SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, ordenou a retirada de 2.000 soldados da Guarda Nacional que foram enviados a Los Angeles para proteger propriedades e pessoal federal durante uma série de protestos no mês passado, informou o Pentágono nesta terça.
“Graças às nossas tropas que se mobilizaram para atender ao chamado, a ilegalidade em Los Angeles está diminuindo”, disse o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell. “Dessa forma, o secretário ordenou a liberação de 2.000 membros da Guarda Nacional da Califórnia da missão de proteção federal”, acrescentou.
Mesmo após a retirada desses militares, em torno de 2.000 soldados devem permanecer na cidade, além de cerca de 700 fuzileiros navais. As manifestações de junho ficaram restritas a uma parte pequena da cidade, mas incluíram casos de saques, destruição de propriedade e ataques às forças de segurança, e começaram quando agentes federais realizaram operações massivas para prender imigrantes em situação irregular que procuravam emprego em Los Angeles.
Com as tropas acionadas no início do mês, o número de prisões feitas pelo Departamento de Segurança Interna em Los Angeles aumentou no último período. Desde o início de junho, agentes prenderam quase 2.800 imigrantes sem documentos na região, segundo a agência.
O recorde mensal anterior de prisões relacionadas a imigrantes no mesmo território, pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), foi de pouco mais de 850 prisões em maio deste ano, de acordo com dados obtidos por meio de uma ação judicial com base na Lei de Liberdade de Informação movida pelo Projeto de Dados de Deportação da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Após os protestos e suas respectivas repressões por parte do governo Trump, o movimento contra as políticas anti-imigração na cidade não perdeu força ao contrário, se reconfigurou em uma mobilização mais organizada e contínua, com foco no longo prazo, segundo seus líderes. Ativistas e voluntários passaram a monitorar operações do ICE, distribuir panfletos informativos e organizar oficinas sobre direitos civis. Uma greve geral foi marcada para agosto, e diversos moradores que antes não participavam das ações começaram a se envolver, afirmam líderes locais e organizações como a Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes (Chirla, na sigla em inglês).
Enquanto o ICE manteve suas operações, inclusive após o envio das tropas por Trump, grupos de defesa dos imigrantes entraram com ação judicial contra o Departamento de Segurança Interna, afirmando ter havido violações constitucionais e denunciando detenções em instalações sem estrutura mínima e sem acesso a advogados.
Além da mobilização nas ruas, o movimento também alcançou meios digitais diversos. Veículos como a publicação LA Taco, antes voltada à gastronomia local, passaram a priorizar conteúdo sobre imigração nas redes sociais. Criadores de conteúdo como Jared Muros, influenciador de moda e entretenimento, migraram para uma cobertura em vídeo das ações do ICE. A movimentação ganhou força entre filhos de imigrantes e moradores de bairros latinos, segundo as lideranças, refletindo uma mudança mais ampla na forma como a comunidade reage às políticas migratórias federais.
O vereador Hugo Soto-Martínez, um dos líderes dos movimentos contra as políticas migratórias de Trump, afirmou ao jornal The Washington Post que o pensamento por trás dos protestos precisou se atualizar. “Quais são os valores que estamos liderando? Qual é a mensagem central que estamos tentando promover? Quais são as nossas demandas?”
“Estamos nisso por pelo menos mais três anos e meio”, afirmou, em referência ao período previsto da Presidência do republicano.
Longe de um apaziguamento duradouro, no fim de junho, o governo Trump processou a cidade de Los Angeles por supostamente adotar políticas que limitam a cooperação com as autoridades federais de imigração a região é de maioria democrata, e é atacada por se autodenominar “cidade-santuário” e resistir aos esforços federais para ampliar as deportações.
A ação, movida pelo Departamento de Justiça, afirma que as políticas da cidade que impedem o uso de recursos municipais para ajudar em operações de fiscalização de imigração ou coletar informações sobre o status de cidadania de indivíduos violam a lei federal.