Por três dias, capital econômica do mundo é a cidade mais desigual dos Estados Unidos

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Verão é a época mais movimentada do ano em Jackson, cidade de 10.680 habitantes no estado americano de Wyoming. Durante os três meses da estação, esta semana é a mais aguardada de todas.

“Eu adoro saber que podemos ter clientes aqui que estão de férias e se sentam ao lado de pessoas que têm tanto impacto nas políticas econômicas do mundo”, afirma Katie Cooper, gerente da churrascaria Snake River Grill.

Uma delas pode ser Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). Nesta sexta-feira (22), ele sobe ao púlpito no hotel Jackson Lake Lodge para discursar. Pressionado pelas críticas do presidente americano Donald Trump e questionado sobre possível redução das taxas de juros no país, ele deve dar sinais dos rumos da principal economia do mundo.

O cenário será uma das regiões mais caras dos Estados Unidos. E a mais desigual.

O simpósio econômico de Jackson Hole (como o município é mais conhecido, de maneira errada) faz o mundo olhar para a pequena cidade todos os anos. Ela recebe o evento que reúne presidentes de bancos centrais, economistas, empresários, lobistas, políticos e assessores desde 1982.

Se o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, chama muito mais a atenção pela presença de celebridades, Jackson Hoje é o Woodstock da política monetária. O encontro acontece entre esta quinta-feira (21) e sábado (23).

“A melhor coisa do simpósio é promover Jackson Hole como destino turístico. Talvez iniciativas paralelas poderiam mostrar as características únicas dos pequenos negócios e produtos da região. Poderiam também encorajar os visitantes a ajudar os comércios locais”, pede John Frachette, dono da loja de departamentos MADE e de outros três estabelecimentos.

Jackson Hoje, na verdade, é o nome do vale onde está Jackson, no condado de Teton. É destino turístico por causa das montanhas e lagos, no verão, e pela maior precipitação de neve no inverno. Isso a transforma em uma base para a prática de esqui.

“O simpósio é oportunidade única para fazer Jackson ser conhecida no mundo todo”, diz Rick Howe, presidente da Câmara de Comércio de Jackson Hole.

Autoridades falam em benefícios de longo prazo no turismo e de banqueiros que vão ao evento e depois voltam para passar férias. Há também visitas esporádicas de interessados em economia que desejam conhecer a sede da conferência.

O Jackson Lake Lodge informa que o hotel, durante o encontro, está aberto a outros hóspedes. Mas reconhece que os quartos são reservados com meses de antecedência. O aeroporto local tem movimento superior a 30% em relação a outras épocas do ano, por causa da quantidade de pousos e decolagens de jatos privados.

Ranchos mais afastados são reservados para festas e churrascos particulares conectados à reunião. Organizado pela sucursal de Kansas City do Federal Reserve, o simpósio não tem venda de ingressos. Quem comparece é porque foi convidado. Mas eles e elas precisam pagar tudo: hospedagem, passagens aéreas, traslados e alimentação.

São cerca de 150 participantes por ano, mas isso não inclui assessores, equipes de apoio e jornalistas. Injeta no comércio local cerca de US$ 15 milhões (R$ 82,1 milhões). Não se compara ao evento em Davos. Este tem 3.000 participantes. Proporciona cerca de US$ 100 milhões (R$ 547,4 milhões) à economia suíça.

Mas o impacto do que acontece em Jackson Hole é imediato.

Em 2020, Jerome Powell indicou mudança nos rumos da inflação americana. Oito anos antes, o então presidente do Fed, Ben Bemanke, sugeriu que o banco central dos EUA poderia adotar medidas adicionais para impulsionar a economia do país. O mercado interpretou que um novo programa de compra de ativos (o quantitative easing) estava a caminho.

O que Powell vai dizer nesta sexta, porém, não é a preocupação imediata de uma boa parte dos residentes do condado de Teton.

“Morar em Jackson é inviável para a classe trabalhadora, que muitas vezes não consegue fazer o dinheiro chegar até o final do mês”, afirma Sharel Lund, diretora executiva da one22, ONG que distribui cerca de 1.500 refeições por dia para a população local.

Dados do Economic Policy Institute mostram que Teton é a área mais desigual dos Estados Unidos. A renda anual da população 1% mais rica é de US$ 22,5 milhões (R$ 123,1 milhões). A média geral da região é de US$ 94 mil por ano (R$ 514,6 mil).

A minoria mais abastada é responsável por 68,3% da renda de Jackson e demais cidades que a circundam. Os 90% mais pobres ficam com 17,3%.

Trabalhadores do setor hoteleiro relataram para o The Washington Post, há três anos, só conseguirem pagar o aluguel de quartos em que dormiam várias pessoas juntas. No final de 2022, o preço médio de uma casa para uma família de quatro integrantes era de US$ 5 milhões no condado. Isso empurrou a maioria para municípios mais distantes.

O cálculo do governo do Wyoming é que viver em Teton é 68% mais caro do que no restante do estado. O preço dos imóveis é, na média, cerca de 150% maior.

Jackson Hole está no mapa econômico, também, porque banqueiros parecem ter fixação por realizar grandes eventos em cidades pequenas. Davos tem cerca de 11 mil habitantes.

As duas parecem metrópoles se comparadas a Bretton Woods, a área na cidade de Carroll, no estado de New Hampshire, onde foi estabelecido em 1944 o acordo que reorganizou a economia global após a 2ª Guerra Mundial e estabeleceu o dólar como moeda de referência mundial.

Segundo o censo norte-americano de 2020, Carroll tem 820 habitantes.

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