Alemanha suspende venda de armas a Israel; veja reações a plano de tomada completa de Gaza

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O plano para que as Forças Armadas de Israel assumam o controle da Cidade de Gaza, anunciado na quinta-feira (7) pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e aprovado pelo seu gabinete de segurança, causou diversas reações mundialmente e está sendo criticado dentro e fora do país.

A operação, segundo Tel Aviv, será acompanhada do fornecimento de ajuda humanitária à população que estiver fora das zonas de combate, mas também deverá exigir o deslocamento forçado dos civis da Cidade de Gaza e diminuir ainda mais a área territorial em que a população palestina tem permissão para ficar.

O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, anunciou nesta sexta-feira (8) que o país suspenderá a exportação de equipamentos militares para Israel. A libertação dos reféns israelenses e as negociações por um cessar-fogo são as principais prioridades da Alemanha, disse o premiê em um comunicado.

“O governo alemão acredita que a ação militar ainda mais dura na Faixa de Gaza, decidida pelo gabinete israelense na noite passada, torna cada vez mais difícil ver como esses objetivos podem ser alcançados”, disse Merz. “Nessas circunstâncias, [Berlim] não aprovará nenhuma exportação de equipamentos militares que possam ser usados na Faixa de Gaza até novo aviso.”

A decisão representa uma grande mudança de posição da Alemanha, que vinha mantendo seu apoio a Tel Aviv, em contraste com a maioria dos vizinhos europeus. Berlim também tem resistido em reconhecer o Estado da Palestina, em sentido contrário ao de parceiros como França e Reino Unido.

Em publicação do gabinete do premiê israelense no X, Netanyahu disse a Merz, em conversa por telefone, estar desapontado com a decisão de Berlim e afirmou ao líder alemão que o objetivo de Tel Aviv não é tomar Gaza, mas libertá-la do Hamas e possibilitar um governo pacífico no território palestino.

A suspensão da venda de armas a Israel tem um peso razoável, já que a Alemanha respondeu por 30% das importações de Israel nesse setor de 2019 a 2023, de acordo com o Sipri (Stockholm International Peace Research Institute). O cenário não teria se alterado muito no último ano. O maior fornecedor de armamento aos israelenses são os Estados Unidos, maiores aliados de Tel Aviv, que respondem por cerca de dois terços do total.

Já o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou em um comunicado que o plano anunciado é um “erro” e que o governo de Netanyahu deveria “reconsiderá-lo imediatamente”.

“Essa ação não contribuirá em nada para pôr fim ao conflito nem para alcançar a libertação dos reféns. Apenas provocará mais massacres”, acrescentou.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmou que a decisão deve ter consequências na relação de Israel com a o bloco. “[A decisão] não só viola o acordo com a União Europeia anunciado em 19 de julho, como também mina princípios fundamentais da lei internacional e valores universais”, afirmou Costa em um post no X.

A Turquia pediu que o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aja para impedir a implementação do plano e condenou a expansão do conflito. O ministério de Relações Exteriores turco disse que Tel Aviv precisa interromper o avanço militar, aceitar um acordo de cessar-fogo e negociar uma solução de dois Estados.

O fundo soberano da Noruega, que administra cerca de US$ 2 trilhões de recursos que vêm do petróleo, anunciará mudanças de seus investimentos em Israel, disse o Ministro das Finanças, Jens Stoltenberg.

“Vejo várias medidas a serem tomadas ao longo do tempo, mas o que pode ser resolvido rapidamente deve ser feito rapidamente”, afirmou. Ele não especificou quais seriam essas medidas, mas acrescentou que não haveria uma retirada de investimento de todas as empresas israelenses. “Se fizéssemos isso, significaria que estamos nos desfazendo delas só porque são israelenses”, completou.

Dinamarca, Egito, Jordânia, Austrália, China e Holanda também se juntaram à lista de países que criticaram publicamente o plano de Israel. Eles pedem que Netanyahu volte atrás na decisão. A Bélgica reagiu convocando a embaixadora de Israel, Idit Rosenzweig-Abu, para explicações. A Arábia Saudita afirmou que o governo do premiê faz uma “limpeza étnica” contra palestinos.

Já o grupo terrorista Hamas classificou a medida de Tel Aviv como um “crime de guerra”.

O alto comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Türk, afirmou que o plano de ocupação militar deve ser interrompido imediatamente. A medida, segundo o comunicado, “vai contra a decisão da Corte Internacional de Justiça segundo a qual Israel deve encerrar sua ocupação o mais rápido possível, da realização da solução acordada de dois Estados e do direito dos palestinos à autodeterminação”.

Dentro de Israel, famílias de reféns e outros israelenses protestaram contra a nova medida e pediram o retorno imediato dos 50 reféns que ainda estão sob poder do grupo terrorista Hamas em Gaza, dos quais se acredita que 20 estejam vivos. Os atos foram dispersados pela polícia israelense com bombas de efeito moral.

O líder opositor Benny Gantz afirmou que o plano de Tel Aviv é um “fracasso político que desperdiça as tremendas conquistas das Forças de Defesa de Israel”. Já o comandante das Forças Armadas, Eyal Zamir, disse que a decisão pode representar um risco às vidas dos reféns israelenses.

Além da ofensiva, a maioria dos integrantes do gabinete apoiou uma lista com cinco exigências que Israel pretende impor em troca do fim da guerra com o Hamas: o desarmamento da facção terrorista; o retorno de todos os 50 reféns; a desmilitarização de Gaza; que Tel Aviv mantenha o controle da segurança sobre o território; e a criação de um governo civil alternativo sem a participação do Hamas nem da Autoridade Palestina, que governa parte da Cisjordânia.

Horas antes de se reunir com seu gabinete nesta quinta, Netanyahu disse que pretende assumir o controle militar de toda a Faixa de Gaza e, posteriormente, entregá-la a um órgão que fará a administração civil.

A declaração foi dada à emissora americana Fox News, quando o premiê foi questionado se pretende tomar controle de todo o território palestino. “Pretendemos, para garantir a nossa segurança e retirar o Hamas de lá”, afirmou, antes de dizer que não tem intenção de governar Gaza.

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