SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um discurso repleto de citações à família Bolsonaro e a Donald Trump, o presidente Lula (PT) voltou a defender negociações com os Estados Unidos, mas disse que, se quiserem continuar brigando com ele, “vai ter”.
“Minha vida é essa. Eu não quero brigar. Mas se quiser continuar brigando comigo, ainda não quero brigar. Mas se quiser continuar brigando comigo, aí vai ter”, disse, em um evento em Osasco (SP).
Lula ainda comparou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a Joaquim Silvério dos Reis, traidor de Tiradentes, disse que deputados aliados “têm que tomar uma atitude” com relação a ele e afirmou que o presidente dos Estados Unidos implementou a sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros porque “foi induzido a acreditar em uma mentira”.
Lula reafirmou que, caso a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos tivesse ocorrido no Brasil, Trump seria julgado da mesma forma que Jair Bolsonaro (PL) está sendo.
“Nós temos políticos no Brasil que tomaram para eles a bandeira nacional. Tomaram para ele a bandeira nacional, a camisa da seleção brasileira e se diziam patriotas”, disse o presidente.
“[Tiradentes] ia fazer um movimento para fazer a independência. Apareceu um cara, que parecia amigo dele, que chamava Silvério dos Reis, e esse cara traiu o Tiradentes. Por conta dessa traição, Tiradentes foi preso e foi enforcado”, continuou.
“Esses mesmos cidadãos ou cidadãs que utilizavam a camisa da seleção brasileira e a bandeira nacional estão agora agarrados na bota do presidente dos Estados Unidos pedindo para ele fazer intervenção no Brasil. Numa total falta de patriotismo. Junta a falta de patriotismo com traição”, afirmou.
“Se o presidente Trump tivesse ligado para mim, eu certamente explicaria para ele o que está acontecendo com o ex-presidente. Eu explicaria, porque tenho boa relação com todo mundo. Se ele me ligasse, mas não. Ele foi induzido a acreditar em uma mentira de que o Bolsonaro está sendo perseguido.”
Lula disse ainda que foi alvo de mentiras durante a Operação Lava Jato, mas optou por enfrentar o processo judicial, e ironizou Bolsonaro, obrigado na semana passada a colocar uma tornozeleira eletrônica.
“Quando foram me propor um acordo para eu ir para casa de tornozeleira, eu disse para eles que não troco minha dignidade pela minha liberdade. Não vou colocar tornozeleira porque não sou pombo-correio.”
Ainda tratando da crise com Trump, Lula reagiu mais uma vez à carta do norte-americano em que o anúncio da sobretaxa foi feito.
Falando especificamente das big techs, Lula disse que “nós vamos fazer regulação, porque eles têm que respeitar a legislação brasileira. Não pode ficar promovendo ódio entre os adolescentes, contando mentira, tentado destruir a democracia e o Estado democrático”.
“Todos os dados brasileiros sobre saúde, sobre educação, tudo, está nas mãos de quem? Está nas mãos dos americanos. Nós gastamos com eles no ano passado 23 bilhões [ele não disse em qual moeda]. Então, se você pegar serviços e comércio, eles têm um superávit, em 15 anos, de US$ 410 bilhões. Então, quem deveria estar reclamando éramos nós. E nós não estamos reclamando, estamos querendo negociar”, afirmou.
Lula abordou outros temas, falando do programa Celular Seguro, que pretende combater o roubo e furto de celular, mas disse que este crime é cometido por um “pobre desgraçado” contra outro nas periferias.
“O que é que leva uma pessoa que mora na periferia a votar num cara rico? Ora, porque quando a gente vota num cara rico significa que a gente está colocando uma raposa para tomar conta do galinheiro. Vocês acham que a raposa vai tomar conta do galinheiro?”, disse Lula.
Ele ainda rebateu críticas a estratégia “nós contra eles” adotada pela comunicação do governo. “Não é nós contra eles, é ‘eles contra nós’.”
Durante a fala do petista, um homem começou a gritar “ladrão” no meio da plateia e foi hostilizado pelo público presente. Ele foi retirado do local pelos seguranças e saiu por uma porta lateral. O presidente foi informado por um segurança da confusão e ficou alguns segundos sem falar nada, deixando que a plateia gritasse e batesse palmas. “Nós não aceitamos provocação e não jogamos o jogo rasteiro dos adversários”, acrescentou.
O presidente disse que enquanto tiver saúde e disposição, “essa gente que governou esse país não volta mais”, em referência a Bolsonaro. Ele, então, fez um aceno ao ex-deputado federal João Paulo Cunha, condenado no mensalão e presente entre os convidados: “João Paulo, você trate de voltar para a política”, disse.
Cunha se firmou na política por meio do movimento metalúrgico de Osasco e, após ter cumprido pena pelo mensalão, entre 2014 e 2015, manteve-se afastado de mandatos partidários, dedicando-se aos bastidores e à vida como advogado.
“Pare de ganhar dinheiro como advogado em Brasília. Vem para a porta de fábrica fazer comício”, pediu Lula ao ex-deputado.