SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo russo adotou um tom conciliador em relação aos Estados Unidos nesta segunda (4), início da semana em que expira o prazo dado por Donald Trump para que Vladimir Putin aceite uma trégua na Guerra da Ucrânia, sob pena de sofrer novas e mais duras sanções econômicas.
O Kremlin minimizou a ameaça atômica feita por Trump na sexta (1º), quando o presidente americano anunciou ter enviado submarinos nucleares para responder às provocações feitas por Dmitri Medvedev, que governou a Rússia de 2018 a 2022.
Além disso, confirmou que o enviado americano para tentar negociar o fim do conflito iniciado por Putin em 2022, Steve Witkoff, irá a Moscou na quarta (6) e deve se encontrar com o presidente russo.
O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, disse que é preciso ser “muito, muito cauteloso” ao empregar retórica nuclear, sem citar nem Trump, nem Medvedev. “Neste caso, é óbvio que os submarinos americanos já estão em missão. Nós não queremos nos envolver em tal controvérsia e eu não quero comentar”, disse.
Com efeito, o ex-presidente não retrucou até agora. A fala incendiária de Trump ocorreu depois de Medvedev, que hoje é o número 2 do Conselho de Segurança da Rússia e visto como um porta-voz das alas mais radicais do governo, lembrar o americano na véspera de que os russos tinham sistemas de ataque nuclear eficazes egressos da Guerra Fria.
Ele criticava justamente a série de ultimatos de Trump, que primeiro deu 50 dias e, depois, 10 para que Putin tome sua decisão. O presidente em si não comentou isso, mas integrantes de seu governo já disseram que não aceitam pressões externas.
É uma meia verdade, claro, dado que já houve três rodadas infrutíferas de negociações com os ucranianos justamente por pressão de Trump. Mas parece muito difícil, senão impossível, que Putin aceite uma trégua quando o prazo expirar, na próxima sexta (8).
Segundo a reportagem ouviu no entorno do Kremlin, a leitura russa é de que as novas sanções, que atingirão países que compram petróleo e derivados russos, demorarão a ter efeito. É uma aposta: a Índia, que recebeu tarifas extras na guerra comercial com Trump devido ao fato de ser o segundo destino de óleo cru russo, disse que continuará comprando.
Outros membros do Brics entram nessa conta, como a China, maior compradora de petróleo, e o Brasil, segundo maior comprador de diesel russo. Mas as medidas afetam inclusive aliados americanos na aliança militar Otan, como a Turquia, principal destino do diesel.
Assim, exceto que haja algum coelho em sua cartola, Witkoff terá dificuldades em dobrar Putin. Com os submarinos nucleares, e Trump nem especificou se falava de algum modelo armado com mísseis atômicos, não parece ter dado muito certo a pressão.
Em solo, o fim de semana foi marcado por trocas de ataques aéreos mais intensos dos dois lados. Um depósito de petróleo no balneário russo de Sochi, o preferido de Putin, foi atingido por drones ucranianos. Ao todo, três pessoas morreram no país vítimas de bombardeios.
Nesta madrugada, outros 61 drones foram interceptados pelas forças russas. Mas a ação mais vistosa ocorreu contra a Crimeia, península anexada por Putin em 2014, numa reação à derrubada do governo pró-Kremlin em Kiev.
Segundo o SBU, o serviço secreto ucraniano, 113 drones miraram a base de Saki, uma das mais importantes na região. Os russos só confirmaram a ação, mas não falaram em danos, enquanto Kiev disse ter destruído um caça Su-30SM e danificado outro, além de ter causado estragos em três caças-bombardeiros Su-24.