Harvard enfrenta Trump na Justiça para recuperar mais de US$ 2 bilhões em verbas

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Universidade Harvard pediu à Justiça dos Estados Unidos, em audiência nesta segunda-feira (21), que obrigue o governo de Donald Trump a reverter o congelamento de verbas federais no valor aproximado de US$ 2,5 bilhões (R$ 13 bilhões) que seriam destinadas à instituição de ensino.

A verba, paga pelo governo com o objetivo de estimular pesquisa científica, foi cortada no início deste ano como parte da disputa entre o presidente e a instituição, uma das mais prestigiosas do mundo. A audiência terminou sem que a juíza do caso, Allisson Burroughs, tomasse uma decisão sumária, isto é, imediata, como queriam as partes.

Os advogados do governo disseram à juíza que o congelamento de verbas se deu pela decisão de não enviar dinheiro a instituição antissemitas -essa acusação é feita por Trump contra uma série de universidades americanas que, na visão do republicano, foram lenientes com protestos pró-Palestina em seus campi.

“Harvard deu prioridade a manifestantes em vez de pesquisas sobre câncer”, disse o advogado do Departamento de Justiça Michael Velchik. Ele pediu que o caso fosse removido da primeira instância e julgado em uma corte especial que lida com assuntos monetários do governo.

A universidade, por sua vez, afirmou que centenas de projetos de pesquisa, incluindo sobre câncer e outras doenças, seriam prejudicados pelos cortes do governo. O advogado da instituição, Steven Lehotsky, disse que o governo não foi e não será capaz de provar que o dinheiro enviado a Harvard financiou atividades antissemitas.

A juíza suspendeu a audiência depois de duas horas, dizendo que via problemas com o argumento do governo Trump de que tem o direito de congelar verba por razões políticas e relacionadas à livre expressão.

O embate marca um momento crucial no conflito crescente entre a Casa Branca e as universidades da Ivy League, a elite acadêmica dos EUA. Harvard entrou na mira do governo após rejeitar, em abril, uma série de exigências feitas por Trump para que o financiamento da instituição fosse mantido.

A universidade argumentou na ocasião que cumprir as medidas implicaria ceder ao governo federal o controle sobre processos de contratação, admissões e diretrizes acadêmicas da universidade.

A Casa Branca reagiu no mesmo dia e anunciou o congelamento de US$ 2,2 bilhões em verbas, além de US$ 60 milhões em contratos com a instituição.

Harvard, então, processou o governo Trump para barrar o congelamento dos recursos. O reitor Alan Garber afirmou que a instituição poderá ser forçada a demitir funcionários e congelar contratações caso a suspensão de recursos não seja revertida.

A universidade afirma que os cortes são uma forma de retaliação -as exigências de Trump incluíam, entre outros pontos, a revisão de critérios de contratação e admissões para garantir “diversidade de pontos de vista”, além do fim de programas considerados “ideologicamente capturados”.

O presidente tem usado o financiamento federal como instrumento de pressão para impor mudanças nas universidades do país, que, segundo ele, estariam dominadas por ideologias “radicais de esquerda”.

A Casa Branca justifica os cortes com o argumento de que as instituições lidaram mal com os protestos pró-Palestina do ano passado, acusando-as de terem permitido que o antissemitismo se espalhasse nos campi.

A juíza Allison Burroughs, indicada pelo ex-presidente democrata Barack Obama, já julgou outros processos envolvendo Harvard. A magistrada havia determinado, por exemplo, que o governo não poderia impedir a universidade de receber estudantes estrangeiros.

Nos autos, o governo argumenta que Burroughs não tem jurisdição para julgar o caso e que a gestão Trump pode cortar os subsídios caso as instituições não sigam os objetivos da política pública federal.

A defesa de Harvard acusa o governo de violar a Primeira Emenda da Constituição ao tentar interferir na liberdade acadêmica e no direito da universidade de definir seus próprios critérios de ensino e pesquisa.

Apesar de possuir o maior fundo patrimonial universitário do país, estimado em US$ 53 bilhões (R$ 280 bilhões), Harvard alertou que não consegue absorver sozinha o impacto dos cortes.

O resultado da audiência poderá influenciar diretamente possíveis negociações futuras entre a universidade e a gestão Trump.

Enquanto isso, Harvard tenta preservar sua independência institucional e argumenta que já tomou medidas para tornar seu campus mais seguro para estudantes judeus e israelenses, reconhecendo que houve casos de discurso antissemita considerados repreensíveis.

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