Governo Trump divulga arquivos do FBI sobre Martin Luther King apesar de oposição da família

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo do presidente Donald Trump divulgou documentos do FBI sobre a vigilância a Martin Luther King Jr., contrariando pedidos de sua família e da organização que ele liderou até seu assassinato, em 1968, segundo publicado pela agência de notícias Associated Press nesta segunda-feira (21)

Mais de 240 mil páginas foram liberadas ao público. Os documentos estavam sob sigilo judicial desde 1977, quando o FBI os reuniu e entregou à Administração Nacional de Arquivos e Registros. Inicialmente, a previsão era que ficassem sob sigilo até 2027, mas o Departamento de Justiça solicitou a antecipação da quebra de sigilo.

Os dois filhos vivos de King -Martin III e Bernice- foram notificados com antecedência e tiveram acesso prévio aos arquivos. Em comunicado divulgado nesta segunda, eles afirmaram que o caso de seu pai se tornou uma “curiosidade pública cativante por décadas”, mas pediram que os documentos fossem analisados com cuidado.

“Como filhos do dr. King e da sra. Coretta Scott King, sua morte trágica foi uma dor pessoal profunda -uma perda devastadora para sua esposa, filhos e a neta que ele nunca conheceu- uma ausência que nossa família suporta há mais de 57 anos”, escreveram. “Pedimos que aqueles que acessarem esses arquivos o façam com empatia, contenção e respeito pelo luto contínuo de nossa família.”

Bernice tinha cinco anos quando o pai foi morto. Martin III, dez.

A divulgação dos arquivos também se insere em uma promessa feita por Trump durante a campanha: tornar públicos documentos sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy, em 1963. Já em seu primeiro ano na Casa Branca, o republicano assinou um decreto determinando a liberação dos arquivos de JFK, além dos de Robert F. Kennedy e de King, ambos assassinados em 1968. Os papéis sobre JFK foram divulgados em março, e parte dos de RFK veio a público em abril.

A publicação também ocorre em meio a críticas sobre a forma como o governo Trump tratou a liberação de informações relacionadas à investigação de tráfico sexual envolvendo Jeffrey Epstein, que se suicidou na prisão em 2019, enquanto aguardava julgamento. Na última sexta-feira, Trump ordenou que o Departamento de Justiça liberasse testemunhos do júri, mas sem abrir o processo por completo.

A Conferência da Liderança Cristã do Sul (SCLC), que King ajudou a fundar em 1957, também se manifestou contra a divulgação. A organização, assim como os familiares de King, argumenta que o FBI agiu ilegalmente ao grampear escritórios e linhas telefônicas de King e de outros líderes do movimento, numa tentativa de desmoralizá-los.

Já é amplamente documentado que o então diretor do FBI, J. Edgar Hoover, tinha um interesse obcecado por King, que ele via como ameaça. Registros anteriores mostram que o FBI grampeou telefones, escutou quartos de hotel e usou informantes para obter informações sobre o ativista.

“Ele foi implacavelmente alvo de uma campanha invasiva, predatória e profundamente perturbadora de desinformação e vigilância orquestrada por J. Edgar Hoover por meio do FBI”, afirmaram os filhos no comunicado.

“A intenção da campanha do governo, o Cointelpro, não era apenas monitorar, mas desacreditar, desmantelar e destruir a reputação do dr. King e o movimento de direitos civis americano como um todo”, prosseguiram. “Essas ações não foram apenas invasões de privacidade, mas ataques intencionais à verdade -ações que minaram a dignidade e as liberdades de cidadãos que lutavam por justiça, com o objetivo de neutralizar quem desafiava o status quo.”

Mesmo após as vitórias legislativas com a Lei dos Direitos Civis de 1964 e a Lei do Direito ao Voto de 1965, King passou a defender pautas econômicas e a criticar abertamente o capitalismo e a guerra do Vietnã -o que aumentou a animosidade contra ele por parte de figuras do governo, que o associavam ao comunismo.

King foi assassinado em Memphis, onde apoiava trabalhadores de saneamento em greve -parte de sua virada para uma agenda de justiça econômica. James Earl Ray confessou o crime, mas depois voltou atrás e alegou inocência até sua morte, em 1998.

Familiares de King e outras pessoas questionaram se Ray agiu sozinho, ou mesmo se teve envolvimento. Coretta Scott King, a viúva do ativista, chegou a pedir a reabertura do caso, e o Departamento de Justiça dos EUA, sob a então procuradora-geral Janet Reno, revisou o processo em 1998. A conclusão oficial foi de que “nada foi encontrado que alterasse a decisão judicial de 1969 de que James Earl Ray assassinou o dr. King.”

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