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São Paulo, 14 de agosto de 2025 – A ação da Raízen despenca no pregão após a divulgação dodesempenho do primeiro trimestre do ano safra 2025-2026, pela companhia, na noite de ontem (13), quetambém reflete o pior desempenho dentro do contexto negativo do setor e maior alavancagem. ARaízen reportou prejuízo de R$ 1,8 bilhão, enquanto a dívida líquida saltou para R$ 49,2bilhões, de R$ 31,6 bilhões um ano antes. Às 15h04, o papel RAIZ4 caía 15,00%, a R$ 1,02 e era aprincipal baixa do Ibovespa.
Para a BB Investimentos, a Raízen apresentou dados negativos no primeiro trimestre do ano safra,refletindo o impacto das queimadas e das dificuldades competitivas no segmento de mobilidade. Mas,considerando o resultado líquido negativo (R$ 1,8 bilhão, ou 14,8% do valor do market cap) e aforte elevação da alavancagem, que saiu de 2,3x no ano anterior para 4,5x, fica cada vez maisclaro que a companhia deve seguir sofrendo com o impacto da expansão das operações e de seuendividamento em um ritmo maior do que sua estrutura de capital poderia suportar em cenários maisadversos, opina a gestora. “Lembrando que esse processo foi iniciado quando havia a perspectivas dejuros menores e um excesso de otimismo com a expansão no etanol de segunda geração (E2G)”,contextualiza.
Em paralelo, a análise da BB-I afirma que o negócio de mobilidade no Brasil vem enfrentando umambiente mais competitivo e margens pressionadas. “No último resultado trimestral, questionamos sea queda nos papéis da empresa já precificava plenamente esse cenário ‘tempestade perfeita’ dasafra 24/25, mas com os dados mais recentes, ficou mais claro que os impactos dos ajustes planejadosdevem demorar um período mais longo, com a atual estrutura de capital ficando ineficiente paragerar valor ao acionista. Diante do cenário, onde entendemos que as premissas que utilizamos paranossa modelagem ficaram defasadas para refletir a situação, colocamos nosso preço-alvo emrevisão.”
Em relação ao desempenho da ação, o BB-I pontua que a Raízen recua 65% nos últimos 12 meses,mais do que seus pares sucroenergéticos (Jalles cai 56% e São Martinho 41% no mesmo período). “Emnossa opinião, respondendo à alavancagem das companhias e ao contexto do setor de maiornecessidade de investimento, tanto em renovação do canavial para compensar desafios climáticos,como em consumo de capital de giro pelo contexto mais desafiador em relação aos preços e demandapor açúcar e etanol. Já na comparação com os pares de distribuição de combustíveis, vemosUltrapar com uma queda de 26% em 12 meses, enquanto Vibra cai 10% no período, sinalizando que asoscilação estão bastante ligadas ao contexto setorial, com a maior alavancagem da Raízen, e aincerteza em relação aos retornos com E2G e a esse processo de turnaround, respondendo pelo piordesempenho relativo do papel”, conclui.
Os analistas da XP Investimentos viram um “trimestre desafiador”, com resultados alinhados à suasestimativas, marcados por aumento da alavancagem devido à substituição de contratos comfornecedores por dívida, elevando o ND/Ebitda (RAIZ) para 4,5x; ganhos de eficiência operacionalque avaliam como não recorrentes; condições climáticas adversas que reduziram os volumes demoagem e limitaram a diluição de custos; e perdas em estoques na distribuição de combustíveisno Brasil, agravadas por uma parada de manutenção mais longa do que o esperado na Argentina. “Acompanhia também mencionou em seu release de resultados que continua avaliando proativamente, juntocom seus acionistas controladores, a possibilidade de um aumento de capital, com as discussõesainda em estágio inicial. Olhando para frente, esperamos uma melhora na distribuição decombustíveis, enquanto a ESB pode enfrentar ventos contrários no açúcar, apesar dos ganhos noetanol um cenário que pode pressionar a companhia a um aumento de capital necessário”, comentou aXP.
O Safra disse que os resultados do 1T26 trouxeram lucros agrícolas mais fracos, mas melhorias deeficiência mostraram um lado positivo. “A Raízen reportou um conjunto fraco de resultadosoperacionais no 1T26 (1T da safra 2025/26), com ebitda ajustado de R$ 1,889 bilhão, abaixo dasnossas estimativas em 14% e com queda de 23% em relação ao ano anterior. A diferença em relaçãoàs nossas estimativas decorre principalmente do fraco desempenho do segmento de Açúcar, Etanol eBioenergia, cujo ebitda abaixo das nossas estimativas em 37% e com queda de 24% em relação ao anoanterior, uma vez que o custo caixa foi impactado negativamente pela menor diluição dos custosfixos. Em um ponto positivo, destacamos que os esforços da Raízen para otimizar sua estruturaorganizacional e disciplinar a alocação de capital já renderam resultados neste trimestre,refletidos em menores despesas com vendas, gerais e administrativas, ganhos de eficiência em seussegmentos e redução de investimentos em capital”, comentam os analistas, citando recomendaçãoOutperform e preço-alvo de R$ 2,90.
Outra perspectiva menos negativa é a do BTG Pactual, que disse que o ebitda 18% menor em relaçãoao ano anterior, de R$ 1,9 bilhão, no entanto, não foi apenas 6% superior às suas expectativas,mas também de melhor qualidade: “algo que não víamos na Raízen há algum tempo: os controles decapex e despesas fizeram uma diferença muito maior do que prevíamos; o balanço patrimonialpermanece enxuto, mas está mais limpo, mais líquido e apresenta menos riscos financeiros denegociação; e a Brazil Fuels superou as expectativas”, disse, em relatório.
O BTG disse que após a divulgação da prévia operacional, não esperava que os resultados daRaízen impressionassem. “O início desafiador da safra de cana-de-açúcar deste ano levando amenores produtividades de cana e maiores custos unitários juntamente com paradas para manutençãona refinaria na Argentina, já indicavam menor lucratividade”, comentaram, ao avaliar que essecenário foi confirmado pelo resultado do ebitda.
Para os próximos meses, o BTG avalia que, diante do atual custo de dívida líquida de R$ 1,6bilhão no trimestre (R$ 6,2 bilhões anualizados), a Raízen precisaacelerar o processo de desalavancagem. “Ajustar o investimento em capital, reduzir a área detrading e desinvestir em ativos não essenciais são medidas positivas, mas não devem sersuficientes”, opina. “Portanto, acolhemos com satisfação a mensagem contida no comunicado queafirma: “A empresa continua avaliando proativamente, em conjunto com seus acionistas controladores,a possibilidade de um potencial aumento de capital. As discussões ainda estão em estágio inicial,sem termos definidos ou certeza de execução”.
O BTG Pactual mantém a recomendação de compra para a Raízen, com preço-alvo de R$ 3,00 para ospróximos 12 meses, pois acredita que, mesmo uma pequena melhora no fluxo de caixa livre (FCF) podegerar uma valorização significativa no preço das ações.
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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