Powell sinaliza corte de juros em setembro e acalma mercados

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São Paulo, 22 de agosto de 2025 – O mercado financeiro global abre a última semana de agosto semaversão ao risco, resultado da tão esperada fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.Após uma semana de incertezas no campo político – principalmente a decisão de Flávio Dino -,Powell falou o que o mercado precisava escutar.

O recado dado é de que os juros americanos devem começar a ser cortados em setembro. No radar dosinvestidores estão o IPCA-15 no Brasil, o PIB americano e o índice PCE nos EUA. Claro, sem sedescuidar do conturbado quadro político no Brasil e dos acordos comerciais de Trump.

No Brasil, apesar de indicadores confirmando desaceleração da economia e inflação moderadamentecontrolada, o mercado teve uma semana nervosa por conta da decisão do ministro Flávio Dino sobre aaplicação de leis estrangeiras no Brasil. Se por um lado, a condução da política monetáriaparece estar alcançando seus objetivos – hoje o mercado já precifica um corte na Selic em dezembro-, o cenário político conturbado traz incertezas.

No exterior, o mercado focou as atenções no esperado discurso do presidente do Federal Reserve,Jerome Powell, no seminário Jackson Hole. A cautela for reforçada pelas negociações conduzidaspelo presidente Donald Trump em busca de paz no conflito na Ucrânia. As falas recentes de membrosdo Federal Reserve foram mais hawkish e colocaram dúvidas sobre o início dos cortes dos jurosamericanos, se iniciará mesmo em setembro.

E Powell falou tudo o que mercado queria escutar, abrindo a porta para cortes de juros por parte doFed. Em seu discurso, ele sinalizou que esse corte já possa vir em setembro. “O equilíbrio deriscos parece estar mudando”, disse Powell. Ele se mostrou preocupado com os números do mercado detrabalho, que indicam desaceleração. “E se esses riscos se materializarem, podem fazê-lorapidamente na forma de demissões muito maiores e aumento do desemprego”, disse Powell. Isso animouos mercados, que passaram a operar em forte alta, os juros dos Treasuries em queda e o FedWatchindicando uma alta probabilidade de cortes de juros em setembro.

Às 14h da sexta, 22, o Ibovespa marcava 137.493 pontos, acumulando valorização de 0,85% nasemana. O dólar comercial estava cotado a R$ 5,4251, com alta semanal de 0,49%. As taxas DIs parajaneiro de 2029 abriram a semana a 13,150% ao ano e encaminhavam encerramento a 13,260%.

Na agenda de indicadores domésticos, destaque na segunda para a atualização da pesquisa Focus,com as projeções do mercado para os principais indicadores da economia brasileira, às 8h25. Naterça, o Banco Central anuncia às 8h30 o resultado do setor externo em em julho. Às 9h, sai oIPCA-15 de agosto. Na quarta, o mercado fica conhecendo, às 8h30, dos dados do setor de crédito emjulho.

Na quinta, atenção para o IGP-M de agosto, logo às 8h, os dados do Caged para o mercado detrabalho, a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) e a arrecadação do Tesouro Nacional emjulho. Fechando a semana na sexta, 8h30, o mercado avaliará as estatísticas fiscais de julho.

Política

A semana foi politicamente agitada e com impacto direto sobre o comportamento do mercado. Adeterminação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as leis internacionais no Brasiltrouxe insegurança ao mercado e causou queda nas ações do setor financeiro, impactando tambémdólar e juros.

Outros pontos merecerem atenção especial dos investidores. Novas denúncias e indiciamento doex-presidente Jair Bolsonaro, pesquisas indicando ascensão do presidente Lula na corridapresidencial, a derrota inesperada da base governista na instalação da CPMI mista do INSS e oavanço do projeto de isenção do imposto de renda para quem ganha menos de R$ 5 mil.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, recentemente sancionado pelogoverno dos Estados Unidos, disse à Reuters que tribunais brasileiros podem punir instituiçõesfinanceiras nacionais que bloquearem ou confiscarem ativos domésticos em resposta a ordensnorte-americanas. As declarações foram dadas em meio a um impasse que derrubaram as ações debancos brasileiros, que ficaram em meio a sanções norte-americanas e ordens do STF. Moraesreconheceu que a atuação da Justiça dos EUA em relação aos bancos brasileiros que têmoperações nos Estados Unidos “é da aplicação da lei norte-americana”.

A indefinição pesou sobre os ativos financeiros. No campo político, o mercado também acompanhacom apreensão a melhora da popularidade do governo Lula e a divisão da direita, em meio àatuação de Eduardo Bolsonaro a favor o tarifaço de Trump. A rejeição ao ex-presidente JairBolsonaro cresce e o nome mais forte neste momento para concorrer com Lula, o governador de SãoPaulo Tarcísio Freitas, evita uma atuação mais incisiva e vê Lula se distanciar em um possívelsegundo turno.

Com a melhora na popularidade e avanço na corrida presencial, o presidente Luiz Inácio Lula daSilva deve manter o discurso da soberania nacional e um acordo sobre as tarifas, mesmo que continuetentando negociar, não parece ser tão urgente. A melhora do governo em pesquisas coincide com acrise diplomática com os Estados Unidos.

No Congresso, o governo enfrentou uma derrota na definição da presidência e relatoria da CPMI doINSSE, mesmo com apoio dos presidentes das casas. O temor é que uma CPMI mais oposicionista atrasea pauta econômica. Em contrapartida, o governo viu avançar o projeto de isenção do IR, comurgência aprovada e com votação a ser acertada para a próxima semana. A base governista esperatambém por evolução na MP do plano de contingência anunciado recentemente.

Internacional

Os mercados financeiros ficaram de olho em dois eventos nesta semana, a ata do FOMC e o discurso deJerome Powell, presidente do FED. No caso da ata, os investidores puderam ver que há sim umadivisão dentro do banco a respeito dos riscos das tarifas sobre o aumento da inflação e a alta nodesemprego, que são os dois lados do mandato do banco.

Entre os membros do Fomc, há os que são mais cautelosos para cortar os juros, por ainda não teremcerteza que existe risco de alta para a inflação. Mas há membros que veem problemas no mercado detrabalho, que, para eles, mostra sinais de que está desaquecido levando em consideração opayroll de julho, que teve um número de criação de vagas abaixo do previsto.

Já Powell abriu a porta para cortes de juros por parte do Fed. Em seu discurso, ele sinalizou queesse corte já possa vir em setembro. “O equilíbrio de riscos parece estar mudando”, disse Powell.Ele se mostrou preocupado com os números do mercado de trabalho, que indicam desaceleração. “E seesses riscos se materializarem, podem fazê-lo rapidamente na forma de demissões muito maiores eaumento do desemprego”, disse Powell. Isso animou os mercados, que passaram a operar em forte alta,os juros dos Treasuries em queda e o FedWatch indicando uma alta probabilidade de cortes de juros emsetembro.

Nos EUA, entre os indicadores mais aguardados da próxima semana, teremos o PCE de julho e a segundaleitura do PIB do segundo trimestre. Além dele, serão divulgados o índice de atividade nacionaldo Fed Chicago, os pedidos de bens duráveis, o S&P Case/Shiller de preços de imóveis, aconfiança do consumidor do Conference Board e a revisada da Universidade de Michigan, as vendas deimóveis novos e as pendentes de imóveis, os estoques de petróleo e os pedidos deseguro-desemprego.

A Alemanha divulga o índice Ifo de confiança do empresário, o Gfk de confiança do consumidor, asvendas no varejo e o índice de preços ao consumidor. A zona do euro divulga a leitura revisada daconfiança do consumidor, e a ata do BCE da reunião dos dias 23 e 24 de julho.

O Japão divulga o índice de preços ao consumidor da capital Tóquio, a taxa de desemprego, aleitura preliminar da produção industrial. A China traz o lucro das empresas e o PMI oficial dossetores industrial e de serviços de agosto.

A OCDE divulga seu relatório trimestral do PIB dos países que pertencem ao bloco, e teremos afinalização da temporada de balanços, com a publicação dos resultados do destaque dainteligência artificial, a Nvidia.

Empresas

A última semana de agosto deve seguir em ritmo de cautela no âmbito corporativo, com osinvestidores acompanhando novos desdobramentos da tensão entre os Estados Unidos e o Brasil nascompanhias. Na última terça-feira (19), cinco bancos perderam R$ 41,98 bilhões em valor demercado, devido ao temor de que as instituições possam ser penalizadas pelos dois países eincertezas relacionadas à aplicação da Lei Magnitsky aos ministros do Supremo Tribunal Federal(STF), servidores federais e demais clientes.

Tudo começou após o ministro do STF, Flávio Dino, determinar a suspensão da aplicação dedecisões judiciais, leis, decretos e ordens executivas por Estados estrangeiros, quando nãoincorporadas ao direito brasileiro ou aprovadas pelos órgãos de soberania previstos naConstituição Federal e na legislação nacional, e que tais decisões judiciais estrangeiras sópoderiam ser executadas no Brasil mediante homologação ou por meio de mecanismos de cooperaçãointernacional.

A medida foi tomada no âmbito da ADPF 1178, proposta pelo Instituto Brasileiro de Mineração(Ibram), que questiona a legalidade de municípios brasileiros ajuizarem ações judiciais noexterior para pleitear indenizações por danos causados no Brasil.

Embora não tenha citado diretamente a Lei Magnitsky, o entendimento abriu brechas para que oministro Alexandre de Moraes recorra ao STF para que não sofra as penalidades das sanções dogoverno americano no Brasil, que lhe foram impostas no fim de julho. Dino afirmou que o Brasil temsido “alvo de diversas sanções e ameaças” e que a decisão se mostrou necessária diante da”imposição de força de algumas nações sobre outras”.

Segundo dados da Elos Ayta Consultoria, o montante perdido pelos bancos em valor de mercado no dia19 de agosto, de R$ 41,98 bilhões, equivale ao valor de mercado da Caixa Seguradora, hoje avaliadaem R$ 40,74 bilhões. Neste pregão, o Ibovespa teve a maior queda em quatro meses até então, de2,1%, aos 134.432,26 pontos, e todas as empresas listadas na B3 acumularam perdas de R$ 88,44bilhões, cifra próxima ao valor de mercado da JBS, atualmente em R$ 87,92 bilhões.

Para a Genial Investimentos, os bancos brasileiros enfrentam um dilema jurídico após a sanção daLei Magnitsky pelos EUA, que aplica punições extraterritoriais, como bloqueio de bens eproibição de transações ao ministro Alexandre de Moraes. “A decisão do ministro Flávio Dino,do STF, de que leis e decisões estrangeiras só têm validade no Brasil se forem homologadas pelaCorte, criou uma encruzilhada para o setor: obedecer à lei brasileira pode implicar desrespeito àssanções dos EUA. Como resposta, várias instituições estão considerando solicitaresclarecimentos ao STF sobre essa convergência de normas.”

“O risco de isolamento internacional, especialmente via acesso ao sistema SWIFT e manutenção decorrespondentes bancários, é real. Apesar de a aplicação efetiva da lei Magnitsky no Brasilainda parecer limitada, o ambiente de incerteza pode elevar o custo de capital e gerar retraçõesem operações internacionais. A pressão para que os bancos tracegem entre soberania jurídica ecompliance internacional é inédita e delicada”, opina a corretora.

Segundo o Valor Econômico, o Banco do Brasil bloqueou um cartão de crédito de bandeira americanado ministro do STF Alexandre de Moraes, em função das sanções impostas pelos EUA com base na LeiMagnitsky. Em substituição, teria sido oferecido um cartão de bandeira que opera exclusivamenteno Brasil. O BB não comentou o caso.

PETROBRAS

O mercado também segue atento aos próximos passos da Petrobras em etanol, após a companhia negarqualquer projeto ou estudo em andamento para investir na Raízen. Em resposta a um ofício enviadopela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre possível volta da companhia ao setor de etanolvia milho, a Petrobras reafirmou que seu Plano de Negócios 2025-2029 prevê investimentos nosegmento de etanol, preferencialmente por meio de parcerias estratégicas minoritárias ou comcontrole compartilhado, com players relevantes do setor, mas que ainda não há definição quantoà matéria-prima a ser utilizada nos projetos.

Os investidores também devem acompanhar a Avaliação Pré-Operacional (APO), no bloco FZA-M-59,localizado na Margem Equatorial, em águas profundas da costa do Amapá. Com início previsto para opróximo domingo (24), a APO é a última etapa do processo de licenciamento ambiental paraperfuração de poço no bloco marítimo, localizado a 175 quilômetros da costa do Amapá edistante mais de 500 quilômetros da foz do rio Amazonas. Durante o exercício, será avaliado peloIbama o atendimento pela Petrobras das ações previstas nos Planos de Proteção e Atendimento àFauna e no Plano de Emergência. Por meio da simulação de uma ação de resposta a um acidente, oórgão avaliará aspectos como a eficiência dos equipamentos, agilidade, cumprimento dos tempos deatendimento à fauna previstos e comunicação com autoridades e partes interessadas.

O exercício envolverá mais de 400 pessoas e contará com recursos logísticos como embarcaçõesde grande porte, helicópteros e a própria sonda de perfuração NS-42, que será posicionada nolocal onde o poço será perfurado. Por meio da APO, a Petrobras será capaz de demonstrar suacapacidade de atuar com prontidão e estará habilitada para receber a licença para perfuração dopoço. Esse procedimento é semelhante ao realizado, em 2023, no offshore do Rio Grande do Norte,antes da licença de perfuração dos poços Pitu Oeste e Anhangá.

Atuaremos nesse simulado com os rigorosos protocolos de segurança e prontidão que praticamos emtodas as atividades da Petrobras. Estamos levando para o Amapá a maior estrutura de resposta aocorrências já mobilizada pela companhia. A confirmação da existência de petróleo na MargemEquatorial poderá abrir uma importante fronteira energética para o país, que se desenvolverá deforma integrada com outras fontes de energia e contribuirá para que o processo de transiçãoenergética ocorra de forma justa, segura e sustentável, afirma a presidente da Petrobras, MagdaChambriard.

Em entrevista à Agência Eixos, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que as partesenvolvidas estão “à beira de um consenso para a perfuração em águas profundas no Amapá”, e queoutros 6 ou 7 blocos na região foram solicitados para licenciamento ambiental ao Ibama. Como nemsempre se acha petróleo na primeira perfuração, é preciso explorar mais, explicou a CEO, naentrevista, e citou a Bacia de Campos, que demandou 9 poços até encontrar petróleo.

Mada Chambriard também comentou que a empresa está comprometida em compartilhar as infraestruturasdo pré-sal com a PPSA (ambas estatais) e viabilizar, assim, o leilão do gás natural da União.Segundo ela, no entanto, a negociação precisa chegar a termos condizentes para todas as partesenvolvidas – incluindo os sócios privados da petroleira nas instalações.

FUSÃO MARFRIG/BRF SEGUE EM ABERTO

A maioria dos conselheiros do Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) votounesta quarta-feira (20) pela aprovação da operação de uniãoda Marfrig com a BRF, mas uma decisão do órgão não foi proclamada diante de um pedido de vista.Outros cinco integrantes do colegiado já defenderam manter a fusão.O pedido de vista foi feito pelo conselheiro Carlos Jacques Vieira Gomes, o penúltimo a votar nestaquarta-feira. Agora, o caso deverá voltar ao tribunal da autarquia em até 60 dias para julgamento,informou o Cade.

Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua, e Vanessa Zampronho / Safras News

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