SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Exército de Israel anunciou o avanço de suas tropas para a tomada da Cidade de Gaza, o principal centro urbano do território palestino conflagrado, nesta quarta-feira (20). As forças de Tel Aviv já vinham fazendo movimentos em bairros da cidade na última semana, enquanto o plano para tomar o local estava em fase de aprovação.
“Nós começamos as operações preliminares e os primeiros estágios do ataque. Forças já controlam subúrbios da Cidade de Gaza”, afirmou o porta-voz Effie Defrin, que voltou a chamar o local de baluarte do Hamas.
A ofensiva ocorreu no mesmo dia em que o país anunciou a convocação de cerca de 60 mil reservistas, a partir desta quarta, como parte do plano para tomar a cidade.
A convocação e o anúncio oficial da operação ocorreram ainda enquanto mediadores aguardam a resposta do governo israelense a uma proposta de cessar-fogo já aprovada pelo Hamas.
De acordo com o Exército, as ordens para os reservistas deveriam ocorrer em etapas um primeiro grupo de 40 a 50 mil pessoas teria de se apresentar em 2 de setembro; uma outra parte, em novembro e dezembro; e um terceiro grupo, em fevereiro e em março de 2026. As convocações, porém, foram antecipadas.
O gabinete do premiê Binyamin Netanyahu também anunciou, nesta quarta, ter ordenado a redução dos prazos para que as forças do país assumam o controle dos redutos do Hamas em Gaza. O comunicado não especificou quais seriam essas novas datas.
Em 22 meses de guerra, o Exército israelense tomou quase 75% da Faixa de Gaza. A ocupação da Cidade de Gaza, no entanto, é simbólica por ser aquela onde, antes da guerra, vivia a maior parte dos mais de 2 milhões de habitantes do território, atualmente devastado por bombardeios de Israel.
O plano, que também envolve os campos de deslocados da região, foi aprovado no começo do mês pelo gabinete de segurança de Netanyahu. O objetivo declarado é desarmar o Hamas e libertar os reféns, mesmo sob os alertas de que a operação poderia colocar a vida deles em risco.
Os sequestrados estão sob o poder do grupo terrorista desde os atentados de 7 de outubro de 2023 ao sul de Israel, que mataram cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis. No ataque, o Hamas levou aproximadamente 250 pessoas a Gaza, e a maioria foi libertada nas duas tréguas alcançadas ao longo da guerra. Ainda há, no entanto, 50 reféns no território, dos quais acredita-se que 20 deles estejam vivos.
A ofensiva de Tel Aviv, por sua vez, já matou mais de 62 mil pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, e colapsou o sistema de ajuda humanitária do território. Os dados são considerados confiáveis pela ONU e não podem ser checados de forma independente devido ao bloqueio de Israel à imprensa internacional.
Desde o início da guerra, Israel mantém um cerco a Gaza, que enfrenta um cenário de fome generalizada, segundo as Nações Unidas. O governo israelense rejeita as acusações e afirma ter autorizado a entrada de mais ajuda nas últimas semanas.
Apesar da convocação dos reservistas, o Qatar, mediador do conflito ao lado de Egito e Estados Unidos, mostrou-se otimista com a nova proposta para o estabelecimento de um cessar-fogo, “quase idêntica” a uma versão anterior aceita por Israel. O texto, já aprovado pelo Hamas, prevê uma trégua de 60 dias e a libertação de reféns em duas etapas como antessala para um acordo definitivo para encerrar a guerra.
“Não podemos afirmar que tenha havido um avanço decisivo, mas acreditamos que é um ponto positivo”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Mayed al Ansari.
A proposta é baseada em um plano anterior do enviado americano para a região, Steve Witkoff: a libertação de dez reféns vivos e de corpos de outros 18 em troca de um cessar-fogo de 60 dias, durante os quais ocorreriam negociações para acabar com a guerra, de acordo com a rádio pública israelense Kan.
O Hamas, por sua vez, afirmou que o plano de Tel Aviv para a tomada da Cidade de Gaza demonstra o “desprezo flagrante” de Israel pelos esforços por um cessar-fogo. “[Netanyahu] demonstra que é o verdadeiro obstáculo para qualquer acordo, que não se importa com a vida [dos reféns israelenses] e que não tem a intenção séria de recuperá-los”, escreveu a facção em nota.
Ainda nesta quarta, um plano de assentamento amplamente criticado por atravessar terras palestinas recebeu aprovação final em Israel, de acordo com comunicado do ministro das Finanças israelense e autor do projeto, o extremista Bezalel Smotrich.
O plano consiste em construir mais de 3.400 casas no assentamento de Ma’ale Adumim medida que, se concretizada, dividiria a Cisjordânia e a isolaria de Jerusalém Oriental, territórios palestinos ocupados por Tel Aviv. Nas palavras do gabinete de Smotrich, o projeto enterraria a ideia de um Estado palestino.