Israel anuncia pausas diárias em Gaza para permitir distribuição de ajuda

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel disse neste domingo (27) que vai interromper operações militares diariamente por 10 horas em partes da Faixa de Gaza e permitir novos corredores de ajuda no território palestino, onde imagens de palestinos famintos alarmaram o mundo nos últimos dias.

A atividade militar será interrompida das 10h às 20h (4h às 14h, pelo horário de Brasília) até segunda ordem na área humanitária de Al-Mawasi, e na região central, em Deir al-Balah e na Cidade de Gaza.

O restante de Gaza, áreas que incluem os quatro pontos de distribuição de comida operados pela Fundação Humanitária de Gaza (FHG), seguem em locais para onde o Exército israelense emite alerta de zona de combate perigosa.

Os militares disseram que rotas seguras designadas para comboios que entregam alimentos e medicamentos também estarão em vigor entre as 6h e as 23h a partir deste domingo.

O chefe de ajuda humanitária da ONU, Tom Fletcher, disse que a equipe intensificará os esforços para alimentar os famintos durante as pausas nas áreas designadas.

“Nossas equipes no terreno farão tudo o que pudermos para alcançar o maior número possível de pessoas famintas nesta janela de tempo”, disse ele em uma publicação no X.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU afirmou receber com bons olhos a notícia de que Israel vai implementar as pausas humanitárias, incluindo maior agilidade na entrada de ajuda, garantias de segurança e facilitação do trabalho das agências internacionais. “Juntas, essas medidas vão permitir um grande aumento de assistência alimentar urgente sem demora”, afirmou a organização.

Dezenas de habitantes de Gaza morreram de desnutrição nas últimas semanas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza do território, controlado pelo Hamas. Um total de 127 pessoas morreram devido à desnutrição, incluindo 85 crianças, desde o início da guerra, ainda segundo a pasta.

No sábado, um bebê de cinco meses, Zainab Abu Haleeb, morreu de desnutrição aguda grave no Hospital Nasser em Khan Yunis, disseram profissionais de saúde.

“Três meses dentro do hospital e isso é o que recebo em troca, que ela está morta”, disse sua mãe, Israa Abu Haleeb, ao lado do pai do bebê, enquanto ele segurava o corpo da filha, que estava envolto em uma mortalha branca.

O Crescente Vermelho do Egito (equivalente à Cruz Vermelha) disse que estava enviando no domingo mais de cem caminhões transportando mais de 1.200 toneladas métricas de ajuda alimentar para o sul de Gaza através da passagem de Kerem Shalom, que fica na área de fronteira tríplice entre Israel, Egito e Gaza.

Horas antes, Israel iniciou lançamentos aéreos de ajuda, no que disse ser um esforço para aliviar as condições humanitárias no enclave. A prática é vista como insuficiente e criticada por agências humanitárias.

Grupos de ajuda disseram na semana passada que havia fome em massa entre as 2,2 milhões de pessoas de Gaza, e o alarme internacional sobre a situação humanitária no local aumentou, impulsionando o anúncio do presidente francês, Emmanuel Macron, de que irá reconhecer um Estado palestino em setembro.

A ONU disse na semana passada que pausas humanitárias na atividade militar permitiriam “a ampliação da assistência humanitária”, acrescentando que Israel não estava fornecendo alternativas de rota suficientes e seguras para seus comboios, dificultando o acesso à ajuda que entra no território palestino.

Israel, que cortou o fluxo de ajuda para Gaza desde o início de março e o reabriu com novas restrições em maio, diz estar comprometido em permitir a entrada de ajuda, mas deve controlá-la para evitar que seja desviada por terroristas.

Tel Aviv diz ainda que permitiu a entrada de alimentos suficientes em Gaza durante a guerra e culpa o Hamas pelo sofrimento do povo de Gaza.

Relatório produzido em junho pela Usaid, a agência de ajuda externa americana —que agora opera dentro do Departamento de Estado após ser desmantelada pelo governo Trump— constatou, no entanto, que não há provas de roubo sistemático de comida pelo grupo terrorista.

Israel e os EUA pareceram abandonar na sexta-feira (25) as negociações de cessar-fogo com o Hamas, dizendo que ficou claro que a facção não quer um acordo.

ESPERANÇA E INCERTEZA

Muitos habitantes de Gaza expressaram alívio cauteloso quanto ao anúncio do Exército israelense deste domingo, mas defenderam que os combates devem terminar de forma permanente.

“As pessoas estão felizes que grandes quantidades de ajuda alimentar chegarão a Gaza”, disse o empresário Tamer Al-Burai. “Esperamos que hoje marque um primeiro passo para acabar com esta guerra que queimou tudo.”

Outros expressaram preocupação sobre como a ajuda será entregue e se chegará às pessoas com segurança.

“A ajuda deve entrar de forma lógica. Quando a ajuda é lançada por via aérea, causa ferimentos e danos”, disse Suhaib Mohammed, residente deslocado de Gaza.

O ministro da Segurança Nacional de extrema-direita de Israel, Itamar Ben-Gvir, criticou a decisão de seu governo, que ele afirmou ter sido tomada sem seu envolvimento no sábado pelo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e funcionários de Defesa.

“Esta é uma capitulação à campanha enganosa do Hamas”, disse ele em um comunicado, repetindo seu apelo para cortar toda a ajuda a Gaza, conquistar todo o território e encorajar a população palestina do local a sair. Ele evitou ameaçar deixar o governo, cuja coalizão tem balançado recentemente com a saída de partidos ultraortodoxos.

O governo Netanyahu não se pronunciou sobre as falas de Ben-Gvir.

A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando terroristas liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas, principalmente civis, e levando 251 reféns de volta para Gaza —50 deles ainda seguem sequestrados, 30 dos quais Tel Aviv assume que estão mortos.

Desde então, a ofensiva israelense matou quase 60 mil pessoas em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas, reduziu grande parte do território a ruínas e deslocou quase toda a população.

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