[AGÊNCIA DC NEWS]. A implementação do Drex ainda está em fase de testes no Banco Central, à procura de um sistema que seja considerado suficientemente seguro do ponto de vista da privacidade de dados do usuário. “A gente chegou a uma conclusão que não tem o conforto de que a tecnologia existente hoje em dia é suficiente para poder resguardar essas informações”, afirmou o secretário-executivo do BC, Rogério Lucca, durante live transmitida pela instituição para falar sobre a agenda estratégica do banco.
Esse tipo de teste de estresse é decisivo para uma operação desse porte. Lucca disse que o estágio se insere em um processo de tokenização do sistema, e destaca as vantagens que a moeda digital trará. “É poder utilizar uma tecnologia diferente, mais eficiente, mais segura, para você poder usar [seus ativos] como garantia em operações de crédito.” Com isso, será possível melhorar a qualidade, e reduzir o risco do crédito. Mas o primeiro passo sempre será a privacidade e o sigilo. Por esse motivo a preocupação. “A gente tem testado a tecnologia de registro distribuído [DLT, na sigla em inglês].” A primeira fase foi encerrada no ano passado, disse o secretário-executivo.
“A gente não vai usar nenhuma estrutura do Banco Central para controlar recursos da população. Não vai permitir que dados das pessoas que estão no BC sejam utilizados”, afirmou. Assim, é preciso que a tecnologia tenha capacidade de manter o sigilo bancário e preservar os dados das pessoas, “na forma como a legislação determina”. Por enquanto, os testes não garantiram um ambiente que possa ser considerado seguro. O passo seguinte, provavelmente este ano, será consultar as propostas do mercado, “testando casos de negócios que o sistema financeiro e outros participantes sugeriram e que poderiam ser fomentados no âmbito do Drex”.
100 PROJETOS – De 2019 até 1 de janeiro de 2025, período de comando de Roberto Campos Neto, o BC desenvolveu 100 projetos corporativos e ações estratégicas, dos quais 25% ainda estão em execução e serão incorporados ao planejamento do próximo período. Para Lucca, a atuação do banco nos últimos anos seguiu pilares de inovação (implementação e agenda evolutiva do Pix, a agenda do Open Finance e o Drex) e de regulação (modernização do sistema de regulamentação do câmbio), além de medidas de educação financeira. Neste ano, se prevê o aperfeiçoamento do Pix automático (para pagamentos recorrentes), parcelado e e de garantia (para conseguir crédito mais barato).
No Open Finance, outro avanço. O banco pretende aperfeiçoar a portabilidade do crédito. Ele disse que tanto o governo quanto o mercado entendem que há uma possibilidade de fazer a portabilidade via Open Finance para se tornar mais efetiva. “A gente vai se debruçar no desenvolvimento dessa ferramenta.” Há ainda medidas em estudo mais direcionadas a pessoas jurídicas, micro e pequenas empresas e pequenos empreendedores, para disponibilizar informações de forma padronizada e de acesso fácil no acesso ao crédito. “Neste momento ainda são grandes nortes, mas não há ainda nenhuma medida. Estão na prancheta ainda.
COMUNICAÇÃO – No evento, Lucca tratou também de temas institucionais. Desde janeiro, o Banco Central tem nova direção, liderada por Gabriel Galípolo, nome indicado por Luiz Inácio Lula da Silva e que num primeiro momento causou apreensão aos agentes de mercado, que acreditavam que ele daria uma guinada nas práticas do banco sob Roberto Campos Neto (2019-2025). Segundo o secretário-executivo, as ações da instituição são independentes de nomes ou governos, ainda mais depois da aprovação de sua autonomia, em 2021. “O BC é um órgão do Estado, tem uma continuidade, uma estabilidade, que é garantida pelo corpo permanente do banco”, disse Lucca. “E o presidente Gabriel Galípolo é muito institucionalista.”
Lucca afirmou que outra prioridade do BC para os próximos quatro anos – período legal de mandato do presidente Galípolo – está na comunicação. Para o secretário-geral, existe um “entupimento” dos canais de política monetária. Segundo ele, quando o Banco Central decide pelo aumento ou redução da taxa de juro, as pessoas têm de sentir o efeito dessa mudança para ela ser efetiva, o que passa pelos canais por meio do qual essa decisão é transmitida. “A gente acaba se comunicando com um público muito restrito, utilizando uma linguagem muito técnica”, disse. “E nós temos essa demanda e esse dever de ser transparente com a sociedade como um todo.”
Referindo-se aos juros, ele disse que parte das pessoas não se sente impactada com as decisões. Na prática, segundo Lucca, quando o Banco Central decide aumentar ou reduzir a taxa básica, a Selic, há um objetivo por trás, seja de estimular ou contrair a economia. “E o BC diagnosticou, porém, que parte das pessoas não é impactada com as decisões.” O secretário-executivo afirmou que o próprio Galípolo já usou a expressão missa em latim para se referir aos comunicados pouco acessíveis do BC. “A gente precisa rezar a missa em português.”
O BC também está em período de comemoração dos seus 60 anos. Criado por meio da Lei 4.595, de dezembro de 1964, iniciou as atividades em março do ano seguinte. Para tratar da data, começou a divulgar, por exemplo, entrevistas com ex-presidentes, feitas pelo atual. A segunda entrevista foi ao ar na semana passada, com Gustavo Loyola. Um dos objetivos é reforçar a institucionalidade do banco. Ou, como diz Lucca, mostrar que estratégias e ações não dependem tanto das pessoas. “São mais um fruto da instituição”, afirmou – Lucca assumiu o posto em janeiro e é funcionário de carreira do BC desde 2000, com um breve hiato de um ano (2026-2017), quando foi chefe de gabinete no Ministério da Fazenda, na gestão de Henrique Meirelles. Durante a live, conduzida pelo jornalista Gustavo Igreja, ele observou que o quadro do BC sofreu redução em torno de 30% nos últimos anos, parcialmente compensado, segundo Lucca, por ganhos de eficiência. Hoje, são aproximadamente 3 mil funcionários ativos, aos quais devem se somar em breve 100 novos servidores.