SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tensão entre Tailândia e Camboja aumentou nesta sexta-feira (25), no segundo dia de confrontos armados ao longo da fronteira entre os países. O primeiro-ministro interino tailandês, Phumtham Wechayachai, afirmou que os conflitos podem evoluir para uma guerra.
Pelo menos 20 pessoas morreram na troca de ataques, a mais grave em mais de uma década. Além disso, mais de 138 mil foram forçadas a deixar suas casas. “A situação se intensificou”, disse Wechayachai.
Diante da tensão, o Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência para esta sexta a pedido do primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet. Durante o encontro, o representante do país pediu o estabelecimento de um cessar-fogo urgente.
Camboja e Tailândia se acusam mutuamente de terem iniciado o conflito na manhã de quinta-feira (24), numa crise que rapidamente escalou para bombardeios intensos em uma região ao longo da fronteira cuja soberania é contestada há mais de um século.
Os confrontos foram iniciados depois que a Tailândia convocou seu embaixador no Camboja, na quarta-feira (23), e disse que expulsaria o enviado cambojano em Bancoc, após um segundo soldado tailandês ter perdido um membro, no período de uma semana, devido a uma mina terrestre na área disputada.
A Tailândia acusa o Camboja de ter colocado as minas recentemente, o que foi negado pelas autoridades do Camboja. O território cambojano ainda contém milhões de minas terrestres remanescentes da guerra civil ocorrida há décadas, segundo grupos que atuam para desarmar os dispositivos.
O fato de ambos os países terem expulsado os embaixadores dificulta as perspectivas de uma resolução diplomática rápida.
Nesta sexta, os combates recomeçaram antes do amanhecer e foram registrados em pelo menos 12 localidades, segundo os militares tailandeses, que acusaram o Camboja de atacar inclusive escolas e hospitais com foguetes BM-21, de fabricação russa.
Já o Camboja afirmou que os bombardeios da Tailândia causaram “danos significativos e visíveis” ao templo de Preah Vihear, considerado Patrimônio Mundial pela Unesco e que ambos os países reivindicam para si há décadas. O Exército tailandês disse que a acusação é uma “uma clara distorção dos fatos”.
A Tailândia decretou lei marcial em oito distritos das províncias de fronteira. O Ministério do Interior afirmou que mais de 138 mil civis, incluindo 428 pessoas que estavam hospitalizadas, foram levados para abrigos temporários.
Autoridades tailandesas disseram ainda que 19 pessoas morreram, incluindo 13 civis, e outras 62 ficaram feridas. Do lado cambojano, líderes relataram uma morte e cinco feridos.
Em Samraong, cidade cambojana a 20 km da divisa entre países, famílias foram vistas fugindo às pressas com crianças no colo e pertences. “Estamos com medo. Não sei quando poderemos voltar para casa”, disse Pro Bak, 41, enquanto procurava abrigo com a esposa e os filhos em um templo budista.
Estados Unidos, China e Malásia, atual presidente do bloco regional da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), ofereceram-se para mediar os diálogos, mas Bancoc busca uma solução bilateral para o conflito.
“Não acho que precisamos da mediação de terceiros neste momento”, afirmou o porta-voz da chancelaria tailandesa, Nikorndej Balankura. Ele reiterou que o Camboja deve cessar os ataques antes que qualquer diálogo possa ocorrer.
“Mantemos nossa posição de que o mecanismo bilateral é o melhor caminho. As portas continuam abertas”, acrescentou.
Os Estados Unidos, que mantêm um tratado de segurança com a Tailândia, pediram “o fim imediato dos ataques, a proteção dos civis e uma solução pacífica para as disputas”, segundo comunicado divulgado na quinta-feira pela porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce.
Nesta sexta, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou que o conflito é “angustiante e preocupante”.
Por mais de um século, Tailândia e Camboja contestam a soberania em vários pontos não demarcados ao longo de sua fronteira terrestre de 817 km, o que levou a escaramuças ao longo de vários anos e pelo menos uma dúzia de mortes, inclusive durante uma troca de artilharia de uma semana em 2011.