RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A primeira-dama, Janja Lula da Silva, afirmou nesta sexta-feira (8) que o país precisa de mais mulheres na política e defendeu mobilização para evitar que representantes desistam dos cargos em virtude de violência política de gênero.
“Nós não vamos ter potência para votar leis que importam definitivamente e que atingem a nossa vida diretamente, se nós não tivermos mais mulheres no Parlamento”, afirmou, em evento sobre diversidade promovido pela Petrobras no Rio de Janeiro.
“E a gente sabe da violência política que as mulheres sofrem naquele lugar. Seja no Congresso Nacional, nas Assembleias Estaduais ou nas Câmaras”, completou. “A gente tem que fazer com que as mulheres não desistam disso”.
No evento, chamado Energia Delas, a Petrobras convidou autoridades e representantes da sociedade civil para debater políticas e estratégias empresariais para ampliar a presença feminina em empresas e esferas governamentais.
Uma das convidadas, a ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Edilene Lôbo lembrou que mulheres representam apenas 17,7% da Câmara dos Deputados e 7,5% das câmaras municipais.
“Na magistratura, apenas 6% são mulheres negras”, afirmou. “A democracia só será legítima, só será autêntica, quando as mulheres negras ocuparem o lugar que elas representam.”
Organizadora do evento, a Petrobras tem pela primeira vez maioria de mulheres na sua diretoria. Dos nove diretores, incluindo a presidente, Magda Chambriard, cinco são mulheres.
Em discurso, Magda lembrou de lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que garante 30% das vagas em conselhos de administração em estatais a mulheres. Na Petrobras hoje, de 11 conselheiros, nove são homens.
O presidente Lula (PT), marido de Janja, foi criticado pela alta taxa de demissão de ministras mulheres, por não alcançar paridade na Esplanada e por não indicar mulheres ao STF (Supremo Tribunal Federal) nas duas oportunidades que teve para escolher novos ministros.
Eu ainda não sei que medo que esses homens têm dos 50/50″, disse Janja, em referência à lei. “A gente quer, a gente precisa que os lugares de decisão e poder tenham espaços iguais entre homens e mulheres.”
Especialistas ouvidos pela Folha em reportagem em maio afirmam que a violência política de gênero no país registra nível preocupante, apesar de avanço recente sobre o tema na legislação.
Na Câmara, a Secretaria da Mulher do órgão afirmou que foram recebidas 63 denúncias de violência política de gênero junto ao órgão desde 2013 até maio de 2025, número considerado bem abaixo das ocorrências pelo país que atingem políticas das esferas municipal, estadual e federal.
Há casos de políticas como Manuela D’Ávila, que deixou a vida pública e citou a violência de gênero como um dos motivos. Ela havia sido candidata a vice-presidente na chapa com Guilherme Boulos (PSOL) em 2018 e foi deputada federal e estadual, além de vereadora de Porto Alegre.
Apesar disso, os dados apontam que os homens ainda são maioria entre as vítimas de violência política no país –dado explicado em parte porque eles também são maioria entre os políticos.
Levantamento da Unirio sobre a violência durante a campanha eleitoral de 2024 mostrou que homens foram 71% dos afetados. A eleição registrou um número recorde de casos: foram ao menos 338 de julho a setembro do ano passado.