[AGÊNCIA DC NEWS]. A introdução de ônibus elétricos no transporte coletivo, aliada à políticas públicas, faz o setor apostar no crescimento da produção, que de janeiro a maio as venda já quase se igualavam a todo o ano de 2024 (quando já havia triplicado ante a 2023). Até agora, foram vendidas 272 unidades, 130,5% a mais em relação a igual período de 2024. “O processo de eletrificação no transporte público começa a se consolidar”, afirmou o vice-presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Thiago Sugahara. “A expectativa é que esse trabalho continue ganhando tração para que a gente desenvolva nossa indústria e volte a exportar.” De acordo com a entidade, foram vendidos 11 ônibus em 2022, 81 em 2023, 302 em 2024 e 272 neste ano, até maio. Ainda segundo a ABVE, apesar de promissoras, as vendas de ônibus ainda não mostram padrão de crescimento linear: “As oscilações mensais são esperadas e refletem o estágio inicial da transição rumo à descarbonização do transporte público nos municípios”.
Dos 272 ônibus vendidos nos cinco primeiros meses deste ano, 243 (89%) foram no município de São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte, a frota total é de 728 veículos, sendo 527 movidos a bateria e 201 trólebus. O Programa de Metas da prefeitura prevê substituir 2,2 mil ônibus movidos a diesel por modelos elétricos até 2028, o que corresponde a 18% da frota em circulação. Lei anterior, de 2018, alterada, previa redução mínima de 50% das emissões de dióxido de carbono das frotas de ônibus.
Em abril, o Executivo paulistano obteve linha de crédito (US$ 100 milhões) com o Banco da China para aquisição de ônibus elétricos. No mês seguinte, conseguiu a liberação de US$ 248 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, haverá, assim como o ganho ambiental, melhora na qualidade do transporte para os operadores, motorista e cobrador, “além da questão do ganho financeiro”. Conforme dados da prefeitura, o custo de operação por veículo cai de R$ 25 mil (diesel) para R$ 5 mil (eletrificado) por mês.
Já o Novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) Seleções também prevê R$ 10,5 bilhões para a modalidade Renovação da Frota. Isso inclui 2,5 mil ônibus elétricos, 2,8 mil ônibus com motor Euro 6 (com menor emissão de poluentes) e 39 trens, em 98 municípios. Do valor total, a Caixa Econômica Federal entrará com financiamento de R$ 6 bilhões e o BNDES, com R$ 4,5 bilhões.
ESTRUTURA – De acordo com Sugahara, a empresa tem acompanhado de perto as discussões de políticas públicas que fomentem o setor elétrico, já que elas têm potencial de auxiliar no planejamento dessa nova vertente da indústria brasileira. “A eletrificação é o melhor caminho para oferecer um transporte público de qualidade. E mais amigável ao ambiente,” disse. Segundo ele, o efeito vai “muito além” dos ônibus. “Temos toda uma cadeia de componentes made in Brasil. Também é necessário pensar em uma estrutura de recarga.” Até agora, de 666 ônibus vendidos no país desde 2022, o mercado se encontra na região Sudeste, com 592 (88,9%). “Outras cidades, não só capitais, vêm fazendo testes com ônibus elétricos”, afirmou o vice-presidente da ABVE.
Sobre a recarga, inclusive, a prefeitura de São Paulo assinou no dia 5 de junho um Protocolo de Intenções com as empresas Matrix Energia e a Huawei para implementar o Battery Energy Storage System (BESS). Segundo o Executivo municipal, o objetivo é garantir a infraestrutura para o carregamento da frota de ônibus elétricos de São Paulo, sem custos para a gestão municipal, uma vez que o BESS multiplica por até seis vezes a capacidade de recarga atual das garagens. Com um único módulo BESS (4,5 MWh) é possível carregar ao menos 29 ônibus.
A perspectiva de mais bateria acompanha o mercado. De janeiro a maio, as vendas totalizam 71,3 mil unidades, crescimento de 19,5% sobre igual período de 2024. O número inclui BEV (veículos 100% elétricos – 24,7 mil unidades), PHEV (híbridos plug-in, 35 mil), HEV (5,6 mil) e HEV Flex (6 mil). A participação é de 7,76% nos emplacamentos de automóveis e comerciais leves. Pode chegar a 10% ainda este ano? Segundo Sugahara, “vai depender das próximas etapas do Programa Mover”. De acordo com ele, já há novos players entrando no Brasil, o que é uma boa notícia para a cadeia produtiva. “A gente precisa avançar com a produção local.”
Um dos motores para tal expansão é a a Lei 14.902/24, conhecida como Mover, e sancionada ano passado. O programa, liderado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), prevê um total de R$ 19,3 bilhões de créditos financeiros entre 2024 e 2028, que podem ser usados pelas empresas para abatimento de impostos federais em contrapartida a investimentos realizados em P&D e em novos projetos de produção que envolvam descabornização.
Há ainda o Inovar-Auto, programa implementado em 2023, que segundo Sagahara, também é peça-chave na dinâmica. “Uma das metas [do Inovar] era que o veículo não tivesse tanta defasagem tecnológica. A gente estava com duas gerações de defasagem.” Agora, a previsão é que os incentivos ajudem a cadeia produtiva a se tornar toda mais tecnológica. E com produção local. Ainda mais com os impostos de importação subindo de forma escalonada (até atingir 35% em julho do ano que vem), pressionando os custos. “Isso é um fator determinante para a indústria brasileira.” E há a perspectiva de que alguns fabricantes comecem a produzir no segundo semestre, como a GWM (Iracemápolis-SP) e a BYD (Camaçari-BA). “Temos várias montadoras com planos em execução para iniciar a produção local.”