Aliados de governador de Tocantins debochavam de esquema e faziam foto com dinheiro, segundo a PF

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O núcleo próximo do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), suspeito de desviar recursos de emendas parlamentares por meio de cestas básicas na pandemia da Covid-19, tratava o esquema com deboche, fazia fotos com maços de dinheiro em espécie e elaborava formas de disfarçar entregas fraudulentas, segundo a Polícia Federal.

A operação deflagrada nesta quarta-feira (4) afastou o governador do cargo, com autorização do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Os investigadores afirmam que o Governo do Tocantins foi transformado em um “verdadeiro balcão de negócios”.

O afastamento do governador aconteceu durante a segunda fase da operação Fames-19, que investiga desvios com recursos da pandemia. Em agosto de 2024, Barbosa já havia sido alvo de mandados de busca e apreensão.

Em nota, ele afirmou que jamais teve qualquer participação, direta ou indireta, na aquisição de cestas básicas durante a pandemia.

“As tentativas de vinculá-lo ao caso se apoiam unicamente em falas de terceiros reproduzidas em investigação policial, sem qualquer prova material ou evidência concreta. Trata-se de deduções precipitadas e sem base na realidade”, diz o texto.

Segundo a investigação, os suspeitos envolvidos no esquema de desvio de recursos chegaram a debochar da própria fraude. As irregularidades, ligadas à compra de cestas básicas destinadas ao enfrentamento da pandemia, teriam se concentrado sobretudo entre 2020 e 2021.

De acordo com a Polícia Federal, em conversa sobre a prorrogação do estado de calamidade no Tocantins por causa da pandemia, Paulo César Lustosa Limeira disse ao irmão Wilton Rosa Pires que o governador estava “guloso”, em referência a recursos financeiros: “Cab[r]a tá guloso, rsrsrs”.

Em outro diálogo entre os dois, Pires perguntou ao irmão onde ele estava e, em seguida, afirmou: “Quero te passar uma bênção”, referência, segundo a PF, ao pagamento de propina.

De acordo com a PF, Paulo César Lustosa Limeira é ex-marido de Karynne Sotero Campos, atual esposa do governador, e mantinha “intensa proximidade” tanto com a primeira-dama quanto com o próprio Wanderlei Barbosa.

As investigações indicam que Limeira é suspeito de intermediar negociações de propina ligadas a contratos do governo. Já Pires é apontado pela PF como operador do esquema de desvio de recursos públicos. Os dois foram procurados pela reportagem, mas não se manifestaram.

A Polícia Federal também obteve fotos de pessoas ligadas ao governador com maços de dinheiro, entre elas Marcus Vinícius Santana, filho de Ticiano Darles Santana Sousa, assessor especial do governador. Marcus é suspeito de atuar como operador financeiro do esquema.

De acordo com a investigação, ele era responsável por transferências bancárias e saques em espécie, que depois eram entregues ao pai ou a Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, assessor e sobrinho do governador. Cabia a eles, segundo a PF, repassar os valores ao restante do grupo, inclusive ao próprio governador.

Santana, Sousa e Carvalho foram procurados, mas não se manifestaram.

A PF aponta que os investigados também passaram a cobrar uma lista de nomes e documentos com a intenção de forjar registros e encobrir a não distribuição dos alimentos, com o objetivo de tentar enganar a fiscalização.

Em um diálogo entre Limeira e Pires, uma terceira pessoa, ainda não identificada, solicitou uma lista com 1.500 nomes e CPFs para compor a prestação de contas.

A Polícia Federal também afirma ter identificado o pagamento de R$ 550 mil de suposta propina ao governador, relacionada a um contrato de fornecimento de frangos congelados firmado com a empresa Sabores Regionais. O repasse em espécie teria ocorrido em 14 de novembro de 2021, mas o contrato não foi executado nem quitado pelo governo.

Segundo as investigações, a empresa não tinha condições de cumprir o acordo. Ela entregou apenas 15 mil galinhas leves, em vez dos 50 mil frangos previstos, o que resultou em inexecução contratual.

Diante do impasse, a proprietária passou a cobrar a devolução da quantia paga. Ainda de acordo com a PF, diálogos revelam que a dívida seria compensada com valores desviados de futuras licitações, reforçando a existência do esquema de corrupção. Em 2023, em conversa com uma terceira pessoa, a própria empresária teria confirmado o recebimento da devolução da propina.

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