de 28% durante a pandemia.
AGÊNCIA DC NEWS – Quais foram os principais investimentos este ano?
LUCAS FÉLIX – Este ano, investimos muito em tecnologia, algo na casa de R$ 600 mil. Entendemos que só é possível ganhar escala com CRM e o processo de gestão. Mas temos pautado muito em pessoas também. Por mais que a tecnologia ganhe escala, se não tiver uma pessoa por trás disso, não é possível chegar no modelo de hub de saúde de que precisamos.
AGÊNCIA DC NEWS – Em que tipo de tecnologia?
LUCAS FÉLIX – Na própria telemedicina, na nossa plataforma de gestão e na parte de treinamentos.
AGÊNCIA DC NEWS – Quais são as diretrizes para transformar uma farmácia em hub de saúde?
LUCAS FÉLIX – São três estágios. O básico (consultas e procedimentos), intermediário (exames laboratoriais) e avançado (vacinação, por exemplo). Cada franquia tem suas especificidades. Uma pode ter isso, a outra pode ter aquilo, há legislações específicas para cada uma delas. O grupo tem todo um processo para isso.
AGÊNCIA DC NEWS – Quando começou esse movimento?
LUCAS FÉLIX – Em 2022.
AGÊNCIA DC NEWS – Como os franqueados têm se adaptado a essas novas demandas?
LUCAS FÉLIX – Os franqueados, muitas vezes, vêm de um modelo muito antigo, no ramo há 20, 30 anos. Obviamente sentimos dificuldade para poder passar isso na linha de frente para ele. Mas no geral eles têm aceitado muito bem. Mudou muito. Nas lojas novas, já é um público diferente, com perfil de investidor.
AGÊNCIA DC NEWS – Você acredita que esse perfil de hub de saúde deve se aprimorar ainda mais?
LUCAS FÉLIX – Com certeza. Na verdade, é o negócio que vai virar nos próximos anos. Hoje as farmácias, querendo ou não, estão numa briga muito acirrada em questão de preço. Existe uma dificuldade muito grande quando se trata de mercado porque as farmácias não entendem que conseguem ter margem de lucro maior – e que não precisam entrar nessa guerra de preço se forem de fato pautadas em uma estrutura de hub de saúde. São várias possibilidades de ganhos. Vemos com muito bons olhos esse mercado para os próximos anos.
AGÊNCIA DC NEWS – E o consumidor de hoje é mais exigente?
LUCAS FÉLIX – Dez anos atrás, 70% das vendas eram medicações prescritas. Hoje, para você ter uma noção, esse número caiu para 42%. O público, além de estar mais exigente, procura serviços e produtos novos, entrando na estruturação do sortimento de produtos dentro da farmácia.
AGÊNCIA DC NEWS – Você acredita que esse perfil de hub de saúde deve se aprimorar ainda mais?
LUCAS FÉLIX – Com certeza. Na verdade, é o negócio que vai virar nos próximos anos. Hoje as farmácias, querendo ou não, estão numa briga muito acirrada em questão de preço. Existe uma dificuldade muito grande quando se trata de mercado porque as farmácias não entendem que conseguem ter uma margem de lucro maior – elas não precisam entrar nessa guerra de preço se forem de fato pautadas em uma estrutura de hub de saúde. São várias possibilidades de ganhos. Vemos com muito bons olhos esse mercado para os próximos anos.