Câmara blinda Motta sobre fantasmas, PT e PL silenciam, e PSOL é único a cobrar explicações

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dia depois de a Folha de S.Paulo revelar que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), empregou em seu gabinete três funcionárias fantasmas, líderes e integrantes dos principais partidos políticos se negaram a fazer comentários públicos sobre o caso -uma atitude corporativista comum quando envolve figuras com poder dentro da Casa e com boa relação com os colegas.

De acordo com parlamentares ouvidos nesta quarta-feira (16), Motta não deu explicações internas e também não foi cobrado a fornecê-las. Ele presidiu a sessão de terça sem ser questionado por absolutamente nenhum parlamentar sobre o caso.

Os líderes do governista PT, Lindbergh Farias (RJ), e do oposicionista PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), os maiores partidos da Casa, disseram à reportagem que não tinham se aprofundando muito sobre a notícia até esta quarta.

O discurso predominante de outros parlamentares, nos bastidores, é o de que apesar de ser necessário investigar mais o caso, é comum nos gabinetes a existência de assessores que não têm rotina claramente identificada com atividades legislativas.

Após ser procurado pela Folha de S.Paulo, Motta mandou demitir 2 das 3 servidoras e disse que preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações de seus funcionários. Ele não respondeu, entretanto, às perguntas específicas sobre os três casos, sobre quais eram as funções no gabinete.

As demitidas foram a fisioterapeuta Gabriela Pagidis -que atendia em clínicas no Distrito Federal enquanto recebia R$ 11,4 mil de salário da Câmara- e Monique Magno, que acumulava a função no gabinete com a de assistência social na Prefeitura de João Pessoa (PB), o que é proibido pelo Legislativo.

Além de ter sido eleito há menos de seis meses e estar em início de mandato, Motta conta com amplo apoio no centrão e também boa vontade da maior parte da oposição e dos governistas.

Situação bem diferente, por exemplo, da do deputado André Janones (Avante-MG), conhecido por promover embates públicos com colegas e por andar pelos corredores da Casa, nos últimos tempos, trajando camiseta com a inscrição “Congresso inimigo do povo”.

A pedido da Mesa comandada por Hugo Motta, Janones teve o mandato suspenso por três meses na terça-feira (15) devido a um empurra-empurra e troca de ofensas com bolsonaristas no plenário.

Já no caso de Motta, o único partido a se manifestar publicamente pedindo explicações do presidente da Câmara foi o esquerdista PSOL, que tem apenas 13 dos 513 deputados.

“Ele [Motta] silenciou, como a quase totalidade dos parlamentares. Isso pode ser um precedente perigoso para se normalizar indevidamente esse tipo de procedimento. Todo mundo soube, todo mundo ficou meio constrangido e a maioria preferiu deixar quieto. Não é o mais adequado para um Congresso que precisa muito recuperar sua credibilidade”, disse Chico Alencar (PSOL-RJ).

O deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ) defende que o episódio sirva para que a Câmara amplie a transparência ativa sobre a gestão de gabinete dos parlamentares.

Cada deputado tem direito mensalmente a uma verba de gabinete de R$ 133 mil para contratar de 5 a 25 secretários parlamentares.

“O corporativismo muita vezes fala mais alto e as coisas aconteceram muito nos bastidores. Mas é verdade que a cada denúncia como essa faz com que a gente espere que os gabinetes parlamentares tenham cada vez mais responsabilidade por aquilo que nomeiam”, disse Tarcísio Motta.

Para o parlamentar do PSOL, essa não foi a atitude até agora. “Se todas as vezes que uma denúncia vier sobre qualquer parlamentar, incluindo o presidente da Casa, a resposta for corporativa, a sociedade confiará ainda menos em nós, e isso a gente não pode deixar acontecer.”

Nesta quarta, a Folha de S.Paulo mostrou que além de empregar em seu gabinete as três mulheres com rotinas incompatíveis com as funções que deveriam exercer no Legislativo, Motta também já manteve como contratados cinco parentes dessas funcionárias fantasmas.

Procurado, o presidente da Câmara não respondeu sobre a contratação desses familiares.

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