SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O plano aprovado pelo governo de Israel para a ocupação da Cidade de Gaza, no norte do território, prevê o deslocamento forçado de milhares de palestinos até o próximo 7 de outubro, quando o conflito com o Hamas completará dois anos, caso não seja encerrado até lá. Foi nessa data, considerada simbólica, que terroristas da facção fizeram em 2023 um mega-atentado contra israelenses, o que deu início à guerra.
A proposta foi aprovada pelo gabinete de segurança nesta sexta-feira (8), ainda noite de quinta no Brasil, a despeito de críticas dentro e fora de Israel. Horas antes, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu defendeu que as forças israelenses assumam o controle de toda a Faixa de Gaza.
A ênfase em uma única cidade sugere, portanto, que a operação será gradual, com início naquela região. Segundo a rádio pública israelense Kan, o plano será executado em etapas: na primeira delas, autoridades planejam retirar, em até dois meses, os moradores da Cidade de Gaza e levá-los para campos de refugiados. Em seguida, tropas cercariam a área antes de operar internamente.
A ação deverá diminuir ainda mais a área territorial em que a população de Gaza, de aproximadamente 2 milhões de pessoas, tem permissão para ficar. Cerca de 1 milhão de pessoas estão atualmente na Cidade de Gaza, de acordo com o jornal The Times of Israel. As autoridades israelenses não divulgaram para quais campos de refugiados pretendem transferir os civis.
A operação, ainda segundo Tel Aviv, também será acompanhada do fornecimento de ajuda humanitária à população que estiver fora das zonas de combate.
Além da ofensiva, a maioria dos integrantes do gabinete apoiou uma lista com cinco exigências que Israel pretende impor em troca do fim da guerra com o Hamas: o desarmamento da facção terrorista; o retorno de todos os 50 reféns ainda em cativeiro (dos quais se acredita que 20 estejam vivos); a desmilitarização de Gaza; que Tel Aviv mantenha o controle da segurança sobre o território; e a criação de um governo civil alternativo sem a participação do Hamas nem da Autoridade Palestina, que governa parte da Cisjordânia.
Atualmente, Israel controla ou opera militarmente em cerca de 75% da Faixa de Gaza. Algumas áreas foram relativamente preservadas até aqui porque autoridades acreditam que ações nessas regiões colocariam a vida de reféns ainda mantidos em cativeiro em risco.
O plano causou reações em todo o mundo. A mais enfática delas foi a do premiê da Alemanha, Friedrich Merz. Ele anunciou que o país suspenderá a exportação de equipamentos militares para Israel. A libertação dos reféns israelenses e as negociações por um cessar-fogo são as principais prioridades para Berlim, disse o primeiro-ministro em comunicado.
O Conselho de Segurança da ONU fará, no próximo domingo, uma reunião de emergência para discutir o plano. A informação foi confirmada por autoridades diplomáticas à agência de notícias AFP.
Segundo o representante palestino na ONU, Ryad Mansour, o pedido partiu de vários países em reação à decisão israelense. O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou estar “gravemente alarmado” com o plano, que, segundo ele, representa uma “escalada perigosa” e pode agravar “as já catastróficas consequências” para milhões de palestinos que vivem em Gaza.