SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após uma semana de violência sectária e bombardeios de Israel, moradores de Sweida relatam, neste domingo (20), uma relativa calma nessa província majoritariamente drusa no sul da Síria. A interrupção dos combates ocorre após o governo anunciar a retirada de combatentes beduínos e os Estados Unidos intensificarem seus apelos por uma trégua.
O número de mortos nos sete dias de confrontos ainda é incerto. O OSDH (Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma ONG sediada no Reino Unido) contabilizou mais de 1.000 mortes desde 13 de julho. Já a Rede Síria para os Direitos Humanos informou em 18 de julho que havia documentado a morte de pelo menos 321 pessoas.
Ambas as organizações falam em mortes de civis, incluindo mulheres e crianças, e em execuções sumárias –moradores dizem que amigos e vizinhos foram baleados à queima-roupa em suas casas por soldados, identificados por seus uniformes e insígnias. Além disso, os confrontos deslocaram 128 mil pessoas, afirmou a OIM (Organização Internacional para as Migrações) neste domingo.
A crise começou no último domingo (13), quando o sequestro de um comerciante druso por combatentes beduínos desencadeou uma onda de violência na região. Um dia depois, o governo sírio enviou forças militares para tentar conter o conflito e Israel começou a atacar a região sob a justificativa de proteger os drusos, medidas que agravaram a situação.
Profundamente desconfiados das autoridades, que desde a queda do ditador Bashar al-Assad, em dezembro, são lideradas por um ex-membro de um grupo ligado ao Estado Islâmico e à Al Qaeda, os líderes das milícias drusas pensaram que as tropas iriam atacá-los e se mobilizaram, de acordo com relatos. Outras testemunhas dizem que as forças do governo se aliaram aos beduínos.
Já Israel chegou a bombardear o Ministério da Defesa sírio e o palácio presidencial, em Damasco. Espalhados por Líbano, Síria, Jordânia, Israel e Colinas de Golã, território sírio ocupado por Tel Aviv, os drusos seguem uma religião derivada do islamismo xiita e costumam ter relevância na politica dos países onde estão, incluindo o Estado judeu.
Os bombardeios fizeram o presidente interino Ahmed al-Sharaa retirar as tropas da região e afirmar, em um comunicado na TV que proteger os cidadãos drusos, “parte integrante do tecido” da nação, e seus direitos era uma prioridade.
Os combates colocam em xeque a disposição do , ex-membro de um grupo ligado ao Estado Islâmico e à Al Qaeda, de fazer as minorias do país conviverem. O político vem tentando minimizar o seu passado jihadista perante a comunidade internacional e se aproximar dos EUA, inclusive com um encontro com Donald Trump em maio, quando Washington suspendeu as sanções contra o país.
“A decisão do presidente Trump de suspender as sanções foi um passo íntegro, oferecendo ao povo sírio a chance de superar anos de sofrimento”, afirmou neste domingo o enviado dos EUA para o país, Tom Barrack. “Essa frágil ambição agora é ofuscada por um profundo choque, à medida que atos brutais de facções em conflito minam a autoridade do governo e perturbam qualquer aparência de ordem. Todas as facções devem depor imediatamente as armas, cessar as hostilidades e abandonar os ciclos de vingança tribal.”
No sábado, a Presidência síria anunciou um cessar-fogo, apesar do fracasso em implementar outras tréguas nos dias anteriores, e pediu o fim imediato das hostilidades. Sharaa afirmou que a Síria não seria um “campo de testes para partição, secessão ou incitação sectária”.
Desta vez, porém, houve interrupção nas hostilidades, ao menos momentaneamente. Na noite de sábado, o Ministério do Interior afirmou que combatentes beduínos haviam deixado a cidade e, neste domingo, o chefe da pasta disse que as forças de segurança interna conseguiram acalmar a situação e impor o cessar-fogo, “abrindo caminho para uma troca de prisioneiros e o retorno gradual da estabilidade em toda a província”.
Imagens da agência de notícias Reuters mostraram forças do governo perto da cidade, bloqueando a estrada em frente a membros das tribos ali reunidas.
O dentista Kenan Azzam disse que havia uma calmaria instável, mas que os moradores da cidade lutavam contra a falta de água e eletricidade. “Os hospitais estão um desastre e fora de serviço, e ainda há muitos mortos e feridos”, disse ele por telefone.
Outro morador, Raed Khazaal, afirmou que a ajuda era urgentemente necessária. “Casas estão destruídas, o cheiro de cadáveres se espalha por todo o hospital nacional”, disse ele em uma mensagem de voz à Reuters, de Sweida.
A agência de notícias estatal síria informou que um comboio de ajuda humanitária enviado à cidade pelo governo teve a entrada negada, enquanto a ajuda organizada pelo Crescente Vermelho Sírio foi autorizada a entrar. Uma pessoa com conhecimento da situação disse que facções locais em Sweida impediram a entrada do comboio do governo.