Governo de Taiwan é derrotado em votação, e oposição mantém maioria parlamentar

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PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Em derrota para o atual governo de Taiwan, as 24 votações distritais para destituir parlamentares do principal partido de oposição tiveram resultado negativo neste sábado (26), segundo a Comissão Eleitoral Central. Na maioria, nem sequer foi alcançado o quórum mínimo de 25%.

O Kuomintang ou Partido Nacionalista (KMT) manteve seu total de 52 cadeiras e, ao lado do Partido do Povo de Taiwan (PPT), o controle do Legislativo de 113 membros. Uma nova votação, para derrubar outros sete mandatos do KMT, está marcada para agosto, mas, qualquer que seja o resultado, não afetará a maioria.

O referendo de anulação dos mandatos foi uma tentativa de organizações políticas e do presidente Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (PDP), de retomar o Parlamento, perdido nas eleições gerais do ano passado. A oposição tem barrado iniciativas do PDP, como o aumento nos gastos militares com armamentos.

O resultado da votação representa, por outro lado, uma vitória para a China, que questiona Lai por seu esforço cada vez mais deliberado de buscar a independência da ilha. O porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan, em Pequim, disse que Lai “usa todos os meios possíveis para suprimir a oposição”.

Para Pequim, a China continental e Taiwan são duas partes de uma só China. Essa é a visão também do KMT. Por outro lado, ambos defendem a manutenção do status quo.

O resultado foi frustrante para o comerciário Shih-Han Wang, 38, partidário de Lai e defensor da anulação dos mandatos da oposição.

Ele queria a mudança porque, no seu entender, “eles tentam aprovar muitos projetos pró-China”, citando o orçamento militar e até a facilitação de casamentos entre nascidos no continente e na ilha. “Nós precisamos de muitas armas para nos defender”, afirma.

Yan Zhensheng, professor de ciência política da Universidade Nacional de Taiwan, a principal da ilha, diz que o resultado diminui o risco de conflito.

“Se o PDP conseguisse recuperar a maioria e Lai se sentisse com mandato para impulsionar sua agenda, o Estreito de Taiwan poderia se tornar mais perigoso”, comenta.

A LINHA DO TEMPO DE TAIWAN

1601-1682: Ilha não tem autoridade central. É parcialmente ocupada por europeus e exilados da dinastia Ming por algumas décadas

1683-1894: Torna-se parte da China sob a dinastia Qing

1895: Torna-se colônia do Império do Japão após ele vencer a primeira guerra sino-japonesa

1945: Obrigado a ceder seus territórios no exterior após a Segunda Guerra Mundial, o Japão devolve a ilha à então República da China

1949: Governo da República da China se transfere para a ilha após o Partido Nacionalista (Kuomintang, KMT), de Chiang Kai-shek, ser derrotado na guerra civil pelo Partido Comunista, de Mao Tse-tung; chineses de diversas províncias continentais se mudam para a ilha (hoje respondem por 15% da população) e se juntam aos descendentes de grupos que migraram das províncias chinesas de Fujian e Guandong nos séculos anteriores (hoje 80% dos habitantes).

1950-1959: Com apoio dos EUA, a República da China implementa uma reforma agrária que abre caminho para maior produção agrícola e crescimento econômico; prosperidade rural estimula o desenvolvimento industrial e urbano

1960-1969: Investimentos da década anterior levam a um “milagre econômico”, com taxas anuais de crescimento do PIB que chegam a dois dígitos

1971: República da China, conhecida como China nacionalista, perde sua cadeira na ONU para a República Popular da China ou China continental, e a ilha passa a ser tratada no exterior como Taiwan ou Formosa; industrialização voltada para exportação se acelera nos anos 1970, partindo de têxteis para os aparelhos eletrônicos

1985: Ministro Li Kwoh-ting (KMT) contrata o executivo Morris Chang para comandar a expansão de chips na ilha, dizendo a ele, segundo a lenda, “Queremos uma indústria de semicondutores, quanto dinheiro você precisa?”; a TSMC é fundada dois anos depois

1987: O KMT suspende a lei marcial vigente desde 1949 e começa a democratização da ilha

1992: República da China e República Popular da China aceitam o princípio de uma só China, mas, segundo Taipé, podendo definir separadamente o que é China

1996: Primeiras eleições presidenciais culminam com vitória do KMT

2000: Primeira vitória do Partido Democrático Progressista (PDP) inicia a alternância no poder; dois mandatos de Chen Shui-bian terminam marcados por corrupção, conflitos étnicos e deterioração das relações com China e com EUA

2008: Efeitos da crise financeira nos EUA atingem taxas anuais de crescimento, que baixam de patamar a partir daí

2014-2015: Então no fim do segundo mandato, presidente Ma Ying-jeou (KMT) vê seu projeto de acordo comercial com a China ser inviabilizado por protestos

2016: Tsai Ing-wen (PDP) é eleita presidente e rejeita o princípio de uma só China; seus dois mandatos são marcados por redução de contatos com Pequim e aproximação com Washington, inclusive por meio da compra de caças, mísseis e tanques

2022: A então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visita Taiwan, ampliando a deterioração nas relações com Pequim, que cerca a ilha e passa a fazer exercícios militares intermitentes

2024: Lai Ching-te (PDP), vice de Tsai, é eleito presidente de Taiwan, mas a oposição obtém maioria no Legislativo

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