Bradesco espera juros a 15,25% no 1º semestre e varejo andando de lado, com alta de 2%

Uma image de notas de 20 reais
Câmbio real "segue bastante depreciado, longe dos fundamentos"
(Pedro Affonso/Folhapress)
  • Banco vê "enorme volatilidade" de ativos depois do pacote fiscal do governo, que teria sido aquém do esperado
  • Não há espaço para melhora das expectativas de inflação "enquanto os choques recentes não se dissiparem" e sem desaceleração clara do PIB
Por Vitor Nuzzi Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. Selic em alta, inflação fora da meta e PIB em queda. Com esse combo, o varejo restrito vai voltar a andar de lado. As vendas, que tiveram pequenas oscilações positivas nos últimos três anos – +1,4% (2021), +1,0% (2022) e +1,7% (2023) – e um respiro em 2024 (a projeção é de alta de 4,9%), voltarão a estancar: +2,0% em 2025 e o mesmo crescimento de 2,0% em 2026. As informações constam no relatório Cenário Econômico, do Bradesco, assinado por Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do banco, e sua equipe. Depois de expansão de 5,5% neste ano, o consumo das famílias deverá aumentar 3,1% em 2025 e 1,2% em 2026.  

Com “enorme volatilidade” de ativos após o pacote fiscal do governo e sem sinal claro de melhora no curto prazo, o Bradesco revisou suas projeções para a economia brasileira. E já espera uma taxa básica de juros (Selic) a 15,25% no primeiro semestre de 2025. Ou seja, acréscimo de 3 pontos percentuais nas quatro reuniões que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fará na primeira metade do próximo anos: 28/29 de janeiro, 18/19 de março, 6/7 de maio e 17/18 de junho. Ainda assim, o banco avalia que não há indícios concretos de que a estratégia do BC de combate à inflação esteja dando resultado, “dada a ausência de uma política fiscal mais consistente”. Para o Bradesco, a inflação (IPCA) ficará em 4,9% em 2024 e 2025, recuando para o centro da meta (3%) apenas em 2026.

Essa situação de piora da atividade deverá ficar clara apenas no meio do ano. “Não vemos espaço para uma melhora das expectativas de inflação enquanto os choques recentes não se dissiparem e enquanto não houver uma inequívoca desaceleração do PIB.” Em outros palavras, uma retração a caminho. No documento, o banco inclui entre esses ajustes a cotação do dólar. E acredita que a taxa de câmbio ficará constante em R$ 6 daqui em diante, próxima do nível atual. A estimativa é válida para 2025 e 2026. “O que não mudou em nossa avaliação é que o câmbio real segue bastante depreciado, longe dos fundamentos, mas essa situação pode perdurar mais tempo, inclusive sendo ajustada pelo lado da inflação e não necessariamente pelo câmbio nominal.”

Escolhas do Editor

A avaliação do Bradesco é de que o pacote ficou aquém do necessário para “assegurar a sobrevida do arcabouço além de 2026”. Somam-se a isso as medidas anunciadas, agora discutidas no Congresso, que revelam preferência por uma “convergência ainda mais lenta da dívida pública”. Isso porque, segundo o banco, o governo optou por usar recursos da tributação da renda para o consumo, em vez do pagamento da dívida. “Sob essas condições, houve importante deterioração e enorme volatilidade dos preços de ativos, sem um vetor claro de melhora no curto prazo.”

Nas revisões de cenário divulgadas pelo banco, o PIB passa de 3,5% para 3,6% neste ano e de 2,4% para 2,2% no próximo (com impulso da agropecuária), recuando a 1% em 2026. O Brasil não está “sob dominância fiscal”, diz o banco, mas a perseguição da meta (de inflação) sob o novo cenário fiscal “pode requerer uma Selic ainda mais elevada do que aquela que está precificada nos mercados, hoje acima de 16,0%”. É o que o Bradesco chama de “equilíbrio delicado para a economia real e o Tesouro, que pode agravar o balanço de riscos”.

DESACELERAÇÃO – Nesse cenário, o investimento sofrerá desaceleração, prevê o banco, ao afirmar que a Formação Bruta de Capital Fixo “é o componente que mais sofrerá” com a alta dos juros. Assim, após crescer 6,7% neste ano, a estimativa é de 1,2% no próximo. “Em nossas estimativas, a poupança das famílias está em 9,1% do PIB (acima da média histórica de 8,0%) e a massa salarial continuará a crescer em 2025, próxima de 4% em termos reais.” O cenário do banco é de contínuo aumento da dívida pública, para 82,7% do PIB em 2025 e 88,6% em 2026.

No campo externo, o Bradesco espera que o Federal Reserve (Fed) continue cortando juros gradualmente. “Desde a eleição de Donald Trump, temos visto o dólar praticamente de lado, já tendo uma valorização importante nas semanas anteriores”, disse o banco. E afirma que logo após o resultado, houve certo temor de que o governo poderia ser mais intenso em sua agenda de elevação de tarifas e medidas protecionistas. O que levou a uma nova rodada de valorização da moeda norte-americana. Mas, agora, anúncios mais recentes do futuro governo dos Estados Unidos sugerem, segundo o banco, “algum grau de pragmatismo”. Na Europa, o banco aponta atividade ainda fraca e sinais mais claros de inflação sob controle. “Na China, os dados econômicos têm vindo um pouco melhores do que o esperado, com o governo mostrando maior disposição em continuar com medidas estimulativas.”

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