PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, renunciou ao cargo para evitar uma divisão interna no Partido Liberal Democrata (PLD), do qual faz parte.
O premiê sofria pressão pela renúncia desde julho, quando a legenda perdeu a maioria na Câmara Alta, o equivalente ao Senado no Brasil. O anúncio foi feito em entrevista coletiva neste domingo (7).
“Decidi renunciar na esperança de evitar uma situação em que o partido se dividisse”, declarou Ishiba.
Com a renúncia, o primeiro-ministro deixa também a liderança do partido. Ele afirmou durante o discurso, porém, que seguirá nas suas funções até que um novo representante seja escolhido e que vai instruir o partido a fazer uma eleição emergencial.
O resultado da eleição para a Câmara Alta, decisiva para a sua saída, representou ao partido do premiê, que dominou a política japonesa dos últimos 70 anos, uma de suas piores derrotas eleitorais. No pleito, a oposição conquistou 77 assentos, chegando a 125 de um total de 248 cadeiras.
Na ocasião, horas após o fechamento das urnas ele afirmou à emissora pública NHK que aceitava o “resultado severo”. Quando questionado sobre a permanência como premiê, afastou a possibilidade de renúncia e disse que estava envolvido em “negociações extremamente cruciais” com os EUA. “Não podemos jamais destruir essas negociações”, disse.
Ele se referia às tarifas impostas pelo presidente Donald Trump. A ação do governo de Ishiba surtiu efeito, diminuindo a taxa de 24% para 15%, um valor importante para um país que já estava pressionado pela inflação. No discurso deste domingo, Ishiba citou a negociação como saldo positivo do seu governo.
Além da derrota na Câmara Alta, o pior desempenho do partido nas eleições da Câmara Baixa em 15 anos em outubro do ano passado foi somado à pressão.
Ishiba assumiu o cargo em outubro passado e prometeu combater a inflação, além de reformar o partido. Em junho, porém, o marcador alcançou 3,3% da taxa anual e foi marcado por uma escassez de arroz. A política de migração do premiê também foi criticada.
No poder do Japão quase ininterruptamente desde 1955, o PLD enfrenta agora desafios impostos por novos partidos políticos, especialmente os de direita, que estão minando seu apoio e crescendo em influência e popularidade.
Um deles é o Sanseito, legenda que conquistou 14 assentos na Câmara Alta na eleição que o PLD perdeu a maioria. O partido de direita projetava garantir seis vagas, superando as próprias expectativas. Fundada há cinco anos, a legenda nasce na esteira de vídeos no canal do Youtube do secretário-geral Sohei Kamiya, que chegou a divulgar informações falsas sobre vacinas e Covid-19, além de pregar revisionismo histórico sobre a participação do país na Segunda Guerra Mundial.
É também da agremiação o lema “Japanese First” (japoneses em primeiro), usado para criticar as políticas de Ishiba e cuja criação remete ao slogan “America first” de Trump.
Com a renúncia de Ishiba, o futuro novo líder do PLD enfrentará uma votação no Parlamento para se tornar primeiro-ministro. Como a coalizão governista perdeu a maioria nas duas Câmaras, o presidente do PLD já não tem a garantia de se tornar premiê.
Há uma pequena possibilidade de que um líder da oposição assuma. Veja, abaixo, uma lista de parlamentares que podem entrar na disputa.
DENTRO DO PARTIDO LIBERAL DEMOCRATA (PLD)
– Sanae Takaichi, 64: Se escolhida, seria a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Japão. Veterana do PLD, ocupou vários cargos, incluindo ministra da Segurança Econômica, mas perdeu para Ishiba no segundo turno da eleição de liderança do partido no ano passado.
– Shinjiro Koizumi, 44: Formado pela Universidade Columbia, ele é herdeiro de uma dinastia política com mais de um século de influência no governo japonês. Apresenta-se como um reformista e já foi ministro do Meio Ambiente.
– Yoshimasa Hayashi, 64: Hayashi é chefe de gabinete do governo do Japão desde dezembro de 2023, durante o governo de Fumio Kishida e depois sob Ishiba, cargo crucial que inclui ser o principal porta-voz do governo. Ocupou várias pastas, como Defesa, Relações Exteriores e Agricultura, frequentemente chamado para substituir ministros que renunciaram.
**DA OPOSIÇÃO**
– Yoshihiko Noda, 68: Ex-primeiro-ministro, ele é o líder do maior grupo de oposição, o Partido Democrático Constitucional do Japão.
– Yuichiro Tamaki, 56: Cofundou o Partido Democrático para o Povo, em 2018, que tem sido uma das siglas que mais cresceram nas últimas eleições. É a favor do fortalecimento das capacidades de defesa, de regras mais rígidas para a aquisição de terras por estrangeiros e da construção de mais usinas nucleares.